Não foi propriamente um jogo sofrido, foi, sobretudo um jogo fraco e em que as experiências não resultaram. O resultado foi o que se esperava, qualificação do Benfica para os oitavos-de-final da Taça de Portugal, graças a um triunfo, por 0-2, no Restelo, sobre o Atlético, mas a exibição foi muito pouco conseguida. Objectivo mínimo alcançado, qualificação, mas tudo o que José Mourinho tentou de novo não resultou frente a um adversário da Liga 3 que deixou a I Liga há quase 50 anos.
Terceiro classificado da I Liga, mais de 130 milhões gastos em contratações no Verão, um plantel cheio de internacionais e um treinador que já ganhou títulos em quatro países incluindo duas Ligas dos Campeões. Sétimo classificado da Liga 3 (em dez equipas), provavelmente zero euros em contratações, com um miúdo de 17 anos a titular e um treinador de 29 anos que ganhou um campeonato da 3.ª divisão dos distritais de Lisboa (mais baixo que isto no futebol português, não há).
Há um mundo de diferenças entre o Benfica e o Atlético – e nem sequer falamos da história, muito maior a do Benfica, mais modesta a do clube de Alcântara, que deixou o futebol de primeira há 48 anos e nunca mais voltou. Duas equipas da mesma cidade que nunca chegaram a ser verdadeiramente rivais e que, por uma noite, iriam reencontrar-se no Restelo, 43 anos depois do último confronto – esse jogo, também para a Taça, acabou em 0-6 para o Benfica. Desde o primeiro minuto se percebeu que este reencontro não seria assim.
Mourinho aproveitou o jogo para fazer experiências – três centrais, dois avançados, alguns jogadores da formação – mas com boa parte de jogadores habitualmente titulares, como Pavlidis, Otamendi, Aursnes, entre outros. Achou que estaria em terreno seguro para o fazer porque este Atlético, no seu campeonato, nem a primeira metade da tabela ocupa. E não vamos fingir que sabemos como o Atlético habitualmente joga na Liga 3, mas sabemos como se apresentou para enfrentar o Benfica. Jogou bem, criou perigo, deixou Mourinho a pensar que tudo o que tinha para experimentar não funcionou.
O primeiro remate foi do Atlético, o segundo também, o Benfica só criou perigo depois da meia-hora num canto em que Ivanovic rematou ao lado. Com o omnipresente Catarino Pascoal (o tal miúdo de 17 anos) no meio-campo e o rapidíssimo Délcio a dar problemas no ataque – até um pontapé de bicicleta fez – e na pressão alta, o Benfica era obrigado a jogar com bolas longas e isso era entregar a bola ao Atlético.
Mourinho gostou tanto da primeira parte da sua equipa que, ao intervalo, mudou quatro – saíram João Rêgo, Barrenechea, Ivanovic e Tomás Araújo, entraram Barreiro, Ríos, Dahl e Schjelderup. O Benfica melhorou na pressão e no domínio, mas não na qualidade de execução. O Atlético continuou a mostrar-se competente na defesa, espreitando sempre uma aberta (que existiam), mas os “encarnados” lá conseguiram chegar ao golo de bola parada.
Aos 73’, canto de Aursnes do lado direito do ataque, bola na cabeça de Ríos e 0-1 – primeiro golo do colombiano pelo Benfica. Poucos minutos depois, Barreiro derrubado por Paulinho na área do Atlético, penálti e conversão com sucesso de Pavlidis – o grego já tinha saído quando Otamendi desperdiçou novo penálti na compensação. O resultado estava feito e a vitória estava assegurada, mas este Benfica continua muito cinzento. Próxima paragem, Liga dos Campeões, onde as coisas serão mais difíceis.