Yoan Valat / EPA

Um novo estudo alerta para o facto de estarmos a evoluir demasiado lentamente para o mundo que construímos. O mundo que experienciamos diariamente está a ter um impacto profundo na saúde mental e física enquanto espécie.
À medida que a nossa evolução abranda e a industrialização e a tecnologia aceleram, a biologia humana está a lutar para acompanhar o ritmo.
Como reforça um estudo publicado na semana passada na Biology Reviews, muitos dos problemas de saúde crónicos relacionados com o stress que enfrentamos hoje não são falhas pessoais ou inconvenientes modernos – são o resultado previsível de forçar uma fisiologia da Idade da Pedra a um mundo para o qual nunca foi construída.
Os estudo, levado a cabo por investigadores da University of Zurich, investigou se as mudanças ambientais rápidas e extensas do atual Antropoceno comprometeram a aptidão de Homo sapiens.
Não tivemos tempos de nos adaptar
Sintetizando dados relativos à industrialização e urbanização e à saúde, os investigadores referem que há muitos sinais de que os humanos não tiveram tempo para se adaptar às mudanças rápidas no mundo, no último século.
Taxas decrescentes de fertilidade global, o aumento de condições inflamatórias crónicas e outras tendências crónicas de saúde são sinais/provas de que os humanos “têm andado a lutar na Terra desde a Revolução Industrial”.
A verdade é que o ruído das cidades, poluição do ar e da luz, microplásticos, pesticidas, luz artificial, alimentos processados, estilos de vida sedentários e sobrecarga sensorial são todas experiências novas para H. sapiens.
O alívio foi-se sem darmos conta
Colin Shaw, chefe do grupo de investigação Human Evolutionary EcoPhysiology (HEEP), explicou à New Atlas que “nos nossos ambientes ancestrais, estávamos bem adaptados para lidar com stress agudo para evitar ou confrontar predadores”.
Por exemplo, antes, “o leão aparecia ocasionalmente, e tinhas de estar pronto para te defender ou correr”.
Agora, pelo contrário, obtemos pouco alívio de uma investida de fatores de stress – trânsito, trabalho, redes sociais, estimulação sensorial constante – que desencadeiam as mesmas respostas biológicas ancestrais, exceto sem um interruptor de “desligar” – que acontecia quando o leão desaparecia.
“O nosso corpo reage como se todos estes fatores de stress fossem leões”, explicou Daniel Longman, o outro autor do estudo.
“Quer seja uma discussão difícil com o teu chefe ou o ruído do trânsito, o teu sistema de resposta ao stress continua a ser o mesmo como se estivesses a enfrentar leão após leão. Como resultado, tens uma resposta muito poderosa do teu sistema nervoso, mas sem recuperação”, acrescentou.
Muitos estudos já investigaram como este zumbido constante de stress elevado afeta sistemas endócrinos interligados, o que tem sido associado a perturbações de ansiedade, ao desenvolvimento de doenças crónicas e a uma expectativa de vida reduzida.
“Há um paradoxo em que, por um lado, criámos enorme riqueza, conforto e cuidados de saúde para muitas pessoas no planeta, mas por outro lado, algumas destas conquistas industriais estão a ter efeitos prejudiciais nas nossas funções imunitária, cognitiva, física e reprodutiva”, afirmou Shaw.
“Pode-se argumentar que o que estamos a ver hoje é uma forma de seleção natural, mas deixar que o stress crónico mate pessoas durante centenas de gerações até obtermos resistência não me parece solução“, considera o antropólogo evolutivo.