MDL Victor François / DICOD / Ministère des Armées et des Anciens combattants

O novo chefe do Estado-Maior francês, Fabien Mandon

General francês provoca polémica ao alertar para o risco de “perder filhos” num eventual conflito com a Rússia. Figuras de ambos os extremos do espectro político francês reagiram em força ao que consideraram uma abordagem alarmista do novo líder militar do país.

O apelo veemente do general Fabien Mandon, novo chefe do Estado-Maior francês, aos presidentes de câmara do país, para que preparem os seus munícipes para uma eventual guerra com a Rússia, foi rapidamente condenado pelos principais partidos políticos.

Durante uma reunião anual de autarcas franceses em Paris, na terça-feira, o general  instou os responsáveis locais a alertar os cidadãos para a necessidade de “aceitar o sofrimento, para proteger quem somos”.

“Dispomos de todo o conhecimento, de toda a força económica e demográfica para dissuadir o regime de Moscovo”, afirmou Mandon, citado pelo Politico.

No entanto, advertiu o novo chefe do Estado-Maior, caso a França “não esteja preparada para aceitar perder os seus filhos, para sofrer economicamente porque as prioridades passam para a produção de defesa, corremos um sério risco”.

O presidente da Câmara de Nice, Christian Estrosi, que é também vice-presidente do partido Horizonte, apoiante de Emmanuel Macron, classificou a declaração do general como “chocante“, diz o Channel4.

Partidos de ambos os extremos do espectro político, que representam uma fatia significativa do eleitorado, reagiram negativamente, sublinhando a falta de consenso em França quanto à necessidade de preparar o país para um cenário de guerra, bem como as diferentes avaliações sobre a ameaça que a Rússia representa para o território francês.

Jean-Luc Mélenchon, líder da esquerda radical e candidato presidencial em três ocasiões, manifestou a sua “total discordância” com Mandon numa publicação na rede X, afirmando que não cabe ao general “antecipar sacrifícios decorrentes dos nossos fracassos diplomáticos”.

A Mélenchon juntou-se Fabien Roussel, líder do Partido Comunista, que acusou Mandon de “belicismo”. A França Insubmissa, de Mélenchon, e os comunistas foram os únicos grupos parlamentares a votar contra uma resolução simbólica, no ano passado, que autorizava o envio de ajuda militar à Ucrânia.

Sébastien Chenu, deputado do Reagrupamento Nacional de Marine Le Pen, afirmou esta quarta-feira, em entrevista à estação francesa La Chaîne Info (LCI), que Fabien Mandon “não tem legitimidade” para fazer tais declarações e manifestou preocupação de que estas reflitam o pensamento do presidente Macron.

Mandon, nomeado este ano para substituir o general Thierry Burkhard como chefe do Estado-Maior francês, já tinha avisado, na sua primeira audição parlamentar no mês passado, que as forças armadas francesas deviam estar prontas, “dentro de três ou quatro anos”, para um “choque” no que toca à Rússia.

Muitos países da NATO anteveem a possibilidade de Moscovo atacar a Aliança de alguma forma até 2030. Os aliados ocidentais concordaram com um aumento maciço das despesas com a defesa, atingindo os 5% do PIB até 2035, mas os governos temem que isso signifique cortes impopulares noutras áreas.

A França Insubmissa e o Reagrupamento Nacional, que, segundo as sondagens mais recentes, poderão defrontar-se na segunda volta das próximas presidenciais, defendem ambos a saída da França do comando integrado da NATO.

Enquanto a França Insubmissa pretende que Paris abandone por completo a Aliança Atlântica o mais cedo possível, o Reagrupamento Nacional admite esperar pelo fim da guerra da Rússia na Ucrânia para o fazer.


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