A espanholização do futebol brasileiro é uma das discussões mais recorrentes do país do futebol. Tanto que, há cerca de ano e meio, já se escrevia nesta mesma coluna o seguinte:

«O futebol brasileiro sofre de muitas doenças, o calendário insano e o amadorismo de algumas direções são as mais graves, mas em dois pontos é até mais saudável do que as cinco principais ligas da Europa: na quantidade incomparável de novos talentos que produz e, acima de tudo, no número generosíssimo de clubes grandes, logo, de candidatos ao título que se apresentam a cada edição do Brasileirão

«Esse número generosíssimo, que inclui quatro gigantes de cada um dos dois principais centros, Rio de Janeiro e São Paulo, mais dois de Belo Horizonte, outros dois de Porto Alegre, fora clubes de Curitiba, de Salvador, do Recife e não só que já conquistaram títulos nacionais, é a força motriz do futebol no país do futebol, a vantagem competitiva que o aproxima do potencial económico e geográfico da NBA e dos outros desportos americanos e o distancia das citadas ligas europeias de topo.»

 «Mas alguns observadores, os mais pessimistas, acham que ela já está a ser perdida (…) acreditam que, tal como o Real Madrid e o Barcelona em Espanha, o Palmeiras e o Flamengo ameaçam usurpar as taças todas no Brasil.»

O tema entrou em hibernação, entretanto, porque no ano passado o campeão foi o Botafogo. E, à final da Libertadores, foram o mesmo alvinegro carioca e o Atlético Mineiro. No ano anterior, o Fluminense levantara a taça continental.

Este ano, como está fácil de adivinhar, o tema voltou em força. Flamengo e Palmeiras, desde a jornada passada por esta ordem, correm quase sozinhos pelo Brasileirão; e na final da Liberta, lá estão o Real Madrid e o Barcelona em versão tropical outra vez.

Os números, realmente, assustam um pouco os democratas da bola: mengão e verdão, contando já com a atual, ganharam sete das últimas 10 edições do Brasileirão — só Corinthians, Atlético e Flu romperam a ditadura.

Mas o pesadelo desses democratas expande-se também pelo subcontinente sul-americano todo: mengão e verdão, contando já com a atual, ganharam cinco das últimas sete Libertadores.

Ou seja, domínio de 70% no Brasileirão e de 71,4% na Libertadores.

Além da citada LaLiga, de Real Madrid e Barça, também a Premier League, a Serie A, a Bundesliga e a Ligue 1 lidam com monopólios mais intensos do que o Brasileirão. Mas na Champions, pelo menos, houve seis campeões diferentes nos últimos sete anos.

Palmeiras e Flamengo estão a criar uma espanholização do tamanho de um continente.

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