Há praticamente um ano, a vida de Miguel Figueira, de 29 anos, tomou um rumo que fez com que um projeto guardado há muito tempo na gaveta dos “sonhos” ganhasse vida. A empresa onde trabalhava como software developer faliu em dezembro de 2024 e o jovem tavirense achou que esta “era a altura certa” para pôr o seu projeto em prática. “Pensei que em vez de procurar outro emprego poderia aproveitar esta oportunidade e começar a planear a minha volta ao mundo de bicicleta”, revela ao POSTAL.

Durante vários meses, Miguel dedicou-se a planear esta grande viagem que ainda nem vai a meio. “Estive a ver os pontos de interesse que queria visitar nos vários países, tentando delinear mais ou menos uma rota”, explica, acrescentando ainda que teve também de ver “a questão das fronteiras e dos vistos” nos vários países que pretendia incluir no seu percurso.

Regresso a Tavira marcado para o verão de 2026

A 11 de junho, o jovem algarvio disse adeus à sua terra natal e apanhou o ferry em Vila Real de Santo António para chegar a Espanha, o segundo país da viagem que só deverá terminar no final do próximo verão. Cinco meses após o início desta aventura, Miguel Figueira conversou com o POSTAL a partir de um jardim na cidade de Bukhara, no Uzbequistão. Na véspera tinha feito a maior jornada até à data: um percurso de 257 km.

Num dia em que o plano era sobretudo descansar e desfrutar da cidade, Miguel aproveita para contar que, apesar de estar a fazer a viagem sozinho e ter muito tempo para refletir, o foco é muitas vezes o mesmo. “Estou sempre a pensar onde vou dormir e comer”, assume. Ainda assim, já chegou a fazer algumas partes do caminho acompanhado, onde o tempo para este tipo de pensamentos era mais escasso. “Conheci um rapaz na estrada e tivemos uma semana a pedalar juntos, mas depois cada um tem o seu ritmo e a sua maneira de experienciar uma aventura destas e separámo-nos”, revela.

Foto Miguel Figueira | DR

Já há planos para o futuro

No meio de toda a logística há também tempo para pensar no futuro. “Gostava de pensar num próximo desafio, como um IronMan ou até mesmo umas corridas de BTT, que é o desporto de que mais gosto”, aponta. No entanto, o jovem formado em matemática aplicada e engenharia informática não esquece o seu percurso profissional. “Ao final disto tenho de pensar em arranjar um emprego quando voltar”, destaca entre risos.

Quase a meio da sua viagem à volta do mundo, o plano de Miguel para os próximos dias passa por deixar o Uzebequistão, visitar o sul da China e “fugir do inverno”. Tal como o frio, as saudades de casa também já apertam, mas o facto de saber que vai voltar um dia ajuda o jovem a lidar com o sentimento. “Eu tenho muitas saudades daquele conforto de casa, daquela ideia de ter uma casa de banho limpa, um frigorífico com tudo, pegar numa coisa que eu gosto e sentar-me no sofá a ver Netflix”, partilha. “Essa imagem está-me sempre na cabeça”.

“Tenho uma mãe galinha e ao início não foi muito fácil”

A milhares de quilómetros de Miguel está a sua família, que acompanha a aventura a partir das partilhas que vai fazendo na sua conta de Instagram. Apesar de saber que os pais estão “orgulhosos”, o algarvio reconhece a resistência inicial da família em relação aos planos para esta grande viagem. “Tenho uma mãe galinha e ao início não foi muito fácil porque a minha mãe estava a ignorar isto na esperança de que eu me esquecesse da ideia”, adianta.

Foto Miguel Figueira | DR

Para além das redes sociais, Miguel Figueira também consegue manter o contacto com os pais por telemóvel, já que costuma comprar um pacote de internet e de chamadas sempre que entra num novo país. As chamadas telefónicas não são um problema, mas o mesmo não se pode dizer sobre os métodos de pagamento nos diferentes países. “Normalmente fora das grandes cidades os cartões não funcionam muito bem”, explica. “Quando cheguei ao Uzbequistão não tinha dinheiro nenhum e só havia uma caixa automática”, relata, assumindo que teve muita “sorte” nessa ocasião.

Atravessar fronteiras é outro desafio. “A primeira dificuldade foi a seguir à Geórgia porque o Azerbaijão também tem as fronteiras fechadas, então tinha de ir pela Rússia e pedir um visto trânsito que é demorado, seguindo depois para o norte do Cazaquistão, quando eu queria ir para o Uzbequistão, pelo que tinha de dar uma volta maior”, descreve.

O que é certo é que o tempo passa e Miguel Figueira, aos poucos, vai completando as etapas da sua volta ao mundo de bicicleta. Com a mente focada em viver a experiência, mas também naquele que será o seu futuro, o jovem natural de Tavira diz que vai querer para sempre relembrar que “sair da zona de conforto pode tornar-se mais tranquilo do que as pessoas podem imaginar”.

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