Lusa

A rede envolvia vários funcionários de organismos públicos, que aceleravam de forma fraudulenta a obtenção de autorizações para os imigrantes, que ficavam depois com grandes dívidas aos criminosos.

A Polícia Judiciária (PJ) continua a desmantelar uma vasta rede criminosa que, desde 2022, facilitava a entrada e legalização fraudulenta de milhares de imigrantes em Portugal. O esquema, altamente lucrativo e com ramificações em vários organismos públicos, cobrava entre 15 mil e 20 mil euros por um “pack de legalização”, especialmente a cidadãos do Nepal e do Bangladesh, que tinham maiores dificuldades na obtenção de vistos.

O pacote incluía contratos de trabalho, NIF, NISS, número de utente do SNS, Cartão Europeu de Saúde, abertura de contas bancárias, traduções certificadas e até atestados de residência, refere o Expresso. Para muitos dos imigrantes, o montante era pago de forma faseada através dos salários, deixando-os presos a dívidas aos angariadores.

Na mais recente operação, duas funcionárias de um centro de saúde de Cortegaça, Ovar, foram detidas por atribuírem fraudulentamente mais de 10 mil números de utente. Estão indiciadas por corrupção passiva, auxílio à imigração ilegal e falsidade informática. Segundo o Expresso, uma delas foi recrutada por um membro da rede e a outra aliciada por uma colega, ambas sem aparente dificuldade económica.

Ao todo, a Operação Gambérria já levou à detenção de 16 pessoas e constituiu 26 arguidos, com mais de um milhão de euros apreendidos e dezenas de contas congeladas. Só uma das células, em Coimbra, terá conseguido legalizar 18 mil imigrantes através de falsos NIF, embora ainda não seja claro se estes casos coincidem com os registados em Ovar.

A rede, composta por portugueses e estrangeiros, era liderada a partir de Lisboa por um homem armado e equipado com tecnologia avançada, suspeito de envolvimento em branqueamento de capitais e falsificação. O grupo incluía empresários, advogados e contabilistas que criavam perfis nas redes sociais para aliciar os imigrantes nos países de origem, garantindo depois transporte, alojamento e documentação.

A PJ teme que muitos dos imigrantes já tenham deixado o país, aproveitando a legalização fraudulenta para circular na Europa.


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