A raiva tomou conta dos militares. Numa sessão parlamentar no Knesset em setembro deste ano, os veteranos abriram um saco de medicamentos e atiraram-nos para o chão em plena sessão parlamentar. Houve gritos de indignação no Parlamento de Israel: “Há cinco anos, alertávamos para os suicídios. Não fizeram nada! Não fizeram nada!”. Foi uma demonstração pública de um problema que assola cada vez mais israelitas: os problemas mentais que muitos sofrem após terem vindo de cenários de guerra.

Ao ouvi-los, Michal Woldiger, a deputada que liderava a sessão, tentou acalmar os veteranos: “Queremos tentar ajudar-vos”. Mas a parlamentar do partido Nacional Religioso (ultraortodoxo e o mesmo do ministro das Finanças, Bezalel Smotrich) admitiu: “Infelizmente, temos assistido a um aumento acentuado no número de pedidos de ajuda, do sentimento de angústia e no número de suicídios, quer na sociedade civil, quer entre aqueles que servem nas Forças de Defesa de Israel [IDF, sigla em inglês]”.

Ainda que permaneçam alguns militares israelitas na Faixa de Gaza, a guerra contra o Hamas parece ter terminado. O cessar-fogo em vigor continua tremido, mas não foi quebrado. Muitos soldados das IDF estão agora a regressar a Israel. E muitos estão a ter problemas a ajustar-se à vida normal. Este processo, de resto, não é propriamente novo com o revezamento que foi havendo ao longo de quase dois anos de guerra.

Ansiedade, dificuldade em dormir e flashbacks de cenas de guerra. Parte dos soldados que estiveram na Faixa de Gaza relatam um verdadeiro inferno no regresso a Israel e à vida normal. No meio de uma guerrilha urbana com várias dificuldades no teatro de operações, os militares estavam em situações limite. Alguns recordam o número de palestinianos, incluindo civis, que mataram na Faixa de Gaza. Na imprensa israelita e internacional multiplicam-se os relatos aterradores da vida no enclave.

Ao jornal Hareetz, Benny, um sniper de uma brigada no norte de Gaza que tinha a tarefa de vigiar a ajuda humanitária que entrava no enclave, contou que podia matar civis que tentassem reclamar bens que não lhes pertenciam. Era até forçado a abatê-los: “O comandante do batalhão gritava pela rádio: ‘Por que é que não está a abater? É perigoso’. A sensação é que nós estamos a ser colocados numa situação impossível e que ninguém nos preparou para isso. Os oficiais não queriam saber se crianças morriam, nem o que isso fazia à minha alma. Para eles, era apenas mais uma ferramenta”.