O povo das águas azul-esverdeadas. A sua aldeia abriga a igreja mais remota dos EUA e é também curiosamente o único local dos EUA com sistema de entregas com mula.
Entre as onze nações nativas com ligações históricas ao território que rodeia o Grand Canyon National Park, os Havasupai são hoje a única tribo que ainda vive, mil anos depois, no interior do colosso geológico que é o famoso Grand Canyon, Arizona, EUA.
Muito antes da chegada dos colonizadores europeus já o grupo indígena se batizava Havasu’baaja (“povo das águas azul-esverdeadas”), em homenagem ao Havasu Creek, o curso de água que atravessa a reserva indígena e que forma cascatas e piscinas com estas cores.

Cascata de Havasu
Estilo de vida
Originalmente semi-nómadas, os Havasupai seguiam um ciclo sazonal. Durante o inverno, a comunidade deslocava-se para as zonas altas de pinhal acima do Canyon, onde caçava, recolhia plantas silvestres, frutos e sementes e trocava. No verão, desciam para o interior do vale para cultivar milho, feijão, melão e abóbora em campos irrigados, de acordo com o site oficial da tribo.
As habitações também variavam conforme a estação: no Canyon usavam estruturas simples de ramos e barro e nas zonas altas faziam abrigos mais ligeiros.
A língua Havasupai integra a família Yuman, pertencente ao grupo linguístico Hokan. No domínio espiritual, muitos habitantes de Supai (a aldeia principal, no fundo do vale, hoje habitada por cerca de 200 pessoas) seguem hoje a Havasupai Bible Church, considerada a igreja mais remota dos EUA. Mas as crenças tradicionais baseavam-se no xamanismo, nos sonhos e nos espíritos, com uma forte convicção num mundo pós-vida onde a alma viajava para um reino celeste sob uma grande abóbada.
Expulsos e ameaçados pelas minas
Com a criação do Grand Canyon National Park em 1919, os Havasupai foram confinados a uma pequena área no fundo do Canyon.
“O meu povo ficou impedido de estar nesta área”, denuncia Coleen Kaska, ex-membro do conselho tribal Havasupai.
Deixaram de poder aceder às terras ancestrais do planalto que sustentavam o seu ciclo anual de sobrevivência. Só na década de 1970 o governo norte-americano devolveu cerca de 101 mil hectares à tribo, reconhecendo parte dos seus direitos históricos.
No entanto, foram surgindo outras ameaças. Em 2024, segundo a revista Science, teve início o transporte de minério de urânio extraído de uma mina contestada a sul do parque. Os Havasupai, com o apoio de outras nações nativas, denunciam o risco de profanação de locais sagrados e temem que a atividade mineira ponha em causa a própria continuidade da comunidade que, nas palavras do seu conselho tribal, considera o Canyon a sua casa ancestral e espiritual.
Difícil de aceder
Hoje é possível visitar Supai, mas para chegar até lá, tem de se o fazer sem estradas: se não se tiver helicóptero, é preciso caminhar cerca de 13 quilómetros.
Todos os visitantes necessitam de autorização prévia e a maioria opta por acampar numa zona a mais de 3 quilómetros da aldeia. Ainda assim, a aldeia continua a ser servida pelos correios norte-americanos: a correspondência chega com a ajuda de… mulas, como se pode ver aqui.