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A Torre Eiffel de Tianducheng, perto de Guangzhou, China.

E quando a China construiu uma cópia de Paris e falhou (redondamente)? Feita para 10 mil habitantes, Tianducheng, a Cidade Luz da China, é uma cidade-fantasma, mas tudo pode estar a mudar.

A Torre Eiffel fica em Paris, França. Toda a gente sabe disso. Mas nos arredores de Hangzhou, há outra, com mais de 100 metros de altura.

Tianducheng não rouba só a Torre Eiffel à Cidade Luz: é todo um projeto residencial de luxo, que nasceu em 2007 com o objetivo de copiar completamente a capital francesa.

Houve um problema: a província de Zhejiang tudo levou de Paris, mas deixou o charme, elegância e estética romântica para trás. Não convenceu praticamente ninguém a ir para lá morar e é considerada desde então uma cidade-fantasma.

O empreendimento, desenvolvido pela Zhejiang Guangsha, esperava acolher mais de 10 mil moradores e recriar com pormenor cénico o ambiente parisiense do século XIX. A avenida central replica a lógica do Champs-Élysées, as fachadas evocam o estilo da renovação do Segundo Império e as praças são ornamentadas com fontes barrocas, ruas arborizadas e varandas em ferro forjado. O resultado é uma espécie de cenário europeu transplantado para a periferia de Hangzhou. Mas à grandiosidade arquitetónica faltou sempre o essencial: pessoas.

Nos primeiros anos, Tianducheng era promovido para a classe média em ascensão.  O conceito estava alinhado com uma tendência que então dominava o mercado imobiliário chinês: o desenvolvimento de bairros temáticos inspirados em modelos estrangeiros. Surgiram aldeias alpinas austríacas, pequenas “Holandas” com moinhos e canais, ou o famoso Thames Town, construído perto de Xangai com pubs e igrejas que imitavam o estilo britânico. Mas poucos foram tão ambiciosos à imitação como Tianducheng.

O tempo mostrou que a estética não basta para garantir vida urbana. A localização era um dos principais obstáculos. Implantado numa zona afastada dos centros comerciais e das principais ligações de transporte, o bairro estava fisicamente isolado. Faltavam escolas, serviços, comércio e oportunidades de emprego.

Os apartamentos, apesar de caros, não tinham condições razoáveis que justificassem o investimento. Os primeiros moradores que chegaram queixavam-se da conectividade fraca, dos longos trajetos pendulares e da sensação desconfortável de viver numa cidade que parecia vazia.

À medida que vários edifícios permaneciam desocupados ou inacabados, Tianducheng ganhou má reputação. Nas redes sociais e blogs de viagens começaram a circular imagens das ruas silenciosas e da Torre Eiffel solitária.

Rapidamente, o bairro passou a integrar a lista das chamadas “cidades-fantasma” chinesas, juntamente com outros projetos urbanos que nunca atingiram a população prevista. O caso mais conhecido é Ordos, na Mongólia Interior, mas Tianducheng destacava-se pela estranheza: uma Paris quase perfeita, mas sem parisienses, ou chineses.

Nos últimos anos, a expansão urbana de Hangzhou aproximou-se de Tianducheng e novas obras foram retomadas e até o metro chegou lá, nota o Tripzilla. Hoje já existem escolas, parques e lojas na zona envolvente, e o número de residentes tem vindo a aumentar lentamente.

Mas o centro mantém o ambiente peculiar que o tornou famoso: ruas impecavelmente limpas, mas pouco movimentadas, edifícios impecáveis, mas subutilizados, um silêncio permanente interrompido pelos ‘shutters’ das máquinas fotográficas dos mais curiosos ou dos que fotografam casais que não conseguiram ir a Paris para a sessão de casamento.

Talvez seja o melhor local para visitar se se quiser evitar ter síndrome de Paris.


Tomás Guimarães, ZAP //


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