
José Mourinho, treinador do Benfica desde setembro, quando substituiu Bruno Lage – Foto: Imago
José Mourinho, treinador do Benfica desde setembro, quando substituiu Bruno Lage – Foto: Imago
O VAR continua na mira do técnico do Benfica e agora até os jogadores são visados. Enquanto isso, os encarnados jogam poucochinho e não tarda vai pedir-se o livro de reclamações. ‘Hat trick’ é o espaço de opinião semanal do jornalista Paulo Cunha
Duas semanas depois do empate frustrante a dois na receção ao Casa Pia, o tema continua a regressar como um boomerang às conferências de imprensa do Benfica, tal como aconteceu na de antevisão ao duelo da Taça de Portugal diante do Atlético. O penálti mal assinalado por Gustavo Correia a punir mão na bola de António Silva, que entretanto resultou em autogolo de Tomás Araújo após Trubin ter defendido remate de Cassiano dos 11 metros, marcou o jogo e acentuou discussão pública que se prolonga.
José Mourinho tem razão ao afirmar que custa compreender como um erro tão evidente não mereceu intervenção do VAR. A tecnologia existe precisamente para corrigir imprecisões humanas daquela dimensão. Quando falha assim, descredibiliza-se aquela que é, salvo melhor opinião, uma ferramenta indispensável à verdade desportiva que não deve ser colocada em causa.
Nesta saga, porém, há outro enredo. Mourinho insiste no episódio como quem utiliza uma cortina de fumo para esconder o essencial. É uma manobra clássica no mestre dos mind games — levantar poeira para que ninguém repare no chão irregular. E hoje o chão que o Benfica pisa não é o mais firme. Desde que substituiu Bruno Lage, a equipa tem ficado repetidas vezes aquém do que o plantel — e o orçamento — que tanto elogiou justificaria.
Não é que o special one esteja a mentir, apenas está a escolher o tema que mais lhe interessa que faça a atualidade. Enquanto o VAR — e desde sexta-feira ao fim da noite a incompetência dos jogadores que lhe fizeram ter vontade de trocar nove ao intervalo contra o histórico de Alcântara — anda nas bocas do mundo, pode ser que passem despercebidas a falta de qualidade ofensiva, a quantidade de pontos perdidos em jogos teoricamente acessíveis ou o facto de os encarnados ainda não mostrarem a identidade forte que se esperava com a chicotada psicológica. O encontro disputado no Estádio do Restelo é a prova mais recente de que o Benfica não evoluiu desde a saída de Bruno Lage, em setembro.
O barulho em torno do erro de arbitragem é conveniente, nada como empurrar a responsabilidade para os sacos de pancada que sempre foram os árbitros.
A metáfora que José Mourinho desencantou a propósito do mercado de transferências de janeiro até encaixa com alguma ironia nesta história de poucas luzes e bastantes sombras.
«O único mercado que eu conheço e que está aberto amanhã é o Mercado do Livramento, em Setúbal», disse, na quinta-feira, destacando os «bons legumes, boa fruta e gente simpática». Tudo verdade mas, em qualquer mercado, à semelhança do que se pode constatar igualmente em conferências de imprensa do treinador das águias, também há quem venda banha da cobra. E já se começa a pedir o livro de reclamações na Luz…
Siga o perfil de A BOLA no Google