Um estudo revela que a proteína C-reativa tem utilidade limitada para diagnosticar sépsis de início precoce em recém-nascidos de termo, mas pode ser mais útil em prematuros, segundo uma análise de Hong Kong
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Um amplo estudo de coorte, realizado a partir dos registos de saúde de todos os hospitais públicos de Hong Kong, trouxe novos dados sobre a utilidade da proteína C-reativa (PCR) no diagnóstico da sépsis de início precoce em recém-nascidos. A investigação, que analisou mais de cem mil neonatos entre 2006 e 2017, concluiu que a fiabilidade deste biomarcador varia significativamente com a idade gestacional, sendo o seu desempenho modesto nos bebés que nascem a termo.
Liderada por Hugh Simon Lam, da Universidade Chinesa de Hong Kong, a equipa descobriu que os níveis de PCR sobem fisiologicamente nas primeiras horas de vida, atingindo um pico cerca de um dia após o parto. Este aumento é particularmente expressivo nos recém-nascidos de termo, o que complica a interpretação de um valor elevado, pois pode não significar infeção mas sim uma resposta natural ao stress do nascimento. “Os nossos resultados são os primeiros a avaliar, em contexto populacional real, a flutuação dos níveis de PCR para identificar a sépsis”, referiu o investigador.
O trabalho, publicado na Pediatric Investigation, demonstra que o teste tem uma acuidade diagnóstica mais relevante em prematuros. Para os bebés nascidos antes das 34 semanas de gestação, um valor de PCR superior a 8,0 mg/L, medido após as primeiras quatro horas de vida, mostrou-se um indicador robusto de infeção. Contudo, essa precisão não se verificou nos recém-nascidos de termo, nos quais o teste apresentou baixa sensibilidade e especificidade, aumentando o risco de falsos negativos e de tratamentos desnecessários com antibióticos.
A análise explorou ainda a relação entre a PCR e a meningite de início precoce, uma condição grave ainda que rara. Verificou-se que uma concentração superior a 12,0 mg/L foi o melhor preditor para este risco, com uma elevada especificidade. Um valor baixo de PCR, por outro lado, mostrou ter um forte valor preditivo negativo, podendo ser clinicamente útil para excluir a doença.
As conclusões sublinham a necessidade de contextualizar a leitura dos resultados da PCR, tendo em conta não apenas a idade gestacional, mas também o momento exato em que a amostra foi colhida após o nascimento. A utilização de um ponto de corte universal para todos os neonatos parece inadequada. “A PCR não é um biomarcador perfeito, mas pode ajudar na avaliação do risco em prematuros e orientar a decisão de prosseguir com mais exames para a meningite”, acrescentou Lam.
O estudo alerta para os perigos de uma dependência excessiva deste teste, que pode conduzir a um sobrediagnóstico e à exposição desnecessária a antibióticos, especialmente nos recém-nascidos de termo, cujos níveis de PCR podem estar elevados por razões não infecciosas. A interpretação da proteína C-reativa deve, portanto, ser sempre integrada com outros sinais clínicos e fatores de risco. Enquanto não surgirem biomarcadores mais rápidos e precisos, a PCR mantém o seu lugar como uma ferramenta acessível, mas com limitações que importa reconhecer.
Referência Bibliográfica:
Lam, H. S. et al. The utility of C-reactive protein in neonatal early-onset sepsis screening: A territory-wide cohort analysis. Pediatric Investigation (2025). DOI: 10.1002/ped4.70025
NR/HN/AlphaGalileo
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