Às vezes acontece, uma equipa que vem das profundezas dos escalões secundários fazer perguntas que uma equipa de uma divisão de topo não sabe responder – que o diga, por exemplo, Ruben Amorim e o Manchester United, que estiveram do lado errado de uma eliminação humilhante frente a uma equipa da quarta divisão em Agosto passado, em Inglaterra. Às vezes, essas equipas agigantam-se, as outras apequenam-se e acontece Taça. O Sporting já esteve do lado errado de algumas dessas histórias, mas não se deixou apanhar pela armadilha das facilidades, ao bater facilmente em Alvalade o Marinhense, do Campeonato de Portugal, por 3-0, para ganhar acesso aos oitavos-de-final da Taça de Portugal.
A equipa da Marinha Grande, apenas 12.º classificado da sua série no quarto escalão, tinha uma missão impossível em Alvalade, a de bater o bicampeão nacional, e com um treinador que teve pouco tempo para trabalhar – Renato Sousa, treinador dos sub-19, teve da avançar para o banco porque Rui Sacramento foi afastado por questões disciplinares. Nestas condições, restava ao Marinhense ser digno. E o Sporting, que se apresentava numa versão muito alternativa, tinha de ser profissional.
Dos “onze” que Rui Borges escolheu para este jogo da Taça, apenas um se poderia considerar titular indiscutível dos “leões”, Francisco Trincão – de resto, da baliza até ao ataque, um grupo de segundas linhas com dois jogadores da equipa B, Salvador Blopa e Rodrigo Ribeiro. Mesmo com esta equipa alternativa, o Sporting tinha obrigação de resolver cedo esta eliminatória frente a este adversário do quarto escalão que tinha pela frente e que iria sonhar com um brilharete em Alvalade enquanto não sofresse o primeiro golo.
E, diga-se, o Marinhense foi muito solidário no seu esforço defensivo durante meia-hora, mantendo as linhas bem fechadas no último terço do terreno. Já o Sporting, não foi propriamente passivo no seu esforço ofensivo, mas também não foi tão dinâmico como podia ser. Alisson, pela esquerda, e Blopa, pela direita, procuravam sempre a largura para poder servir o ponta-de-lança Ribeiro, e criaram algumas situações de desequilíbrio nas alas, mas havia muitas pernas na área do Marinhense para atrapalhar. E o corpulento Framelin ocupava bem a baliza.
O Sporting levou meia-hora a encontrar o caminho do golo. Aos 29’, Kochorashvili meteu em Blopa, o jovem extremo fez o cruzamento e Trincão cabeceou para o 1-0. Grande cabeceamento do 17 do Sporting, mas também um cruzamento bem calibrado de Blopa, a deixar de novo a sua marca na equipa principal, ele que já tinha marcado dois num jogo da Taça da Liga com o Alverca. Era um desenvolvimento natural para o que o jogo estava a mostrar – só o Sporting estava a atacar.
Pouco depois, aos 38’, o segundo golo “leonino”. Um passe vertical de Eduardo Quaresma encontrou Trincão entre as linhas defensivas do Marinhense e ele aproveitou para aplicar o seu pé esquerdo na bola – esta viajou sem interferência até à baliza de Framelin. Já estava escrita a história do jogo, não iria haver qualquer surpresa. Até ao final da primeira parte, o Sporting cheirou várias vezes o terceiro golo, o Marinhense teve um remate com algum perigo aos 47’, Matias a obrigar Virgínia a defesa atenta.
A segunda parte foi quase para passar o tempo, o Sporting a baixar a sua intensidade, o Marinhense a manter a sua dignidade em alta. Na meia-hora seguinte, o melhor momento não envolveu qualquer golo, mas uma substituição nos visitantes. Um dos maiores aplausos da noite foi para Gonçalo Batalha, no momento em que ia sair de campo. É que o capitão do Marinhense esteve 13 anos na formação do Sporting e foi capitão dos “leões” em todos os escalões, mas nunca jogou na primeira equipa e nunca tinha jogado em Alvalade. E Batalha retribuiu o aplauso que estava a receber pela primeira vez de um estádio que costuma visitar como adepto.
Para o final, ainda ficou mais um golo, de Suárez aos 81’, uma finalização à boca da baliza após cruzamento de Quenda, para ser um pouco mais de acordo com o que se viu em campo, neste cruzamento entre mundos diferentes de futebol. Agora, cada um segue o seu caminho, o Sporting terá a Liga dos Campeões na quarta-feira, o Marinhense vai continuar a sua luta no Campeonato de Portugal.