O vereador municipal José Duarte d’Almeida rejeitou o convite de João Maria Jonet para integrar as listas da candidatura do independente à Câmara Municipal de Cascais. O comentador de 27 anos propôs a liderança da lista à freguesia de São Domingos de Rana ao vereador que faz parte do executivo municipal de Carlos Carreiras. Ao Observador, Jonet confirma que apresentou a proposta em causa e revela que José Duarte d’Almeida mostrou interesse na mesma, acrescentado que este identificou o receio de perder o salário de vereador como “principal entrave” para a aceitar o convite — ideia que Duarte d’Almeida nem sequer comenta.

José Duarte d’Almeida conta ao Observador que “foi abordado pelo próprio João Maria Jonet” para ser candidato à presidência da junta da segunda maior freguesia de Cascais — convite que atribui ao facto de “ser uma referência popular na política de proximidade no concelho, mas com particular impacto em São Domingos de Rana”. O vereador “Zeca Duarte”, como diz ser popularmente conhecido, rejeitou o convite por considerar que Nuno Piteira Lopes “se revela o candidato melhor preparado para liderar o futuro de Cascais”.

Apesar de ser independente, o vereador responsável pelos pelouros da Cidadania, Participação e Voluntariado assinala que a decisão é também reflexo do respeito que tem pelo “compromisso assumido no mandato vigente com Carlos Carreiras” e com o “pacto assumido” com Piteira Lopes — o candidato do PSD à sucessão na liderança da autarquia. “Jonet fica assim sem um elemento essencial nesta campanha e terá de encontrar outro candidato ao lugar, na certeza de não ser tão forte quanto o Zeca Duarte”, acrescenta.

Por sua vez, João Maria Jonet confirma ao Observador que propôs o lugar em questão a José Duarte d’Almeida, mas afirma que a iniciativa de recrutar o atual vereador municipal para as listas do “Cascais para Viver” não partiu de si. “Havia gente do nosso movimento em São Domingos de Rana que achava boa ideia. Falaram com ele e ele mostrou interesse. Depois puseram-nos em contacto e ele pareceu-me pronto para o desafio de liderar um projeto vencedor e alinhado connosco nas críticas ao atual executivo e à sua tentativa de continuidade”, diz o candidato independente.

De acordo com Jonet, José Duarte d’Almeida “mostrou-se interessado” em liderar a lista à junta de freguesia em causa e “pediu 15 dias para pensar”. Durante as conversações, o vereador municipal assumiu, segundo o comentador, que “perder a remuneração que os atuais pelouros lhe conferem” era o “principal entrave” para aceitar o convite. “Eu respondi que só queria quem estivesse empenhado e que não me parecia dramático”, diz Jonet, que apenas recebeu a confirmação da nega do vereador esta segunda-feira de manhã. “Tenho pena que as pessoas não se aguentem sem fazer tricas de jornal, mas é a vida. Seguimos com o nosso plano original, que só mudou porque os protagonistas no terreno acharam que seria boa ideia”, conclui.

No entanto, José Duarte d’Almeida deverá mesmo deixar de auferir o salário de vereador municipal, sendo que foi colocado em lugar inelegível (11º) na lista da coligação Viva Cascais para as próximas autárquicas. O plano é que, em caso de vitória, o atual vereador continue a trabalhar com um futuro executivo municipal do PSD/CDS. D’Almeida avança ao Observador que, nesse cenário, vai “dar continuidade ao trabalho efetuado ao nível do associativismo, num projeto inovador nessa área, planeado pelo candidato Nuno Piteira Lopes”. Assim, José Duarte d’Almeida reafirma que “dará todo o apoio necessário ao candidato e à Coligação Viva Cascais”.

Quanto ao alegado entrave financeiro para aceitar a proposta de Jonet diz que “como independente e defensor de uma democracia que escuta, acolhe, inclui e que se respeita” opta “por não enveredar pelo caminho do diz que disse”. José Duarte d’Almeida diz ainda ao Observador que está disponível para a corrida à Junta de Freguesia de São Domingos de Rana, mas apenas para as autárquicas de 2029. O vereador espera, até lá, “solidificar as relações e dar continuidade ao trabalho de comunidade que tem feito com a associação de moradores da qual é presidente”.

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João Maria Jonet, revelou em entrevista ao Observador, que farão parte do seu movimento autárquico independente pessoas com ligações a antigos executivos municipais sociais-democratas. “Posso dar essa garantia de que terei pessoas que já participaram em executivos camarários anteriores do PSD em Cascais”, afirmou, remetendo o anúncio dos respetivos nomes para o futuro.

“Acho que com 27 anos dizer que vou governar a terceira câmara mais rica do país com um orçamento de 400 milhões […] não é o ideal e, por isso, é que vou procurar ter uma lista que reforça essa capacidade de gestão e essa experiência camarária e tenho nomes para isso que não vou anunciar já”, disse na quinta-feira passada.

O candidato independente explicou que decidiu avançar com a candidatura à presidência do terceiro maior município do país, após ter sido desafiado por pessoas ligadas ao PSD. Jonet assumiu que foi “um bocadinho até empurrado” para a candidatura, após não ter conseguido convencer personalidades sociais-democratas como Ricardo Batista Leite ou Joana Balsemão, que considera que poderiam fazer uma “renovação interna” do partido em Cascais, a candidatar-se.

“As pessoas disseram ‘estás a tentar convencer-nos tanto, porque é que não vais tu?’ E eu, apesar de ter este pé atrás e de ter achado a ideia estapafúrdia ao início, foi-se montando uma coisa que faz sentido, uma equipa que faz sentido e que era preciso haver uma alternativa porque em Cascais essa alternativa não existe.”

Na entrevista ao Observador, João Maria Jonet revelou ainda que falou sobre possíveis apoios para a sua candidatura autárquica com “todos os partidos do arco democrático — às vezes, a convite deles; outras por desafio meu”. O comentador disse que, tanto no caso da Iniciativa Liberal como no do PS, “o aparelho [partidário] acabou por se sobrepor ao interesse de fazer uma construção alternativa à Cascais”.

Jonet revelou que a IL lhe disse que considerava existir um potencial vencedor na sua candidatura à Câmara de Cascais. “A IL dizia ‘nós não sentimos que conseguimos fazer uma alternativa vencedora, precisamos saber se a tua é e se a nossa militância estaria aberta a isso’”, afirmou.

Em declarações enviadas ao Observador, os liberais afastaram-se da versão do comentador, deixando claro que foi João Maria Jonet que procurou o partido e insistiu para que houvesse um apoio. A IL assegura que não quis o comentador como candidato autárquico por não lhe “reconhecer a idoneidade necessária e por não representar as ideias liberais”, algo que terá comunicado ao independente “desde o primeiro momento”. Os liberais asseguraram que Jonet lhes propôs com lugares e levantaram dúvidas sobre o orçamento eleitoral do candidato independente e a origem do mesmo.

Em reação nas redes sociais, Jonet acusou a IL fazer “um desmentido longe da realidade dos factos”. De acordo o independente, a Iniciativa Liberal “recebeu uma mensagem sobre lugares em listas porque puxou o tema. E como na sondagem que lhes enviei aparecíamos mais fortes juntos, aquilo que referi foi que juntos conseguiríamos eleger mais vereadores e deputados municipais (uma evidência que não tem problema nenhum)”. O comentador alertou ainda os liberais por considerar que estes vão “seguindo o caminho de se tornar um apêndice do PSD” e revela que a sua candidatura “terá um orçamento a rondar 1/10 do valor inicialmente previsto (para uma lista conjunta)”.

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“Convence lá o teu partido a apoiar-me.” IL assegura que foi Jonet que pediu apoio dos liberais e ofereceu lugares elegíveis