O peso de lares sem acesso a televisão paga (5,4%) é cada vez mais diminuto em Portugal continental. 97,8% dos portugueses reside em lares com acesso a mais do que aos sete canais em sinal aberto.
Esta é uma das conclusões do estudo, encomendado à GfK/CAEM pelo M&P, com os dados comparativos das quotas da televisão linear e do cabo, entre 2016 e 2025.
Em nove anos, a televisão linear perdeu 17 pontos percentuais e, hoje, lares residenciais com acesso apenas a sete canais de sinal aberto são pouco mais de 200 mil.
De acordo com o que a Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM) já tinha avançado em setembro, 92 em cada cem famílias em Portugal subscrevem serviços de televisão, segundo números referentes ao segundo trimestre de 2025.
“Talvez a qualidade e acessibilidade de serviço, em que a fibra ótica representa 68,2%, conjugada com a oferta comercial de pacotes triplo, quádruplo e quíntuplo ‘play’ com valores relativamente estáveis, de há uns anos a esta parte, contribua para esta conversão do mercado residencial à subscrição de televisão”, refere Cláudia Marques, coordenadora comercial de medição de media da GfK/CAEM.

Cláudia Marques, da GfK/CAEM, defende que a qualidade e acessibilidade do serviço por subscrição estará a contribuir para o crescimento
A capacidade de atrair públicos
O crescimento do tempo dedicado aos canais temáticos e a diminuição dos generalistas pode dever-se ainda à “estreia de novos canais, e consolidação de outros, com conteúdos, linguagens e identidades distintas dos FTA [canal aberto], que têm tido a capacidade para atrair públicos”, acrescenta Cláudia Marques.
Globalmente, o ‘share’ de audiência dos canais FTA regista uma quebra de 15 pontos percentuais, a favor da ‘pay TV’ e do ‘not set’ , conteúdos não identificados com os cerca de 150 canais lineares monitorizados, no dia da emissão e sete dias seguintes, que duplicou o seu peso.
Esta tendência é ainda mais relevante dos quatro aos 44 anos. No escalão 45-64 anos há um reforço significativo de ‘pay TV’ em detrimento da FTA. A população com mais de 65 anos continua a dedicar cerca de 59% do tempo consumido aos canais FTA em vez de 74%, como em 2016.
Apesar desta alteração de conteúdos consumidos, o envelhecimento da população, em que há 800 mil telespectadores com mais de 45 anos, atenua a quebra dos canais generalistas pelo contributo do aumento de consumo feito pela faixa dos 45-64 anos e em particular pelo segmento com mais de 65 anos.
O ciclo de visionamento dos canais FTA também tem sofrido algumas alterações, transversais aos vários escalões etários. O ‘prime-time’, ou serão, tem agora um contributo menor para os resultados globais do dia. Ou seja, cerca de 35% em vez de 42% em 2016.
Ao invés, o peso do período da tarde para o resultado do dia todo é hoje de cerca 35%, nos canais de sinal aberto.
O estudo realizado pela GfK/CAEM para o M&P conclui que o ‘prime time’ tem contribuído menos para os resultados globais do dia.
“No caso do consumo total de FTA, em 2016 o contributo do ‘prime time’ representava em média 41,7%, enquanto que entre janeiro e setembro de 2025 o peso é de 35,1%”, avança Cláudia Marques.

O peso do período da tarde (‘share contribution’) nas audiências é de 34,6% contra os 28,6% em 2016.
Para o crescimento do consumo de canais pagos têm contribuído os canais de informação nacionais, com a CNN Portugal e o Now a juntarem-se à SIC Notícias e RTP3 (agora RTP Notícias), os outros generalistas nacionais, com destaque para a CMTV e V+, e os canais dedicados a filmes e séries.
Os canais de informação representam, em média, 18% do consumo de canais pagos e se a CMTV for considerada na tipologia informação, o peso médio passa para 33,4%.
Os canais que mais crescem
A análise das audiências televisivas da agência de meios Initiative, que integra o grupo Mediabrands, revela que, em outubro, o consumo televisivo regista uma ligeira diminuição de 0.4% face a setembro.
Entre os canais FTA (RTP1, SIC e TVI), o destaque vai para a última estação, que termina o mês na liderança com um share de 15.4%, tendo sido inclusive, o canal FTA que regista o maior aumento face ao mês anterior (+1.2p.p. vs. setembro de 2025).
O canal Now fecha o mês de outubro com um share médio de 1,8%, o que representa um crescimento superior a 87% em relação ao período homólogo do ano passado.
O balanço do mês de outubro do canal da Media Livre é de 1,8% de share e 39.100 espectadores a cada minuto do dia. Já o ‘irmão mais velho’, a CMTV, que tem sido líder de audiência nos canais de cabo durante 43 meses consecutivos, alcança no mês passado um share médio de 5,9%, equivalente a cerca de 129 mil pessoas a cada minuto do dia.
Na tabela dos canais mais vistos do cabo estão ainda a CNN Portugal, com uma quota de mercado de 2,5% e a SIC Notícias com 2%.
Fibra ótica é principal acesso
Segundo a ANACOM, no final do segundo trimestre de 2025 (2T2025) existiam 4,7 milhões de assinantes do serviço de distribuição de sinais de televisão por subscrição (TVS), mais 40 mil (+0,9%) do que no trimestre homólogo, o que representa o crescimento anual mais baixo desde 2006.
No mesmo período existiam 4,1 milhões de assinantes residenciais do serviço de distribuição de TVS, mais 28 mil (+0,7%) que no trimestre homólogo em 2024.
No segmento não residencial o número de assinantes totaliza 538 mil, representando 11,6% do total de assinantes, e regista um crescimento de 2,2% face ao trimestre homólogo.
A fibra ótica é a principal forma de acesso à TVS, representando dois terços dos assinantes (68,2%), seguindo-se o cabo (24,5%), o satélite/DTH (6,2%) e o ADSL (1,2%).
De acordo com a associação de comunicações, no final do segundo trimestre de 2025, a Meo é o operador com a quota de assinantes do serviço de distribuição de TVS mais elevada (41,9%), seguindo-se a Nos (35,8%), a Vodafone (19,4%) e a Digi/Nowo (2,7%).
Dispositivos móveis ainda não têm audiências
Fora desta análise está o consumo de televisão em dispositivos móveis. Apesar da crescente utilização de telemóveis ou tablets para ver programas de televisão, ainda não é possível contabilizar esses números. “No Establishment Survey existe um indicador que quantifica se ‘descarregou apps para visualização de conteúdos ou interação com canais/programas de televisão?’ mas não se avalia a frequência nem distingue CTV de dispositivos móveis”, refere Cláudia Marques.