A Índia e as Filipinas iniciaram no domingo os seus primeiros exercícios navais conjuntos, no mar do Sul da China, de que Pequim reclama a soberania quase total.

Em 2023, o Governo chinês actualizou o seu “mapa-padrão” e reclamou como seus cerca de 90% do mar do Sul da China, a ilha de Taiwan e territórios que a Índia diz serem seus, nos estados de Arunachal Pradesh e de Jammu e Caxemira, nos Himalaias.

As Filipinas, tal como Taiwan, Malásia, Vietname e Brunei, protestam conta a apropriação chinesa do mar asiático, que além de ser uma zona pesqueira de alto valor, é também rico em recursos geológicos como petróleo, gás e minerais submarinos.

No ano passado, duas embarcações filipinas chegaram a ser atacadas pela Guarda Costeira chinesa com machetes, machados, martelos e paus. Pequim diz que as embarcações foram avisadas várias vezes para não tentarem entrar nas suas águas.

É por isso provável que esta mobilização militar conjunta da Índia e das Filipinas, com quem Pequim mantém duas disputas territoriais distintas, vá irritar o Governo da República Popular da China.

Citado pela Aljazeera, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas das Filipinas, Romeo Brawner Jr., disse esta segunda-feira que a navegação conjunta ocorreu dentro da zona económica exclusiva filipina. “Não tivemos nenhum incidente indesejável, mas ainda há quem nos esteja a seguir — como já esperávamos”, disse o militar aos jornalistas, sem fazer qualquer menção à China.

Nos últimos anos, as Filipinas têm realizado patrulhas navais nas águas disputadas pela China com os Estados Unidos e outros parceiros como o Japão, Austrália, Nova Zelândia e França para promover a liberdade de navegação e sobrevoo e reforçar a dissuasão contra a China.

Além disso, têm permitido que alguns jornalistas acompanhem essas manobras, de maneira a testemunhar a postura cada vez mais agressiva da China nesta disputa.

Para as Filipinas, estabelecer alianças com outros países e aumentar a dissuasão é a única forma de evitar um confronto armado entre os dois países. “A maneira de fazer isso é, em primeiro lugar, fortalecer e modernizar as Forças Armadas. Em segundo lugar, precisamos fazer parcerias com nações que pensam da mesma forma, e é isso que estamos a fazer com a Índia”, explicou Romeo Brawner Jr, citado pelo jornal japonês Asahi Shimbun.

Durante uma recepção a bordo de um navio-tanque da Marinha indiana, o INS Shakti, na quinta-feira, o porta-voz das forças filipinas disse que a escala do navio em Manila foi mais do que cerimonial. “Envia um sinal poderoso de solidariedade” e cooperação “entre duas democracias vibrantes no Indo-Pacífico”.

Brawner “reafirmou o compromisso comum com a segurança marítima, a estabilidade regional e uma ordem internacional baseada em regras, numa das regiões mais sensíveis do mundo em termos geopolíticos”.

Os navios da marinha indiana que participaram nestes exercícios incluíram o contratorpedeiro INS Delhi, o petroleiro INS Shakti e a corveta INS Kiltan. As Filipinas enviaram duas fragatas, a BRP Miguel Malvar e a BRP Jose Rizal, detalha a Aljazeera.

Este exercício coincidiu com a partida do Presidente filipino, Ferdinand Marcos, para uma visita de cinco dias à Índia, para aprofundar os laços entre os dois países e criar parcerias em sectores como a defesa, a indústria farmacêutica e a agricultura.

Segundo o Asahi Shimbun, na semana passada, quando questionado sobre os planos de Manila para reforçar a cooperação militar no mar do Sul da China, o Ministério da Defesa Nacional chinês adjectivou as Filipinas como “desordeiras” que se aliaram a forças estrangeiras para causar problemas no que a China considera serem as suas águas territoriais.

Em conferência de imprensa, o porta-voz do Ministério da Defesa, o coronel Zhang Xiaogang, sublinhou que “a China nunca vacila na sua determinação e vontade de salvaguardar a soberania territorial nacional e os direitos e interesses marítimos”.

O país “tomará medidas resolutas contra quaisquer provocações por parte das Filipinas”, sublinhou o militar.