Na passada sexta-feira, outros cinco pescadores, também de nacionalidade brasileira, já tinham sido encarcerados na prisão da Cancela, na Madeira, após terem sido interrogados pelo juiz. Nessa altura, como agora, os suspeitos de tráfico de droga não prestaram qualquer declaração além daquelas relacionadas com a sua identificação.

Mesmo assim, a investigação, coordenada pela Polícia Judiciária (PJ), apurou que não terá sido a primeira vez que estes pescadores participaram no transporte de droga. Aliás, um dos barcos apreendidos na Operação Renascer já tinha sido sinalizado pelas autoridades brasileiras numa primeira ocasião, mas, nessa altura, não foi possível às forças policiais concretizar a abordagem e a cocaína foi descarregada sem problemas.

Cartel contrata dois barcos

Com a confiança então conquistada, os pescadores aceitaram fazer um segundo serviço para a organização criminosa sediada no Brasil e repetiram a estratégia. Zarparam de um porto brasileiro sem nenhuma droga a bordo e quando já estavam a algumas milhas da costa recolheram a cocaína que lhes foi levada por lanchas rápidas.

A seguir, rumaram em direção à Europa com o objetivo de navegar até cerca de 1600 milhas da costa portuguesa. O plano passava por, uma vez aí, lançar a droga ao mar e regressar ao Brasil sem levantar suspeitas.

O mesmo plano foi traçado por um segundo pesqueiro, contratado pelo mesmo cartel e que zarpou do Brasil cinco dias mais tarde, com outros cinco tripulantes a bordo. A cada um dos dez pescadores brasileiros terá sido prometido o pagamento de uma quantia entre os cinco e os seis mil. Montante suficiente para que aceitassem transportar os fardos de cocaína – que uma vez no mar seriam recolhidos por lanchas rápidas para serem levados para a costa portuguesa ou espanhola – e ainda para manterem o silêncio caso fossem detidos.

E foi, portanto, calados que se apresentaram e permaneceram no Tribunal do Funchal. Nem a possibilidade de irem parar à prisão, como de facto sucedeu, os fez revelar quem os tinha contratado para transportar cerca de sete toneladas e meia de cocaína.

Esta quantidade de droga foi apreendida, na semana passada, numa operação coordenada pela PJ e que envolveu vários meios da Marinha e da Força Aérea Portuguesa. A cocaína estava distribuída por dois barcos distintos que, separados por muitas milhas, foram abordados em zonas diferentes do Oceano Atlântico, na sequência de informações recolhidas numa investigação internacional que teve início em julho.