A neta de John F. Kennedy Tatiana Schlossberg revelou que foi diagnosticada com leucemia mielóide aguda, um tipo de cancro agressivo que afecta as células do sangue. A notícia foi partilhada pela própria jornalista num ensaio publicado na revista New Yorker, onde apontava o dedo às políticas de saúde impostas pelo primo Robert F Kennedy Jr., explicando como a têm afectado a ela e a outros doentes oncológicos. “Vi o Bobby cortar quase 500 milhões de dólares (433 milhões de euros) destinados à pesquisa de vacinas de ARNm, uma tecnologia que poderia ser usada contra certos tipos de cancro”, escreveu Schlossberg, de 35 anos.
Tatiana Schlossberg, que é filha de Edwin Schlossberg e da diplomata Caroline Kennedy, a filha do Presidente norte-americano assassinado e de Jacqueline Bouvier Kennedy (mais tarde, Onassis), foi diagnosticada com cancro em Maio de 2024, depois do nascimento da segunda filha. O marido, George Moran, era então residente de urologia naquele hospital de Columbia-Presbyterian, em Nova Iorque, e foi a ele que recorreu para tentar encontrar uma explicação.
“A contagem normal de glóbulos brancos é de cerca de quatro a onze mil células por microlitro. A minha era de 131 mil células por microlitro. Poderia ser algo relacionado com a gravidez e o parto, disse o médico, ou poderia ser leucemia. ‘Não é leucemia’, disse eu ao George. ‘Do que é que eles estão a falar?”
Mas era leucemia e, no texto, Schlossberg testemunha o choque da confirmação: “Não acreditava — não conseguia acreditar — que eles estavam a falar de mim. Eu tinha nadado mais de um quilómetro na piscina no dia anterior, grávida de nove meses. Eu não estava doente. Não me sentia doente. Na verdade, eu era uma das pessoas mais saudáveis que conhecia.”
O médico perguntou-lhe então se tinha passado muito tempo no Ground Zero, porque este tipo de cancro era comum em que tinha trabalhado no socorro após o ataque às Torres Gémeas, a 11 de Setembro de 2001. Ainda que tivesse estado em Nova Iorque nessa altura, a jornalista tinha apenas 11 anos, e, aos 34, quando recebeu a notícia o diagnóstico era de um cancro terminal. “Precisaria de alguns meses, pelo menos, de quimioterapia, com o objectivo de reduzir o número de células blásticas na minha medula óssea. Depois: um transplante de medula óssea, que me poderia curar”, descreve.
Depois de um internamento prolongado, dificultado por uma hemorragia pós-parto, voltou para casa, onde fez a primeira ronda de quimioterapia, antes de ser admitida no Memorial Sloan Kettering, um centro oncológico especialista em transplantes de medula óssea para continuar o tratamento. “Então, eu estava pronta para um transplante. A minha irmã era compatível e iria doar as suas células estaminais”, conta. “Quando a transfusão começou, espirrei doze vezes e vomitei. Então tive esperança — de que as minhas contagens sanguíneas se recuperassem, de que as células da minha irmã curassem e transformassem o meu corpo. Perguntámo-nos se eu herdaria a alergia dela à banana ou a sua personalidade.”
O transplante foi bem-sucedido e o cancro entrou em remissão, mas a quimioterapia preventiva continuou. Só que a doença voltou em Janeiro deste ano, onde encontrou a única esperança num ensaio clínico de imunoterapia, que funcionou para ser candidata a um segundo transplante. “Entrei novamente em remissão; tive outra recaída. Participei de outro ensaio clínico. Fui hospitalizada mais duas vezes — semanas das quais não me lembro, durante as quais perdi mais cinco quilos”, conta. E continua: “No final de Setembro, fui acometido por uma forma do vírus Epstein-Barr que destruiu os meus rins. Quando cheguei a casa algumas semanas depois, tive de aprender a andar novamente e não conseguia pegar nos meus filhos.”
Enquanto vivia tudo isto, assistiu à nomeação do primo, a que chama Bobby, para secretário da Saúde norte-americano e o que temia confirmou-se: “Cortou milhões em financiamento dos Institutos Nacionais de Saúde, o maior investigador mundial de medicina; e ameaçou destituir o painel de especialistas médicos encarregados de recomendar exames preventivos do cancro.”
E sentiu o medo na pele dos médicos do centro universitário onde recebe tratamento, face à incerteza do futuro aos comandos de Robert F Kennedy Jr. “De repente, o sistema de saúde no qual eu confiava pareceu-me sobrecarregado, instável.”
Sem resposta para o futuro, diz que passará o resto dos seus dias a escrever para preservar algumas memórias, como tem feito ao longo de toda a vida — era jornalista de Ambiente para publicações de referência como o New York Times, a Atlantic, o Washington Post ou a Vanity Fair. E é sobretudo nos filhos, um menino de 3 anos e uma menina com 1 ano, que pensa: “Tento viver e estar com eles agora. Mas estar no presente é mais difícil do que parece; então, deixo as memórias irem e virem…Vou continuar a tentar lembrar-me.”