Quatro músicos portugueses e um cidadão espanhol foram alvo de um ataque com spray gás-pimenta por parte de um grupo de cinco neonazis na madrugada de domingo, à porta de uma associação cultural utilizada como sede do Partido Comunista local, no bairro de Hortaleza, em Madrid. O incidente ocorreu por volta das 00h15, após a atuação de dois grupos portugueses.

Nélson Oliveira, conhecido como “Fast Eddie Nelson”, de 51 anos, membro dos Los Santeros (uma das duas bandas portuguesas em cartaz), explicou ao jornal Expresso que tudo aconteceu quando alguns músicos conversavam à porta, já depois de terminados os concertos. Tinha-se afastado alguns metros para ver o telemóvel quando ouviu gritos. “Percebi que cinco indivíduos militarizados atiraram com o gás-pimenta em direção aos olhos dos meus amigos, fugindo imediatamente dali”, relatou, acrescentando: “Um dos meus amigos ficou momentaneamente cego e cheio de dores nos olhos”. Entre as vítimas estavam também elementos da outra banda vinda do Barreiro, os Conan Castro & The Moonshine Piñatas.

A Polícia Nacional chegou poucos minutos depois, chamada pelos próprios músicos, assim como os serviços de emergência médica. Entre os atacados encontrava-se também Raul López Vicente, professor de 48 anos e um dos organizadores do evento, que descreveu ao semanário os agressores como um grupo de estética skinhead, com símbolos associados ao fascismo, incluindo uma cruz de Borgonha. Explicou, também, que este tipo de grupos atua regularmente para “invalidar qualquer tipo de ação social popular que não concorde com o racismo, a homofobia, rejeitando o que é diferente”.

Segundo o que os dois homens relataram, os agentes demonstraram desde logo conhecimento de episódios semelhantes na zona. De acordo com a comunicação social local, o ataque ocorreu apenas uma semana depois de três jovens migrantes terem sido igualmente atacados com gás-pimenta num bairro próximo, num contexto de crescente hostilidade contra menores estrangeiros não acompanhados, frequentemente apelidados de “Menas” pelos movimentos radicais.

Também no último fim de semana, outra associação do bairro viu a sua porta vandalizada com suásticas e símbolos neonazis, desenhos que os moradores se apressaram a apagar, mas que tornaram a surgir na noite seguinte.

Os organizadores do concerto suspeitam que o grupo responsável pelo ataque também pretendia vandalizar a fachada do espaço onde decorria a festa, mas acabou por optar pelo ataque direto aos músicos.