O Kremlin confirmou esta quarta-feira que o enviado especial dos Estados Unidos, Steve Witkoff, visitará Moscovo na próxima semana. Na última noite, um ataque das forças russas provocou 19 mortos e grandes estragos em Zaporizhia.



“Foi alcançado um acordo preliminar sobre a sua visita a Moscovo na próxima semana”, revelou o conselheiro diplomático do Kremlin, Yuri Ushakov, à televisão estatal russa.

Ushakov acrescentou que “vários outros representantes do governo norte-americano” envolvidos na questão ucraniana acompanharão Witkoff na viagem, anunciada por Donald Trump.

“Steve Witkoff irá, talvez com Jared (Kushner, genro de Trump). Não tenho a certeza se Jared irá, mas está envolvido no processo, é um tipo inteligente, e vão reunir-se com o presidente Putin, creio, na próxima semana em Moscovo”, frisou o presidente norte-americano aos jornalistas a bordo do Air Force One, enquanto viajava para a Florida para o feriado da Ação de Graças.Segundo o presidente norte-americano, a deslocação
de Witkoff a Moscovo serve para discutir os “poucos pontos de discórdia”
que impedem um acordo para o conflito entre a Rússia e a Ucrânia.

Donald Trump indicou, na rede Truth Social, que espera reunir-se ele próprio com o homólogo russo, Vladimir Putin, e com o ucraniano, Volodymyr Zelensky, mas “apenas quando o acordo para pôr fim a esta guerra estiver concluído ou se estiver chegado à fase final” das negociações.

A agência Bloomberg noticiou também na terça-feira que Steve Witkoff deu conselhos a um conselheiro de Vladimir Putin sobre como comunicar com o Presidente norte-americano em relação ao conflito na Ucrânia.

De acordo com o documento publicado pela Bloomberg, Steve Witkoff sugere um telefonema entre Donald Trump e Vladimir Putin, durante o qual este último “congratularia o presidente (norte-americano) por este sucesso” com o plano para o enclave invadido por Israel.

O enviado especial norte-americano, segundo a mesma fonte, aconselhou que esta conversa se realizasse antes da visita do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky à Casa Branca.Nova versão do plano “é melhor para Kiev”

Donald Trump tinha dado na semana passada um prazo até quinta-feira (dia 27 de novembro) ao homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, para responder ao seu plano de paz de 28 pontos, o que levou à realização de contactos urgentes entre as principais lideranças europeias, Kiev e Washington.

No rescaldo destas reuniões, realizadas no domingo, ucranianos e norte-americanos afirmaram que um futuro acordo de paz deveria respeitar a soberania da Ucrânia, após uma primeira versão da proposta tornada pública contemplar a maior parte das exigências russas, incluindo cedências territoriais a Moscovo, redução do exército ucraniano e impedimento da adesão de Kiev à NATO.O plano de 28 pontos foi posteriormente reduzido e
Trump pareceu satisfeito com o resultado das negociações com europeus e
ucranianos, declarando na sua rede social Truth Social que “algo de bom
pode acontecer”.

Kiev espera agora “organizar a visita de Zelensky aos Estados Unidos o mais rapidamente possível, em novembro, para finalizar os restantes passos e chegar a um acordo com o presidente Trump”, segundo o secretário do Conselho de Segurança da Ucrânia, Rustem Umerov.

Uma fonte próxima do processo negocial disse à agência France-Presse (AFP) que a nova versão do plano dos Estados Unidos é “significativamente melhor” para Kiev.

A versão mais recente do plano permite à Ucrânia manter um exército de 800 mil soldados, em comparação com os 600 mil da versão inicial. “Não se fala em limite; é aproximadamente o número atual”, segundo a mesma fonte próxima do assunto, que falou sob anonimato.

Algumas das questões mais sensíveis, particularmente as territoriais, poderão ser “discutidas a nível presidencial”, continuou.

Na terça-feira, Donald Trump referiu-se a negociações “longas e complicadas” sobre a demarcação de “fronteiras”.

Na linha da frente, o exército russo, que controla quase um quinto do território ucraniano, continua o seu lento avanço pela linha oriental, alegando nos últimos dias ter capturado várias aldeiasAutoridades devem “reforçar” identidade russa na Ucrânia

As autoridades russas deverão aumentar o número de pessoas que se identificam como russas e falam russo nas partes da Ucrânia incorporadas no país desde a invasão de Moscovo, em 2022, de acordo com um documento assinado pelo presidente Vladimir Putin.O documento, publicado na terça-feira e intitulado
“Estratégia da política nacional da Rússia para o período até 2036”, foi
apresentado como um decreto assinado por Putin. O documento exige
medidas para garantir que 95 por cento da população do país se
identifica como russa até 2036.

Os longos laços entre a Rússia e a Ucrânia, que remontam mesmo a antes da era soviética, significam que alguns ucranianos tradicionalmente simpatizam com a Rússia e a maioria fala ambas as línguas. Mas, desde a invasão, essa simpatia desapareceu e as sondagens mostram que o uso do russo sofreu um declínio acentuado.

Putin lançou a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022, alegando que o objetivo era “desmilitarizar e desnazificar” o país e libertar os falantes de russo no leste do país do que o Kremlin chamou de discriminação flagrante.

Em seis meses, as regiões de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia foram incorporadas na Rússia, embora Moscovo não tenha total controlo militar sobre as mesmas.



O documento, que entrará em vigor em janeiro, refere que garantir o controlo sobre as regiões orientais “criou condições para restaurar a unidade dos territórios históricos do Estado russo”.
Segundo o documento, é vital “adotar medidas adicionais para fortalecer a
identidade cívica russa no seu todo”, consolidar o uso da língua russa e
combater “os esforços de Estados estrangeiros hostis para
desestabilizar as relações interétnicas e interconfessionais e criar uma
divisão na sociedade”.

“Os resultados da implementação desta estratégia serão avaliados através da monitorização do alcance dos seguintes indicadores-alvo até 2036: o nível de identidade cívica russa (autoconsciência cívica) – não inferior a 95 por cento”, refere o decreto.



Putin há muito que questiona a identidade histórica da Ucrânia como distinta da Rússia.




Para além das objeções à expansão da NATO para leste desde a década de 1990, fez da defesa dos falantes de russo e da reunificação com áreas consideradas historicamente russas um pilar fundamental da “operação militar especial” de Moscovo na Ucrânia.

O ucraniano é a única língua oficial da Ucrânia desde o colapso do domínio soviético em 1991 e a conquista da independência, mas as autoridades de Kiev negam qualquer alegação de que os falantes de russo tenham sofrido discriminação.

A Rússia alega que a ideologia neonazi permeia a vida pública ucraniana desde a revolta popular de 2014, que obrigou o então presidente, pró-Rússia, a fugir do paísAtaque com drones russos causa estragos em Zaporizhia

As forças russas realizaram um ataque em massa com drones na cidade de Zaporizhzhia, no sudeste da Ucrânia, na noite de terça-feira, provocando incêndios, ferindo 19 pessoas e danificando gravemente edifícios e veículos, revelou o governador regional.Ivan Fedorov, numa publicação na aplicação de mensagens Telegram, disse
que o ataque destruiu lojas e danificou 31 prédios de apartamentos e 20
casas particulares. Afirmou que oito pessoas estavam a ser tratadas em
hospitais.

“Está em curso uma operação de resgate em 12 locais”, disse Fedorov num vídeo publicado nas redes socias. “Foi mobilizado o número máximo de unidades dos Serviços de Emergência Estatais, da polícia nacional e das nossas equipas médicas”.

Imagens publicadas online mostravam bombeiros a combater incêndios em edifícios residenciais e veículos destruídos nas ruas da cidade.

A Força Aérea da Ucrânia afirmou ter abatido 72 dos 90 drones e dois mísseis balísticos lançados pela Rússia num ataque que atingiu todo o país durante a noite.

As forças russas ocupam grandes extensões de território na região de Zaporizhzhia e têm conquistado terreno recentemente, embora a cidade com o mesmo nome continue sob controlo ucraniano.

O chefe da região de Zaporizhzhia, Yevgeny Belitsky, nomeado pela Rússia, afirmou que as forças ucranianas atacaram a infraestrutura da rede elétrica em áreas controladas pela Rússia.


Belitsky, numa publicação no Telegram, disse que o fornecimento de energia foi cortado a 40 mil clientes em cidades da região controladas pela Rússia.


c/ agências