A China acusou esta quinta-feira o Japão de agravar o ambiente de segurança na região, após Tóquio avançar com a instalação de novos sistemas antimísseis nas ilhas do arquipélago Nansei, algumas a pouco mais de uma centena de quilómetros de Taiwan.

Em Pequim, o porta-voz do Gabinete para os Assuntos de Taiwan, Peng Qing’en, descreveu a decisão japonesa como “uma provocação extremamente perigosa” e advertiu que a China está pronta para “esmagar qualquer tentativa de interferência externa” no que considera ser um assunto interno. O endurecimento retórico acompanha a escalada diplomática entre os dois países, alimentada pelas recentes declarações da primeira-ministra nipónica, Sanae Takaichi, que admitiu uma eventual intervenção das Forças de Autodefesa caso Pequim ataque Taiwan.

O Governo chinês convocou o embaixador japonês, aconselhou os seus cidadãos a evitarem viagens para o arquipélago — desencadeando uma vaga de cancelamentos — e adiou por tempo indeterminado a cimeira trilateral com o Japão e a Coreia do Sul, prevista para janeiro. Do lado japonês, a resposta tem sido célere: Tóquio afirma que as novas baterias terra-ar, parte de uma estratégia delineada em 2022, destinam-se exclusivamente a fins defensivos. O Ministério da Defesa denunciou inclusive a incursão recente de um drone chinês entre Yonaguni e Taiwan, o que levou ao envio de caças.

Taipé reforça o orçamento militar

Taiwan decidiu avançar com uma proposta de 40 mil milhões de dólares (cerca de 35 mil milhões de euros) em despesas adicionais com defesa e segurança regional. O Presidente, William Lai Ching-te, explicou num editorial publicado pelo “Washington Post” que a ilha pretende aumentar a capacidade dissuasora, elevando o custo político e militar de uma eventual ação chinesa. O pacote inclui novas aquisições aos Estados Unidos e o reforço das capacidades existentes, em linha com a meta anteriormente apontada por Lai de ultrapassar os 3% do PIB em defesa em 2026 e chegar aos 5% em 2030.

A proposta enfrenta resistência interna. O Kuomintang, maioritário nas finanças parlamentares e defensor de uma aproximação a Pequim, já sinalizou oposição ao aumento da despesa, argumentando que Taiwan “não tem tanto dinheiro”. A disputa decorre enquanto a retórica chinesa se intensifica. Xi Jinping insistiu, numa conversa com Donald Trump, que o “retorno” de Taiwan à China é parte integrante da ordem internacional do pós-guerra, evocando a luta conjunta contra o fascismo e o militarismo.

A resposta de Taipé surgiu de imediato. O primeiro-ministro, Cho Jung-tai, classificou como “não opção” a chamada reunificação para os 23 milhões de habitantes da ilha, sublinhando que Taiwan é “um país totalmente soberano e independente”.

Pequim e Tóquio mantêm contactos de alto nível na tentativa de aliviar a hostilidade atual, mas, para já, não há sinais de que o clima político esteja prestes a arrefecer.