A informação foi confirmada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros do Senegal em comunicado citado pela agência Reuters. 

Embaló, deposto na quarta-feira por um golpe militar, chegou hoje ao Senegal a bordo de um avião fretado por este país. A decisão da retirada foi tomada após o presidente senegalês, Bassirou Diomaye Faye, ter participado numa cimeira extraordinária da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) marcada virtualmente para analisar a situação na Guiné-Bissau.

Os militares assumiram na quarta-feira o “controlo total” do país, antes ainda de serem divulgados os resultados das eleições de 23 de novembro. Entretanto, os general Horta Inta-A foi empossado presidente de transição numa cerimónia que decorreu no Estado-Maior General das Forças Armadas guineense.

O candidato Fernando Dias, que reclama vitória nas eleições de domingo, condenou esta quinta-feira o golpe militar no país e pediu à comunidade internacional para “fazer valer a democracia na Guiné-Bissau, não a ditadura”.

“Nós condenamos este golpe de Estado, nós condenamos o comportamento do [presidente cessante e recandidato] Umaro Sissoco Embaló. Ele não é democrata, é um ditador e nós não podemos admitir que uma situação do género aconteça, porque vai-se repetir mais vezes”, alertou em declarações à Lusa.

Guiné-Bissau: golpe ou farsa?

Na altura, Fernando Dias dizia aguardar “medidas” a sair das reuniões da CEDEAO e da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) convocadas para esta quinta-feira sobre a situação da Guiné-Bissau: “Nós estamos a pedir a toda a comunidade internacional no sentido de fazer valer a democracia na Guiné-Bissau, não a ditadura”, apontou, deixando ainda uma nota de esperança nas posições da União Africana, da União Europeia e das Nações Unidas.

Fernando Dias declarou à Lusa a sua convicção de que não existiu um golpe de Estado na Guiné-Bissau: “O candidato Umaro Sissoco Embaló percebeu que não tem condições para ganhar as eleições. É óbvia a tentativa de alterar resultados a partir das comissões regionais das eleições, onde enviou policiais armados”.

O candidato apontou a tentativa de falsear os resultados em várias regiões, o que não aconteceu fruto da ação de pessoas do povo e de representantes da sua candidatura, ao que se seguiram tentativas no mesmo sentido na Comissão Nacional de Eleições, em Bissau, também aí sem sucesso.

“Como não conseguiram, então o Sissoco compreendeu que já não tem outra saída a não ser arrumar as botas e ir para a sua residência. Então preferiu transferir o poder para os militares com a simulação do golpe de Estado”, declarou Fernando Dias, falando por telefone a partir de um local seguro, após ter conseguido escapar de polícias armados que invadiram a sua sede da campanha na quarta-feira.


Simões Pereira detido em Bissau e incontactável

Fernando Dias denunciou ainda a situação do líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, alegadamente detido na segunda esquadra de Bissau: “Não está bem”, disse, sublinhando que se encontra incontactável e sem acesso a medicação.

Afirmando desconhecer “o que está a acontecer de concreto” com o seu apoiante (Domingos Simões Pereira viu a sua candidatura excluída pelo Supremo Tribunal), Fernando Dias contou que na quarta-feira, quando a sua sede de campanha foi invadida, no “puxa-puxa” foram ajudados por elementos da juventude e conseguiram escapar por uma porta traseira.

“Estávamos juntos com o Domingos Simões Pereira e, de repente, (…) fomos para direções diferentes (…) e ele foi parar na Base Aérea, pensando que lá ia ter maior segurança (…). Mas o tio do Embaló que é comandante (na base) (…) soube e pegaram o Domingos e levaram-no para a segunda esquadra”, relatou.

“Neste momento, o Domingos não está bem na segunda esquadra porque não está a ter acesso aos familiares, a visitas e está a ter problemas de tomar remédios três vezes por dia e nós não sabemos o que está a acontecer de concreto”, disse, afirmando que também lhe foi retirado o telefone.

Segundo Fernando Dias, por ordens de Sissoco Embaló, foi retirada a segurança aos candidatos e líderes políticos.

“Não temos nem segurança de Estado e nem segurança da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental), que está no país. Nós estamos com a segurança privada, que são os militantes do nosso partido (…), por isso é que escolhemos o lugar certo onde eu estou neste momento”, declarou.

c/ Lusa