Linn Wener estava a passear pela Rua da Escola Politécnica, que liga o Príncipe Real ao Rato, com Chili, o seu mix de Poodle, quando o cão ganiu de uma forma que ela nunca tinha ouvido. Segundos depois, começou a andar às rodas, com o coração acelerado e o corpo a tremer.
“Entrei em pânico e levantei-o porque pensei que talvez tivesse pisado em alguma coisa, porque ele nunca ganiu desta forma”, conta à NiT a cidadã sueca de 34 anos, que vive há quase seis anos em Portugal e que trabalha como gestor de produto na área da Inteligência Artificial (IA).
“Vi todo o seu corpo à procura de alguma ferida, mas não encontrei nada. Tinha o coração muito acelerado. Estávamos perto de um poste de eletricidade e foi aí que percebi que provavelmente tinha apanhado um choque.”
Desesperada e com o cão de três anos e quase 13 quilos ao colo, dirigiu-se ao Hospital Veterinário de São Bento, onde foi confirmado que Chili tinha sido eletrocutado. “Felizmente, o choque não foi tão forte e não causou danos neológicos”.
Ainda antes de o choque ter sido confirmado pelos veterinários, Linn já suspeitava que seria essa a causa do sofrimento do animal. Afinal, no passado fim de semana, tinha lido notícias sobre a morte de três cães, também eletrocutados, noutras zonas da capital.
“Já está em casa e os veterinários pediram para estar atenta. A carga elétrica deve ter saído pela cauda, porque tem uma marca preta na ponta”, explica. “Fiquei muito zangada e frustrada porque sei que provavelmente tivemos sorte. Ele é um cão grande. Se fosse mais pequeno, talvez não tivesse tido a mesma sorte.”
Chili é a quarta vítima de caso destes na Grande Lisboa em menos de uma semana. Entre 14 e 15 de novembro, foram registadas outras três ocorrências idênticas na cidade, mas que tiveram desfechos trágicos. A primeira desenrolou-se na passada sexta-feira, 14, e causou a morte de Luna, de 12 anos e 30 quilos, e de Ozzy, de apenas quatro meses e 15 quilos, perto de um parque infantil em Odivelas, segundo o “Diário de Notícias.”
O segundo incidente, que aconteceu no dia seguinte no Parque das Nações, vitimou Mel, o cão de uma família residente na zona que passeava com o filho do tutor. O patudo morreu ao pisar uma poça de água junto a um poste de iluminação.
Nos casos de Chili e de Luna e Ozzy (dupla que pertencia à mesma família), não existia qualquer poça de água nos arredores dos postes de iluminação. No entanto, tinha chovido pouco antes, deixando o passeio ligeiramente molhado.
“Sinto-me muito incomodada por saber que isto pode acontecer em qualquer lado da cidade por causa da chuva”, lamenta Linn. “Sei que os animais cá não são vistos como membros da família, por razões culturais, mas e se a próxima vítima for uma criança?”.
Foi criada uma petição para ser entregue à Câmara
Depois do incidente com Chili, Linn apresentou na terça-feira, 25 de novembro, uma queixa formal na Câmara de Lisboa, que, até à data da publicação deste artigo, ainda não foi respondida. Outros amigos da tutora já fizeram o mesmo.
“Consegui juntar cerca de 15 pessoas para fazerem queixas. Acho que foi por isso que eles fizeram um reparo ao poste um ou dois dias depois do incidente porque os pressionamos. Mas isso não resolve o problema”.
A E-Redes lamentou as situações e garantiu ter mobilizado equipas técnicas para averiguar o que aconteceu e para se certificar da segurança da rede. Os candeeiros envolvidos nos incidentes foram isolados e encontram-se, neste momento, fora de serviço. Ainda assim, os tutores temem que outros acidentes voltem a acontecer.
“Sinto que estão a fazer reparos temporários, mas não fazem uma investigação mais profunda para perceber o que se passa em várias zonas da cidade”, aponta Linn.
Sem esperanças na justiça e nas autoridades, a sueca decidiu criar esta quinta-feira, 27 de novembro, uma petição online que será posteriormente entregue à Câmara de Lisboa. Em poucas horas, já conseguiu reunir mais de 100 assinaturas.
Quem quiser ajudar, basta assinar a petição com o nome e email ou através do login do Facebook. “No final do dia, simplesmente não quero que ninguém mais se magoe, sobretudo crianças pequenas. Espero que não chegue a este ponto.”
Carregue na galeria para ver algumas fotografias de Chilli e do poste que causou o incidente no Príncipe Real.