Um ano após assumir a presidência do Conselho Europeu, António Costa garantiu que votará nas eleições presidenciais marcadas para 18 de Janeiro, mas não vai declarar apoio a nenhum dos candidatos, embora diga que, “seguramente”, votará no acto eleitoral. A afirmação é feita numa entrevista ao jornal Expresso e à SIC, em Bruxelas, e será publicada na íntegra na edição desta sexta-feira do semanário.
A entrevista a António Costa foi gravada na quarta-feira, o dia que marcou o décimo aniversário da tomada de posse como primeiro-ministro e da chamada “geringonça”, efeméride que não mereceu qualquer tipo de comentário especial. “Agora estou fora da política nacional. Foi uma fase da minha vida que está encerrada. Tenho o dever de não interferir”, afirmou, desejando “as maiores felicidades” a todos os envolvidos na política activa.
Sobre o livro Que Presidente da República para Portugal? – Contra a Tentação Presidencialista, do constitucionalista Vital Moreira, no qual assinou o prefácio, António Costa reiterou que a sua análise sobre os mandatos presidenciais se refere ao conjunto da função e não a qualquer candidato específico.
“O prefácio deu-me uma enorme honra e permitiu reflectir sobre a minha experiência como primeiro-ministro e cidadão”, disse. Em causa está um excerto no qual António Costa defende que quem se senta em Belém deve ter uma função “essencialmente moderadora” e ser o “garante do regular funcionamento das instituições” — o que não tem acontecido, conclui. Marcelo Rebelo de Sousa anotou os recados, mas não se reviu nas críticas, e defendeu que a estabilidade “funcionou em momentos críticos”, afirmou que houve “sintonia” entre Belém e São Bento durante “oito anos e meio”.
Questionado sobre os debates e os candidatos presidenciais, desde aquele que é apoiado pelo PS, António José Seguro, ao que foi escolhido por Costa para liderar a o processo de vacinação contra a covid-19, Henrique Gouveia e Melo, o antigo primeiro-ministro insistiu: “Não posso obviamente tomar [posição]. O presidente do Conselho Europeu só pode participar em campanhas eleitorais europeias, em actividades partidárias europeias. Portanto, participo nas actividades do Partido Socialista Europeu, mas não posso participar nas actividades do Partido Socialista de que sou militante. Nem intervenho na política, na vida política nacional. Desejo que os portugueses possam escolher o melhor Presidente da República. Eu próprio votarei, seguramente, porque esse direito tenho e exercerei esse direito”.
O dirigente europeu recusou ainda comentar o recente comunicado dos seus advogados sobre o caso judicial que levou à queda do seu terceiro Governo: “Não tenho por hábito comentar processos judiciais. Os advogados disseram o que eu tinha a dizer sobre o assunto.”
Questionado sobre se acredita num eventual resolução do caso antes do término do seu mandato europeu, respondeu com cautela: “Sou tido como uma pessoa optimista, mas há matérias que ultrapassam o meu próprio optimismo.”