Donald Trump acusou especificamente a Venezuela, na quinta-feira, de ser um fator-chave no tráfico de droga que inunda o mercado norte-americano, acusação que Caracas nega. O presidente norte-americano aumentou a pressão ao enviar o maior porta-aviões do mundo, o USS Gerald Ford, para o Mar das Caraíbas, em meados de novembro.
“Provavelmente já perceberam que as pessoas já não querem entregar (drogas) por mar, e vamos começar a prendê-las também em terra”, afirmou o presidente norte-americano durante um discurso televisivo de Ação de Graças às Forças Armadas. “A rota terrestre é mais fácil, mas isso vai começar muito em breve”.

O líder republicano, que não detalhou em que consistiriam as ações terrestres, destacou os ataques no mar das Caraíbas e no Pacífico, onde as forças norte-americanas mataram mais de 80 pessoas ao destruírem mais de 20 embarcações alegadamente ligadas ao narcotráfico, maioritariamente da Venezuela, desde 1 de setembro.
Segundo o presidente norte-americano, o tráfico marítimo de droga “foi interrompido em cerca de 85 por cento”.
As ações foram levadas a cabo por um destacamento militar naval e terrestre na região, que inclui o maior navio militar do mundo, o porta-aviões Gerald R. Ford, com quatro mil soldados e 75 caças a bordo, que o líder venezuelano, Nicolás Maduro, interpreta como uma tentativa de o afastar do poder.
Desde setembro, as forças norte-americanas visaram mais de 20 embarcações suspeitas de tráfico de droga no Mar das Caraíbas e no Pacífico Leste, resultando em pelo menos 83 mortes. Trata-se de “execuções extrajudiciais”, segundo a ONU.A região das Caraíbas foi palco, na segunda-feira,
de demonstrações de bombardeiros B-52H, revelou a força aérea
norte-americana na quarta-feira.
Na quinta-feira, a bordo do porta-aviões Gerald Ford, o secretário da Defesa, Pete Hegseth, homenageou os soldados norte-americanos em missões durante o Dia de Ação de Graças, chamando-lhes “guerreiros que garantem a segurança”, tanto nos Estados Unidos como “no mar, combatendo os cartéis”.
Washington também intensificou a pressão ao designar o Cartel dos Sóis como uma organização terrorista estrangeira na segunda-feira. A existência desta organização continua por provar, segundo muitos especialistas, e Washington afirma que é liderada pelo presidente Maduro.
Antes do envio de tropas para as Caraíbas, o Departamento de Justiça dos EUA já tinha aumentado a recompensa por informações que levassem à captura de Nicolás Maduro para 50 milhões de dólares.
Donald Trump autorizou operações secretas da CIA na Venezuela e não descartou uma intervenção militar, tendo também afirmado que irá falar com MaduroExército venezuelano em alerta
A Venezuela, alvo específico de Washington, afirma que Donald Trump está a agir de forma errada e que apenas cinco por cento das drogas produzidas na Colômbia, o maior produtor mundial, transitam pelo país.
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, acredita que se trata, na verdade, de uma manobra militar para o derrubar e se apoderar das reservas de petróleo do país, que já estão sujeitas a um embargo e a sanções económicas.
Na quinta-feira, durante um discurso televisivo direcionado aos militares Maduro referiu que o país viveu “17 semanas de guerra psicológica” e pediu que o exército se mantivesse “imperturbável” e “em alerta” face à presença militar norte-americana nas Caraíbas.
Nicolás Maduro pediu aos elementos da força aérea que estejam em “alerta, prontos e dispostos” a defenderem os direitos da Venezuela.

“Peço-vos que estejam sempre imperturbáveis na vossa serenidade, alerta, prontos e dispostos a defender os nossos direitos como nação, como pátria livre e soberana, e sei que nunca falharão à Venezuela, sei que a Venezuela conta convosco”, afirmou o presidente venezuelano na quinta-feira.
Maduro fez as declarações remotamente durante um evento liderado pelo ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, e por altos comandantes militares na base aérea de Maracay, capital do estado de Aragua (norte), para assinalar o 105.º aniversário da criação da Força Aérea venezuelana.Na ocasião, as tropas realizaram um exercício de simulação da interceção de um avião e de tropas invasoras.
Sem especificar, Padrino López criticou governos que “se prestam ao jogo imperialista para militarizar as Caraíbas” e apelou para que deixem de agir contra os sentimentos dos seus povos.
O ministro da Defesa fez a declaração no mesmo dia em que o secretário de Guerra dos EUA, Pete Hegseth, visitou o USS Gerald R. Ford, para agradecer às tropas por enfrentarem os cartéis da droga.
Nos últimos dias, foi registada uma atividade constante de caças norte-americanos a apenas algumas dezenas de quilómetros da costa venezuelana, de acordo com sites de rastreamento de aeronaves.
A República Dominicana, vizinha da Venezuela, também autorizou esta semana os Estados Unidos a utilizar instalações aeroportuárias como parte do seu destacamento, enquanto a ilha de Trinidad e Tobago, situada a apenas cerca de dez quilómetros da Venezuela, acolheu recentemente exercícios dos fuzileiros norte-americanos.
Caracas tem dado mais cobertura mediática do que antes às suas operações contra o narcotráfico, exibindo regularmente imagens, por vezes espetaculares, de explosões em laboratórios, destruição de pistas de aterragem clandestinas e abate de pequenas aeronaves. No final de outubro, o exército venezuelano anunciou a destruição de dois acampamentos descritos como pertencentes a “narcoterroristas colombianos” no sul do país.
No plano interno, e também devido às manobras militares na região, a Venezuela despertou na quinta-feira com a atividade aérea civil reduzida, com Caracas a cumprir a ameaça na noite de quarta-feira de revogar as licenças das companhias aéreas TAP, Iberia, Turkish Airlines, Avianca, Latam Colombia e Gol, que acusou de se “unirem aos atos terroristas” promovidos pelos EUA.
O Aeroporto Internacional de Maiquetia, que serve Caracas, operou na quinta-feira com uma oferta limitada de viagens, estando previstas apenas sete partidas e sete chegadas, no mesmo dia em que a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), que engloba mais de 300 companhias aéreas de todo o mundo, instou as autoridades venezuelanas a reconsiderarem a revogação das concessões de voos.
Durante a 19.ª edição da Comissão Intergovernamental de Alto Nível Rússia-Venezuela, realizada virtualmente, a vice-presidente venezuelana Delcy Rodríguez acusou a Administração Trump de tentar isolar o país sul-americano e de pressionar outros a impedirem as companhias aéreas de voarem para Caracas.
Neste contexto, apelou a um aumento dos voos entre a capital venezuelana e Moscovo.
A Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA) tinha apelado, na sexta-feira passada, à “extrema cautela” das companhias aéreas no sobrevoo da Venezuela e sul das Caraíbas, o que levou a uma cascata de cancelamentos de voos para o país sul-americano.
Na quinta-feira, o Governo português avisou a Venezuela que não cederia a ameaças, após a revogação da concessão de voo da TAP, que voa para o país há quase 50 anos, enquanto a companhia aérea espanhola Iberia disse esperar retomar os voos o mais rapidamente possível, logo que estejam reunidas todas as condições de segurança para os passageiros.
c/ agências