Seguindo na esteira de lançamentos de edifícios assinados por grifes internacionais com Pininfarina e Armani/Casa, a incorporadora de luxo Cyrela terá em São Paulo o empreendimento residencial chamado Capri Lifestyle by Dolce&Gabbana Casa — o primeiro assinado pela grife na América Latina.
Localizado na Rua Joaquim Antunes, em Pinheiros, o projeto terá design de interiores e áreas comuns com mobiliário da grife italiana (a fachada não é assinada pela marca).
O valor geral de vendas será de R$ 700 milhões para as 62 unidades residenciais com metragem entre 246 m² e 279 m² e coberturas duplex de 516 m² e 591 m². Ou seja, o preço do metro quadrado será de R$ 40 mil, resultando em preços superiores a R$ 10 milhões. O valor está acima da média da região, que fica entre R$ 25 mil e R$ 30 mil por metro quadrado em lançamentos e em R$ 15 mil a R$ 20 mil em usados.
O edifício terá vista para o Jardim Europa e foi criado a partir da revisão do zoneamento da Av. Rebouças, que liberou a construção de prédios altos. A curadoria do design de interiores terá os padrões da Dolce&Gabbana Casa, do Carretto Siciliano ao Blu Mediterraneo, enquanto as áreas comuns e comodidades terão design refletindo a essência vibrante da marca.
Cyrela terá primeiro prédio com grife Dolce&Gabbana no País
A aposta em edifícios assinados têm crescido entre incorporadoras no País. A Mitre tem um projeto assinado pela Daslu a poucos metros de distância do novo Cyrela, por exemplo. Na zona sul, perto do Parque do Ibirapuera, a Lavvi tem um edifício com decoração assinada pela Versace.
Thales Lucchesi, arquiteto e fundador da empresa Ponte, diz que a tendência de grifes assinando edifícios, seja na fachada ou na decoração interna, acompanha a ideia de que o luxo tem se tornado cada vez mais luxuoso, exigindo a criação de camadas adicionais de exclusividade.
Segundo o especialista, as grifes de luxo, como Dolce&Gabbana, Dior, Lamborghini, Versace e Armani, que têm empreendimentos imobiliários no País, buscam traduzir sua assinatura estética e chancela na decoração, na fachada e no conceito da casa.
Lucchesi ressalta que essa não é uma moda passageira, mas sim parte de uma visão estratégica de longo prazo para estar mais presente na vida dos consumidores. “As grifes de luxo passaram a entender que o consumo de casa era outra parcela de grana dessas pessoas que já eram clientes e amavam as marcas. A pandemia foi um movimento que fez a gente passar a dar outro valor para casa. Antes, a casa era um dormitório”, afirma.
Resultados
Os dados financeiros da Cyrela mostram que a estratégia de lançar edifícios assinados está dando certo. Nos nove meses de 2025, a companhia teve lucro líquido de R$ 1,35 bilhão, com R$ 9,5 bilhões em lançamentos imobiliários e R$ 6,8 bilhões em vendas (alta anual de 19%).
Para Victor Bueno, sócio e analista da Nord Investimentos, o consumidor de alta renda segue disposto a comprar imóveis de luxo assinados por grifes no País. “Isso vem funcionando muito porque a gente vê uma demanda ainda bastante aquecida dentro do mercado de alta renda — um mercado que não sofre tanto com juros elevados. A gente vê que é uma classe que continua comprando, tanto que a gente vê isso (edifícios com assinatura de grifes) não só para a Cyrela, mas também para a Lavvi, uma das suas joint ventures”, afirma Bueno.
O analista acredita que a queda da taxa de juros prevista para 2026 pode ter impacto positivo nas vendas da empresa, e ressalta que o cenário atual afeta diretamente a classe média, que depende mais de financiamentos. Porém, o mercado de alto padrão e luxo ainda deve continuar a crescer no ano que vem.
“É um mercado que ficou um pouco mais saturado, mas a gente ainda vê espaço para expansão e existe demanda para que eles continuem lançando e vendendo esse tipo de empreendimento”, afirma Bueno.
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O principal projeto de 2025 da empresa é o Epic by Pininfarina, que ficará em Pinheiros, vizinho do edifício Dolce&Gabbana. “Destacamos o projeto Epic Jardim Europa by Pininfarina. Esse projeto foi lançado no mês de julho e tem R$ 1,3 bilhão de VGV e teve uma performance muito forte de vendas”, afirma Miguel Mickelberg, diretor financeiro (CFO) da Cyrela, na teleconferência de resultados no terceiro trimestre.
A velocidade de vendas, no entanto, tem diminuído. A venda sobre oferta (VSO) foi de 50% de janeiro a setembro, ante 54,9% no mesmo período no ano anterior. Ou seja, a empresa tem carregado estoque por mais tempo, aumentando o seu custo. O estoque de apartamentos chegou a R$ 15 bilhões no terceiro trimestre, um aumento anual de 73%.
Mickelberg afirma que as vendas das unidades mais novas têm sido mais rápidas do que das mais antigas. “O que está acontecendo na nossa venda de estoque é que há mais venda do estoque em andamento e estamos realmente abaixo na venda de estoque pronto. Esse é um tema que temos trabalhado muito, até porque o custo do carrego é bastante elevado”, diz Mickelberg.
A empresa tem 71 terrenos em São Paulo, Rio e no Sul do País, entre os quais 31 são para novos empreendimentos de luxo ou alto padrão. Com isso, a empresa deve continuar a ter lançamentos de edifícios bilionários no ano de 2026.
Lavvi
Uma das empresas nas quais a Cyrela tem participação, a Lavvi tem o projeto assinado pela grife Versace em Moema. O projeto de R$ 710 milhões de VGV também contará com unidades não residenciais que serão alugadas por meio da plataforma de locação de curta duração Charlie — outra investida da Cyrela.
Nesse empreendimento, a plataforma terá apartamentos de uma nova categoria chamada One of a Kind Hotel Charlie Ibirapuera. Esse selo será dedicado a projetos de arquitetura autoral e serviços diferenciados.
Edifício da Lavvi tem decoração com móveis da Versase Foto: Manuel Sá/Divulgação/Charlie
O projeto reúne 16 investidores que fizeram carreira em empresas como Ambev, LVMH e Nannai Hotels. Liderado por Ricardo Melo e Luiz Otávio de Meira Lins, o grupo aportou R$ 40 milhões na aquisição das 54 unidades não residenciais destinadas aos hóspedes. O Charlie vai operar mais 38 unidades, totalizando 92 apartamentos no edifício. As reservas serão abertas em dezembro, com diárias previstas entre R$ 700 e R$ 1 mil — valores que devem subir de acordo com as sazonalidades de mercado.
Segundo os investidores, a assinatura da grife no empreendimento adiciona 50% sobre o valor típico de uma diária. Embora a assinatura traga valor, a operação hoteleira não tem vínculo com a marca.
Allan Sztokfisz, CEO do Charlie, diz que a ideia da linha chamada One of a Kind, da qual a nova operação faz parte, será dedicada a edifícios que tenham experiência de uso diferenciada, com oferta de serviços ou decoração exclusiva. O executivo não descarta ampliar a presença da plataforma em outros empreendimentos assinados, mas esse não será o fator preponderante para a ampliação dessa categoria de locação de curta duração.
“Existe interesse em novas oportunidades, mas não é simples de viabilizar. Vai ser sempre mais pela incorporadora, porque é dela que surge a parceria”, afirma Sztokfisz.