A construção no Luxemburgo continua em crise, apesar de uma ligeira melhoria, enquanto em Portugal está a crescer solidamente e a bom ritmo. Um cenário oposto ao do Grão-Ducado, mas com uma luta em comum: falta de mão de obra qualificada.

Nos últimos anos, a tendência crescente da construção portuguesa -cujo índice de produção do setor cresceu 3,1% em 2024, e o emprego aumentou 1,3% – tem vindo reduzir o fluxo migratório dos trabalhadores do setor para o Grão-Ducado. Atualmente, assiste-se cada vez mais a um fenómeno inverso: o regresso destes trabalhadores a Portugal.

“Há cada vez mais portugueses a deixar a construção no país para voltarem para Portugal e continuarem lá a sua profissão nas obras”, garantem ao Contacto os sindicalistas Joe Gomes, da OGBL, e Liliana Bento, da LCGB, ambos do setor da construção.

“Portugal melhorou os salários na construção e agora a diferença já é pouca em relação ao que se vem ganhar para cá e para o nível de vida caro deste país. Por isso, os trabalhadores portugueses, sobretudo os que vêm para cá sozinhos, estão a preferir regressar a casa, para junto da família”, conta a secretária sindical adjunta da LCGB.

Estes trabalhadores fazem as contas: emigram sozinhos para trabalhar na construção no Luxemburgo, muitos vivem em quartos arrendados, pagam rendas elevadas. No final do mês, sobra pouco para enviar à família. “O que se ganha na construção não justifica viver longe de casa e sozinho. Muitos acabam por voltar para Portugal e mesmo que trabalhem em obras noutra região, o país é pequeno e podem visitar a família todos os fins de semana”, conta a sindicalista.  

Não são apenas os imigrantes sozinhos que estão a voltar para o país natal. “Estamos a assistir a muitos regressos mesmo de famílias: trabalhador da construção e núcleo familiar”, diz Joe Gomes, secretário central adjunto da OGBL.

Também este sindicalista justifica a “pouca diferença salarial” no setor, cujo patronato no Luxemburgo “desvaloriza” os trabalhadores e teima em “não aumentar os salários”: “Os imigrantes estão a voltar para Portugal que lhes oferece, neste momento, perspetivas de qualidade de vida mais agradáveis. Entendem que a diferença dos ordenados neste setor já não justifica viver imigrado”.

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Empresas do Luxemburgo a construir em Portugal

Não são só os trabalhadores a voltar. A vitalidade da construção em Portugal está também a atrair empresas luxemburguesas. “Há várias empresas de construção daqui a abrir filiais em Portugal, a lançarem-se em projetos de construção, alguns de grande envergadura. Algumas são empresas de portugueses, outras não”, sublinha Liliana Bento.

“Também essas empresas têm levado trabalhadores portugueses seus para os projetos em Portugal. Além do regresso ao país natal, estes trabalhadores vão com emprego garantido e na mesma empresa para a qual aqui trabalhavam”, realça. É uma oportunidade da família regressar.

No Luxemburgo, a crise do setor tem levado a muitas falências e desemprego. Mas, além da crise, há muitos trabalhadores a deixar empresas privadas da construção, seja para trabalharem nas comunas, que têm investido na própria construção de imobiliário, seja pela oferta de emprego noutros setores que, em tempos de crise, vão buscar trabalhadores às obras, destaca, por seu turno, Joe Gomes.

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Se por um lado, os estaleiros estão a perder trabalhadores para Portugal, por outro, há cada vez menos portugueses a imigrarem para trabalhar na construção do Luxemburgo. “São cada vez menos os que chegam de Portugal, agora vêm poucos emigrantes, sobretudo jovens que desejam instalar-se no país”, esclarece Liliana Bento. Os que estão a chegar, adianta a sindicalista, são sobretudo pessoas mais velhas, sozinhas, que como “último fôlego” antes da reforma, decidem vir trabalhar para a construção  no Luxemburgo. Ou para ajudar a pagar a universidade dos filhos, comprar a casa em Portugal ou ganhar mais um pouco nos últimos anos de carreira, especifica Liliana Bento.

As estatísticas oficiais comprovam a diminuição dos portugueses na construção: Entre março de 2022 e mesmo mês de 2025, a população portuguesa neste setor diminuiu 15%, em números absolutos perdeu 2.430 trabalhadores lusos.

Estes são os dados da Inspeção-Geral da Segurança Social (IGSS) luxemburguesa que, como noticiado pelo Contacto revelam que o pico de trabalhadores de nacionalidade portuguesa no setor foi atingido em 2022, com 15.830 trabalhadores. A partir de 2023, porém, a tendência inverteu-se e o número foi caindo até aos 13.400, em março deste ano.

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