O governo da região administrativa especial chinesa concluiu, esta sexta-feira, que o incêndio que deflagrou esta semana um complexo residencial em Hong Kong foi agravado devido aos andaimes de bambu e painéis de isolamento de espuma inflamáveis utilizados na renovação do condomínio.
O apuramento das causas que levaram ao incêndio mais mortífero em décadas em Hong Kong continua a decorrer. No entanto, o relatório de peritagem preliminar indica que os materiais utilizados nas obras que estavam em curso no prédio contribuíram para a progressão das chamas e para que as temperaturas registadas no local fossem mais elevadas.O incêndio deflagrou na quarta-feira e provocou a
morte de pelo menos 128 pessoas. O último balanço das autoridades locais
aponta que 200 pessoas continuam desaparecidas, há registo de 79
feridos e 89 corpos resgatados não foram ainda identificados.
As investigações iniciais apontam para que o fogo tenha começado “na tela de proteção [material de espuma para proteger contra propagação de pós e queda de objetos] localizada na parte externa dos andares inferiores (…), [que] subiu rapidamente devido aos painéis”, que protegiam as janelas, segundo o chefe de segurança da região administrativa especial chinesa, Chris Tang.
Quem já tinha chegado às mesmas conclusões há mais de um ano haviam sido os moradores do Wang Fuk Court, edifício onde começou o incêndio que destruiu um complexo de arranha-céus em Hong Kong e causou pelo menos 128 mortes.
Em denúncias entregues à Direção dos Serviços para os Assuntos Laborais em setembro de 2024, os habitantes levantaram preocupações sobre os mesmos materiais que são agora mencionados no relatório. A informação é avançada pelo The New York Times, que teve acesso aos emails enviados pelos residentes do condomínio.
Nas mensagens, alertavam para o risco de inflamação das redes que cobriam os andaimes de bambu, de modo a impedir a queda de objetos sobre os transeuntes, e os painéis de espuma de poliestireno (comumente conhecido por esferovite) instalados para impossibilitar que os vidros das janelas partissem.
Em comunicado, citado pelo jornal norte-americano, a Direção dos Serviços para os Assuntos Laborais, responsável por supervisionar a segurança no trabalho, admitiu ter rejeitado inicialmente as preocupações dos residentes sobre o projeto de renovação do condomínio, alegando a inexistência de normas sobre o uso de materiais inflamáveis em andaimes.
Posteriormente, o organismo governamental informou os moradores que os materiais utilizados na obra atendiam às normas de segurança contra incêndios, segundo documentos apresentados pela empreiteira Prestige Construction and Engineering referidos pelo The New York Times.
Todavia, em declarações ao mesmo jornal, a Direção dos Serviços para os Assuntos Laborais declarou ter prosseguido para a realização de 16 inspeções no Wang Fuk Court iniciados em julho de 2024, das quais a mais recente remete a uma semana antes do incêndio. A entidade alega, desta vez, ter identificado várias violações das normas de segurança e alertado a empreiteira sobre o perigo da construção.
Deixando por esclarecer quais os tipos de infrações detetadas, a organização limitou-se a informar que, antes do incêndio, tinha aberto três “processos judiciais” e emitido seis notificações a exigir melhorias no Wang Fuk Court.
Na sequência das investigações da catástrofe, a agência de combate à corrupção de Hong Kong revelou, esta sexta-feira, ter detido sete homens e uma mulher, com idades compreendidas entre os 40 e os 63 anos, por suspeita de corrupção.
Entre as detenções estão dois responsáveis do gabinete de estudos encarregado pelos trabalhos de renovação, dois chefes de obra, três subcontratantes de andaimes e um intermediário por suspeita de homicídio culposo e negligência.
Além disso, foram executadas buscas aos escritórios da empreiteira Prestige Construction and Engineering, tendo sido apreendidos documentos, 14 computadores e três telemóveis.