O debate começou com o moderador José Alberto Carvalho a partilha a sua esperança de que fosse “possível trocar argumentos e contribuir para o esclarecimento dos eleitores”, mas poucos segundos demoraram para o início dos ataques cruzados entre os dois candidatos presidenciais.
Perante uma pergunta do jornalista da TVI sobre a falta de reação pública a uma operação da Polícia Judiciária que levou à detenção de 10 militares da GNR e um agente da PSP por suspeitas de exploração de imigrantes, alguns dos quais ilegais, Ventura respondeu com uma fotografia de outra operação policial, no Centro Comercial Babilónia, na Amadora, apontando para a “fila de ilegais”.
Admitindo que o caso no Alentejo “é um crime e tem de ser punido”, Ventura não demorou a acusar Catarina Martins, antiga coordenadora do Bloco de Esequerda, de fazer aprovar a Lei de Estrangeiros e a Lei da Nacionalidade que, nas suas palavras, fez disparar o número de crimes de tráfico de seres humanos e de auxílio à imigração ilegal.
A eurodeputada bloquista respondeu que “não faz sentido” dizer que “quem fez leis humanistas” contribuiu para o acréscimo de criminalidade, acrescentando que o adversário deveria demonstrar maior compreensão, visto que dois deputados da sua bancada foram imigrantes ilegais. Falava de José Dias Fernandes e Marcus Santos, mas Ventura acusou-a de “mentir em direto na televisão” ao dizer que o primeiro, eleito pelo círculo da Europa, foi condenado por esse crime.
Defendendo que, ao contrário de Ventura, “não ataco as pessoas, mas ataco a criminalidade”, Catarina Martins disse que levou à Procuradoria-Geral da República dados sobre empresas que exploravam trabalhadores imigrantes. E acusou o líder do Chega de querer “tratar como criminosos” pessoas que “têm de ter tratamento condigno”, também porque as suas contribuições “pagam 450 mil pensões médias em Portugal”.
Recorrendo à conquista do Mundial de Sub-17 por Portugal, ocorrida na quinta-feira, a bloquista disse que, com as legislação defendida pelo Chega, o jovem futebolista Anísio Cabral, filho de guineenses, “nunca poderia ser português”. E daí partiu para uma frase que aqueceu o debate: “O Dr. Ventura odeia Portugal, odeia as pessoas que o trabalham.”
Foi um momento de viragem, e que afastou ainda mais o debate das palavras iniciais de José Alberto Carvalho. “Se é para fazer isto…”, disse Ventura, antes de afirmar que no Chega “nunca despedimos grávidas, como no Bloco de Esquerda”. E referiu-se ironicamente às “leis humanistas” que disse terem conduzido o crime de tráfico humano a aumentar 150% e o de auxílio à imigração ilegal a subir 300%, enquanto se “permitia que a bandidagem entrasse toda”, apontando Brasil e Bangladesh como duas fontes de ilegais.
Os risos da adversária levaram Ventura a dizer a Catarina Martins que “pode-se rir de mulheres voladas, de lojas roubadas, de crianças abusadas, de pessoas que deixaram de ter segurança nas suas cidades”. E rematou que, “entre nós, quem ama Portugal sou eu”.
Com o líder do Chega a dizer que não foi ele quem procurou extinguir o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, Catarina Martins relativizou o impacto da imigração na criminalidade, citando o diretor nacional da Polícia Judiciária, que estimou em 1% do total a criminalidade relacionada com a imigração.
Numa fase de ainda maior hostilidade – com Ventura a comentar “eu sei que é atriz”, Catarina Martins a responder “eu sei que é pantomineiro”, e este a retorquir que “é atriz e má atriz” -, a eurodeputada disse que 40% da bancada parlamentar do Chega “tem ou já teve problemas com a justiça” e associou a defesa dos vistos gold pelo adversário a um aumento de 49% do investimento russo desde a invasão da Ucrânia. “Ventura não gosta é dos imigrantes que trabalham, dos imigrantes pobres”, concluiu.
O líder partidário aproveitou para dizer que Catarina Martins “não pode falar dos crimes da sua bancada, porque não tem bancada”, numa referência ao facto de o Bloco de Esquerda ter ficado reduzido à deputada única Mariana Mortágua, prestes a renunciar ao mandato, nas últimas legislativas. Foi motivo para mais uma troca de acusações de tontice, e para novo riso da bloquista. “Posso rir-me de si todos os dias”, defendeu, ouvindo “pode rir-se até chegar aos zero por cento”.