Quase metade dos alunos do Secundário optavam, há cerca de dez anos, pela vertente de estudos em cursos profissionais, garantindo que aprendiam, mais do que o currículo, uma profissão adequada à sua vocação, na qual conseguiam ingressar de imediato. A opção gerava oportunidades de emprego que crescentemente ganharam valor, fruto de um impluso dado a esta vertente de estudos secundários. Esse ímpeto, porém, vem abrandando desde então, revelando-se em apenas 60 mil jovens a optar por estes cursos aos dias de hoje e numa consequente carência dramática de meios em muitas áreas, que faz da necessidade de encontrar os recursos humanos necessários uma missão quase impossível para algumas empresas.
Portugal está hoje entre os 10 países da União Europeia com menor percentagem de alunos no ensino profissional, abaixo da média europeia, uma realidade que a Associação Business Roundtable Portugal (ABRP), que reúne 43 líderes de empresas e grupos empresariais de diferentes setores, geografias e fases de desenvolvimento, está empenhada em ajudar a mudar, pelo que deu vida ao PRO’4U – Open Day Ensino Profissional, uma iniciativa nacional que pretende valorizar o ensino profissional como via de futuro, aproximando alunos, famílias, escolas e empresas.
Abrindo as portas das grandes empresas do país a eventuais futuros colaboradores, a ABRP está a mostrar os atrativos da profissonalização conseguida nesta via de ensino e a cada vez mais real valorização dos empregos que com essa formação se consegue aceder. Depois da Sovena (veja aqui), nesta semana foi a Solverde a revelar o potencial que existe na hotelaria e restauração aos alunos da Escola Profissional de Espinho.
Em entrevista ao SAPO, o CEO da empresa, Manuel Violas, explica porque vê no ensino profissonal “um parceiro estratégico, nunca uma alternativa de segunda linha”. E garante que o futuro passa por “parcerias sólidas entre empresas e escolas”, um elemento fundamental para “aproximar o ensino da realidade do mercado de trabalho”.
Hoje há uma consciência crescente de que o ensino profissional não só tem valor, como oferece percursos de carreira muito concretos, com empregabilidade real e rápida. Em muitos casos, abre portas que algumas licenciaturas, mais teóricas, não conseguem garantir.
Open Day Solverde
Créditos: Álvaro Miranda/Solverde
Portugal de certa forma “esqueceu” o ensino profissional nas últimas décadas, apostando tudo na via universitária. Há ainda algum estigma ou hoje já se entende que o ensino profissional tem valor e abre possibilidades de carreira que algumas licenciaturas não conseguem dar?
Durante muitos anos, em Portugal, existiu uma tendência clara para valorizar quase exclusivamente o ensino universitário. O ensino profissional foi, de certa forma, colocado em segundo plano, apesar de ser fundamental para setores como o turismo, a hotelaria e o entretenimento — áreas em que o país é altamente competitivo. Felizmente, isso tem vindo a mudar. Hoje há uma consciência crescente de que o ensino profissional não só tem valor, como oferece percursos de carreira muito concretos, com empregabilidade real e rápida. Em muitos casos, abre portas que algumas licenciaturas, mais teóricas, não conseguem garantir. No nosso setor, por exemplo, sabemos que competências práticas, técnicas e comportamentais — desde a operação de jogo, à gestão hoteleira, à restauração — são determinantes para construir carreiras sólidas e evolutivas. Por isso, vemos o ensino profissional como um parceiro estratégico, não como uma alternativa de segunda linha.
Como é que a parceria entre empresas e escolas, promovida por este tipo de eventos, pode facilitar a integração dos jovens no mercado de trabalho e garantir melhores condições e perspetivas de carreira?
Parcerias sólidas entre empresas e escolas são fundamentais para aproximar o ensino da realidade do mercado de trabalho. Estes eventos permitem aos jovens conhecer melhor as necessidades das empresas e, ao mesmo tempo, dão às empresas a oportunidade de identificar talento, partilhar conhecimento e influenciar positivamente a formação das futuras gerações e portanto os benefícios são mútuos. Para os jovens, facilita muito a integração no mercado, porque entram já com competências práticas, alinhadas com aquilo que as empresas realmente procuram. Para as empresas, significa contar com profissionais mais preparados, motivados e conscientes das exigências e das oportunidades de carreira. Estas parcerias permitem-nos oferecer estágios, programas de formação e percursos de progressão que ajudam os jovens a iniciar a sua carreira com bases sólidas e com perspetivas reais de evolução. É um investimento no talento que garante melhores condições, maior qualificação e um futuro mais competitivo quer para os profissionais, quer para as organizações.
Estas parcerias permitem-nos oferecer estágios, programas de formação e percursos de progressão que ajudam os jovens a iniciar a sua carreira com bases sólidas e com perspetivas reais de evolução.
O turismo contribui de forma fundamental para o PIB português, mas também é das áreas onde se tem verificado mais escassez de recursos humanos em diversas áreas. De que forma podem iniciativas como o Open Day Solverde contribuir para reverter a tendência, nomeadamente contribuindo para que se invista mais no ensino profissional nestas áreas – quer para formação quer para reconversão profissional?
O turismo é um dos motores da economia portuguesa e um contributo decisivo para o nosso PIB. No entanto, é também um setor que enfrenta desafios significativos na captação e retenção de talento, desde áreas operacionais até funções mais especializadas. Iniciativas como o Open Day Solverde têm um papel muito importante na inversão desta tendência. Ao abrir as portas das nossas unidades, mostramos aos jovens a realidade do setor: um setor dinâmico, exigente, mas cheio de oportunidades de crescimento. Além disso, estes eventos fortalecem a ligação entre empresas, escolas e centros de formação. Ao demonstrarmos as competências que valorizamos e ao disponibilizarmos oportunidades concretas, incentivamos o investimento no ensino profissional. Para nós, é simples: quanto mais proximidade houver entre o setor e o ensino, mais talento conseguimos atrair, qualificar e desenvolver.
Que competências e valores são mais valorizados atualmente pela Solverde na seleção de novos profissionais e de que forma é que o ensino técnico-profissional pode ajudar a responder a essas necessidades?
Na Solverde valorizamos, naturalmente, competências técnicas, mas acima de tudo procuramos pessoas com atitude, rigor e vontade de evoluir. O nosso setor exige profissionalismo, foco no cliente, responsabilidade operacional e uma forte cultura de equipa — e são estes valores que mais pesam na seleção de novos profissionais. O ensino técnico-profissional tem aqui um papel essencial. É uma via de formação que prepara os jovens de forma muito prática, orientada para o mundo real, e com foco exatamente nas competências que o mercado precisa. Estes cursos permitem desenvolver saber-fazer, cultura operacional, responsabilidade e disciplina, ao mesmo tempo que oferecem bases sólidas para evolução dentro da empresa. Por isso, vemos o ensino profissional como um aliado estratégico na formação do talento que queremos atrair e desenvolver na Solverde.
O ensino técnico-profissional tem aqui um papel essencial. É uma via de formação que prepara os jovens de forma muito prática, orientada para o mundo real, e com foco exatamente nas competências que o mercado precisa.
Open Day Solverde
Créditos: Álvaro Miranda/Solverde
Que mensagem deixaria aos jovens que estão a decidir neste momento o seu futuro profissional, para que considerem o ensino técnico-profissional como uma via de sucesso e realização pessoal?
Aos jovens que hoje estão a decidir o seu futuro, deixo uma mensagem muito clara: o ensino técnico-profissional é uma via de sucesso, de realização e de oportunidades muito concretas. Não é uma alternativa ‘menor’ — é um caminho sólido para construir uma carreira com futuro, especialmente em setores dinâmicos como a hotelaria, o turismo e o entretenimento. O ensino técnico-profissional oferece uma preparação prática, próxima das empresas, que permite entrar mais rápido no mundo do trabalho e crescer com experiência, responsabilidade e confiança.
A aproximação entre o setor empresarial e o ensino técnico-profissional é a chave para conseguirmos atrair e qualificar novas gerações.
Não tenham receio de escolher a via que vos aproxima daquilo que gostam de fazer. As carreiras fazem-se de talento, empenho e vontade de aprender. Se escolherem um percurso que vos motive e vos desafie, terão sempre espaço para crescer, especializar-se e chegar mais longe do que imaginam. O mais importante é dar o primeiro passo com convicção. O futuro constrói-se com escolhas corajosas — e o ensino técnico-profissional pode ser uma delas.
Que papel devem ter as empresas na criação de um novo fôlego para áreas de formação mais técnicas e em que há tanta necessidade de pessoas?
As empresas têm hoje um papel determinante na criação de um novo fôlego para as áreas de formação técnica. Não podemos ficar à espera que escolas e centros de formação façam esse caminho sozinhos. Cabe-nos, enquanto empregadores, mostrar claramente quais são as necessidades reais do mercado, que competências valorizamos e que oportunidades de carreira conseguimos oferecer. Quando as empresas assumem esta responsabilidade — abrindo portas, promovendo eventos, oferecendo estágios, apoiando currículos e investindo na formação contínua — criam um ecossistema muito mais atrativo para quem está a escolher um percurso profissional. E isso é fundamental num momento em que há tanta escassez de talento em várias áreas operacionais.
O ensino técnico-profissional oferece uma preparação prática, próxima das empresas, que permite entrar mais rápido no mundo do trabalho e crescer com experiência, responsabilidade e confiança.
No caso da Solverde, acreditamos profundamente que a aproximação entre o setor empresarial e o ensino técnico-profissional é a chave para conseguirmos atrair e qualificar novas gerações. Ao participar ativamente neste processo, estamos não só a responder às nossas necessidades de recrutamento, mas também a contribuir para o desenvolvimento de carreiras sólidas e para a competitividade futura de setores que são estratégicos para o país. Em resumo, o papel das empresas é liderar pelo exemplo: envolver-se, investir, formar e valorizar o talento técnico. Só assim conseguiremos transformar estas áreas em escolhas profissionais de primeira linha.
Open Day Solverde
Créditos: Álvaro Miranda/Solverde