Quanto à saída de Maduro, o comentador considerou que seria muito bem recebida pela população, recordando o impacto da crise no país
A Venezuela transformou-se num “novo foco de tensão ou pelo menos uma tensão mais ameaçadora”, alertou Paulo Portas este domingo. No seu habitual espaço de análise, no Jornal Nacional da TVI, do mesmo grupo da CNN Portugal, o comentador destacou os riscos que a crise representa para os cerca de 300 mil portugueses que ainda vivem no país, sobretudo os da Madeira, muitos deles pequenos comerciantes com prestígio na restauração, que têm “tentado sobreviver num regime em deterioração” liderado por Nicolás Maduro.
Para Paulo Portas a presença militar norte-americana na região tem uma explicação. “Os americanos colocaram uma força naval e, não só, bastante expressiva nas imediações da Venezuela, e isso não é, obviamente, para atingir pequenas embarcações, ainda que sofisticadas, que possam levar droga. Para isso, a força aérea ou o drone são suficientes”, explica. O comentador aponta três cenários possíveis: bloqueios marítimos ou aéreos, uma negociação para a saída de Maduro ou uma invasão terrestre, considerando todos eles problemáticos por razões diferentes.
Sobre os bloqueios, Portas é claro em afirmar que afetam sobretudo os mais vulneráveis. “Os bloqueios nunca prejudicaram os oligarcas, que continuam a ter remédios, continuam a ter refeições, continuam a ter muito mais do que o básico. Os bloqueios prejudicam os mais pobres em qualquer sociedade”. Além disso, alerta que os Estados Unidos não podem abusar da extraterritorialidade. “Eles têm todo o direito de vetar interferências no seu espaço aéreo, mas comportar-se como o dono do espaço aéreo de outro país abre precedentes, como é evidente”.
Quanto à saída de Maduro, o comentador considerou que seria muito bem recebida pela população, recordando o impacto da crise no país. “A Venezuela perdeu entre 7 e 8 milhões de pessoas, hoje é uma população de cerca de 28 milhões, já foi muito mais, e as pessoas mais jovens, abaixo dos 40 anos, quase todas fugiram, porque não têm nenhuma expectativa de futuro ali”. Apesar de ainda deter as maiores reservas de petróleo do mundo, a produção diária do país caiu drasticamente, de vários milhões de barris para menos de um milhão. “A Venezuela é hoje muito mais pobre comparativamente do que era antes do regime bolivariano”, acrescentou.
Perante consecutivas ameaças de Trump de invadir o país por via terreste, Paulo Portas alerta para a complexidade da operação. “A Venezuela tem um regime com armas distribuídas bairro a bairro, com milícias populares, portanto eu espero que a expectativa de qualquer invasão terrestre não aconteça”, realça, sublinhando o paradoxo da influência norte-americana. “Obviamente isso seria a doutrina Monroe, ao contrário, os americanos usaram a doutrina Monroe para, diziam eles, evitar as interferências dos europeus na América Latina, agora parecem usá-las para aumentar a sua própria influência”.