O dia era de comemorações — pelo 1.º de dezembro, data da restauração da independência portuguesa –, mas afinal o tom acabou por azedar. Isto porque o antigo líder do CDS José Ribeiro e Castro discursou nas comemorações oficiais da data, enquanto presidente da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, e surpreendeu ao desabafar que está “embaraçado por ter votado AD”.
A crítica surgiu depois de Ribeiro e Castro ter falado na falta de apoios para a sociedade a que preside, assim como na dificuldade em conseguir sequer encontrar-se com Luís Montenegro, que não esteve presente na cerimónia no Terreiro do Paço, em Lisboa, fazendo-se representar pelo ministro da Defesa, Nuno Melo. Nas cerimónias estavam também Marcelo Rebelo de Sousa, que tal como é habitual não discursou, e o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas.
“O panorama de declínio dos apoios governamentais vem de governos de há 25 anos. Tínhamos esperança de que agora fosse definido um quadro novo”, explicou Ribeiro e Castro durante o seu discurso, criticando o Executivo: “O Governo responde à indiferença com indiferença”.
E fez um mea culpa: “Antes podia refugiar-me na ideia de que não tenho culpa, não votei PS, mas agora embaraço-me ao dizer aos meus botões: eu tenho culpa, eu votei AD. É um pensamento bastante insuportável”, desabafou.
“Sem prejuízo dos ministros setoriais, isto constitui matéria do primeiro-ministro. Não conseguimos ser recebidos nem que participe em cerimónias que organizamos. Seguimos à espera”, atirou ainda.
Para mais, Ribeiro e Castro fez questão de contar a história de uma mulher que encontrou nas comemorações, que queria levar um presente a Montenegro (uma bandeira que assinala os 900 anos do país) e que ficou desiludida por o primeiro-ministro não estar, recordando que António Costa marcou presença várias vezes nas cerimónias.
“Um primeiro-ministro não deve faltar onde faz falta. Não vejo coisa mais importante para fazer no dia das comemorações da independência”, terá dito ao democrata-cristão, que se mostrou em concordância. À saída, e interpelado pelos jornalistas sobre o discurso de Ribeiro e Castro, Melo assegurou que no 1.º de dezembro não há “melindres”: “Deus me livre”.
Já o ministro da Defesa aproveitou, no seu discurso, para fazer o elogio das Forças Armadas, “hoje legatárias do espírito do 1º de dezembro, porque são a manifestação viva da essência da nação portuguesa”, e do programa de investimento — referindo-se à candidatura formal de Portugal ao programa europeu de empréstimos para a Defesa SAFE — para o setor.
“É também a pensar neles [membros das Forças Armadas] que ontem lançámos o maior programa de investimento de uma só vez nos três ramos, 5,8 mil milhões de euros mobilizados para a aquisição de navios, veículos blindados, satélites, defesas anti-aéreas, reservas de munições e drones”, explicou. E garantiu que este investimento também vai “alavancar a economia e chamar as indústrias nacionais”.
Esse pacote, argumentou, é particularmente no atual contexto internacional, para Portugal poder garantir que se consegue proteger.
“As autocracias desafiam as democracias. Há povos que lutam e morrem porque querem escolher livremente o seu destino, como nós fazemos. E outra parte do planeta não se revê nos mesmos valores e modo de vida. Por isso investimos também por nós próprios, a pensar na Defesa e nas oportunidades para o país avançar”.
“A grandeza do presente está também nos portugueses que se superam todos os dias”, acrescentou, falando em profissionais de saúde, professores, agricultores, guardas e polícias, empresários ou desportistas. “Os portugueses são um povo extraordinário”.