“Hoje subimos a este palco com o coração apertado e uma certeza simples: o Jorge merecia estar aqui. Não subimos para enaltecer, mas para o recordar. Recordar quem ele foi um homem íntegro, de uma honestidade rara, discreto e realmente bom. O Jorge era o melhor marido, o melhor pai, o melhor avô do mundo. Era o nosso pilar. Era das pessoas mais honestas e generosas que conheci. É impossível estar aqui sem sentir a falta da sua presença, daquele sorriso discreto, tímido, daqueles olhos azuis. Apesar da sua relevância no futebol, era de uma simplicidade rara. Tão simples que sem querer iluminava tudo á sua volta”, começou por dizer Estela Costa, viúva do falecido capitão do F. C. Porto.
“Ele não precisava de se fazer notar. O Jorge liderava sem ego e inspirava-se em esforço. Era assim em casa, no balneário, no mundo, leal e verdadeiro. O futebol era o seu território natural, mas quem o conhecia de perto sabia que por detrás da força havia uma lealdade profunda e um sentido de justiça inabalável. O seu pior defeito era também a sua maior virtude: não saber perder. Foi dessa recusa em aceitar perder, dessa incapacidade de desistir ou baixar os braços que nasceu o líder, o capitão, o homem que todos recordam e que ficará para sempre na memória, no exemplo e na inspiração que deixa”, acrescentou.
A presença dos sócios e dos adeptos no adeus também mereceu uma menção. “A todos os que sentem saudades, a todos os que escrevem sobre o Jorge, a todos que continuam a falar dele, e sabemos que são muitos, deixamos a nossa gratidão mais profunda. Obrigado por não o deixarem desaparecer. Aos adeptos e sócios que esperaram horas no Dragão para se despedir, aos que gritaram o seu nome, aos que o acaompanharam na despedida final, o nosso mais profundo agradecimento. Essa onda de amor ficará para sempre connosco. Ao Coletivo, obrigado por continuarem a erguer a camisola do Jorge. A todos os atletas do F. C. Porto e suas equipas técnicas, obrigado pelas manifestações de carinho, cada presença significou mais do que podem pensar”, referiu.
Estela Costa destaca, ainda, dois atletas do F. C. Porto em particular “que por detalhes simples” foram marcantes. “Ao nosso capitão Diogo Costa, obrigado pela delicadeza e simplicadade com que sempre me cumprimentou. Vejo nele traços do Jorge: humildade, gentileza, ausência de ego. Tal como o Jorge é e deverá ser uma referência para as gerações futuras. A nossa jogadora Adriana Semedo, obrigado por sentires falta do Jorge quando olhas para a bancada. Por te lembrares dele, por teres saudades, as tuas palavras emocionaram-me e refletem o compromisso que ele tinha em levar o clube em todas as frentes”, disse, deixando ainda uma palavra em nome da família ao presidente do F. C. Porto.
“A todos os que partilhavam o dia a dia com o Jorge, obrigado por tudo o que de bom fizeram com ele e por ele. A nossa gratidão não tem limites. Por fim, queremos aproveitar esta oportunidade para agradecer á direção do F. C. Porto e em particular ao presidente André Villas-Boas. Este agradecimento peca por tardio. A dor e a falta de disponibilidade emocional às vezes deixam-nos ausentes do que também precisa de ser dito. Presidente, obrigado pela forma como cuidou de nós, pela sua competência humana, por nos ter estendido a mão quando mais precisamos. Por todas as horas em que permaneceu de pé em homenagem ao seu amigo, numa dignidade que jamais esqueceremos”.
“O presidente não sabe, mas eu fui buscar forças à sua força. Copiei a sua costura, quis dar ao Jorge a despedida que merecia, quis estar à altura do homem que ele foi. Talvez no coração do presidente existam dúvidas, talvez culpa, talvez o pensamento de que se o Jorge não tivesse regressado ao F. C. Porto ainda estaria connosco. Eu gostava de lhe acalmar o coração e dizer que a nossa família acredita profundamente que nada acontece por acaso. O Jorge esperou 20 anos para regressar a casa. Regressou graças ao presidente André. Voltou quando o clube mais precisava dele, essa é a nossa convicção. O regresso do presidente e do Jorge ao F. C. Porto foi, acima de tudo, um ato de amor e coragem. Há pessoas cujo propósito de vida ultrapassa própria existência”, completou.
“Hoje ao recebermos este Dragão de Ouro, prometemos honrar a memória de um homem que nunca procurou aplausos, mas que os mereceu todos. Da sua mãe, Maria Adelaide, e de toda a família: obrigado. Em nome do Jorge e com todo o nosso amor, obrigado”, finalizou.