– Costumo dizer aos meus jogadores que nunca devemos apressar uma reposição de bola após um lance de perigo junto à nossa baliza.
– A premissa explica-se facilmente em dois actos: o adversário está momentaneamente moralizado pelo frissom causado, o que o leva a estar mais bem preparado para uma recuperação de bola em zona alta; o desconforto sentido aquando da aproximação perigosa do adversário requer frieza e assertividade em termos de raciocínio para que a tomada de decisão tenha qualidade;
– Terá faltado precisamente isso ao Estoril no Estádio do Dragão quando, aos 7 minutos, Joel Robles acelerou a Fase de Construção da equipa canarinha após ataque portista;
– Muitos olham para o golo de William Gomes e crucificam Holsgrove. O n.º 10 estorilista não tomou a melhor decisão, é um facto, mas está longe de ser o único responsável pelo golo inaugural (e final) da partida;
– Senão vejamos: aquando do passe de Robles para Bouma, o Estoril dispunha de uma situação de 7 vs 4 no seu meio-campo defensivo;
– À vantagem numérica poder-se-ia ter juntado a vantagem posicional. Para isso, o guarda-redes espanhol deveria ter aguardado mais alguns segundos para que os seis colegas mais próximos garantissem uma (ou mais) linha(s) de passe em largura;
– Caso isso tivesse acontecido, os quatro jogadores do FC Porto teriam uma maior zona de terreno para cobrir. A partir daí seria mais fácil optar por uma saída cuja ligação fosse limpa por fora ou 100% segura por dentro;
– Assim que Bouma recebeu a bola com os apoios orientados para dentro, Samu encarregou-se de saltar na pressão sobre o portador da bola;
– Simultaneamente, William Gomes procurou fechar a linha de passe para Robles e Bacher, num movimento típico azul e branco sempre que, em organização, defende em 1x4x4x2;
– Pressionado pelo movimento de Samu, Bouma poderia ter progredido com bola para o corredor lateral direito. Teria sido a opção mais lógica, mas o defesa central estorilista fez o que habitualmente faz: procurou ligação interior com Holsgrove;
– Ainda antes do passe de Bouma para o seu médio mais próximo, Rodrigo Mora estava a dividir o espaço entre Holsgrove e Orellana. Ao ver que a bola ia entrar no escocês, Mora deixou o raio de acção de Orellana e decidiu pressionar o n.º 10 do Estoril;
– Se Bouma tivesse aguentado a bola em seu poder por mais um segundo, e levantado a cabeça para ler a panorâmica à sua frente, teria sido possível ligar com Orellana (o homem livre) através de passe vertical;
– Ao não fazer isso, solicitou Holsgrove. O escocês jogou de cor, sem rodar o pescoço para o scanning, e recuou a bola na direcção de Robles e Bacher;
– Nesse momento, já William Gomes tinha antecipado o passe do adversário e atacou a linha de passe com à vontade suficiente para dominar e rematar para a baliza deserta;
– Um lance aparentemente inofensivo acabou por custar três pontos ao Estoril. Tudo porque houve pressa em sair a jogar quando a equipa não estava devidamente bem posicionada para iniciar a Fase de Construção com a fluidez habitual do seu jogo posicional;
– Um erro de avaliação perfeitamente evitável, que deverá merecer análise por parte da equipa técnica de Ian Cathro.