ADRIANO BARCELOS*

O livro “Conversa Sobre Literatura”, de autoria do escritor André Amado, é uma verdadeira homenagem àqueles que amam a escrita como representação do mundo, em todas suas dimensões. André Amado, carinhosamente conhecido no meio como “embaixador” – tudo graças a 48 anos de serviço bem executados no Exterior em defesa dos interesses do país por intermédio do Itamaraty – não se contentou em, ele mesmo, expor suas opiniões sobre a abordagem das letras: autor de nove livros, Amado se despe de suas próprias impressões sobre o ofício. Laborioso, “Conversa Sobre Literatura” é um compilado fantástico de autores, ensaístas e críticos de renome que parecem dialogar em um Olimpo apartado do espaço-tempo. O tema: o de sempre, o atemporal hábito de ler e encantar com palavras.

De um parágrafo a outro, tendo como pano de fundo aspectos universais da literatura – como iniciar a narrativa de um livro, como fechá-la; estilos e personagens; o leitor, o livro, a rotina do escritor e tudo mais que contribui (ou atrapalha) na feitura das obras literárias de vulto. É nesses momentos em que a mágica acontece: Arthur Schopenhauer dialoga com Mário Vargas Llosa; nas linhas seguintes, no campo dos argumentos, Mia Couto e Jorge Luis Borges se disputam. E assim sucessivamente, num delicioso colóquio que só funciona pela escrita acurada de André Amado. É lá, na “Conversa Sobre Literatura”, que autores separados por séculos e quilômetros de distância, ganham vida (ou revida) para exporem seus pontos sobre o próprio ofício. 

André Amado, como um árbitro neutro, imparcial e despercebido, deixa a bola correr no gramado – ou nas páginas do livro. O leitor, ora convencido pela sedução de algum argumento, é convidado a repensar as convicções recém formadas e a abraçar uma nova tese que sorri frases depois. É neste gostoso vai-vem, de um bate-papo no paraíso, que o leitor se vê envolvido sem notar fluírem as 363 páginas totais da obra, publicada pela editora fluminense Ibis Libris.

O embaixador esteve na Fundação Astrojildo Pereira, em Brasília, e deu entrevista à reportagem dentro da seção “Dica Cultural FAP”.

“Esse livro surgiu da necessidade minha de entender mais de literatura, sem a pretensão de ser crítico literário, que eu não sou, e sem a vontade de sê-lo: eu acho que é uma linguagem que se usa na crítica literária para que as pessoas não entendam. Tento entender certas coisas que vão além do meu limite. Então, eu queria ter acesso a conceitos de literatura que me permitissem esse acesso e que eu pudesse compartilhar isso com as pessoas que têm os mesmos interesses e dificuldades que eu tenho”, disse o escritor.

André Amado, para a feitura desse livro, leu e fichou mais de cem obras. Algumas, por indicação de terceiros; outras, por reminiscências e referências acumuladas ao longo de sua jornada por bibliotecas e livrarias pelo mundo. Afinal, um bom escritor precisa ser, antes, um qualificado leitor.

“Você aprende lendo, a leitura é o grande instrumento de acesso ao livro. Então, quanto mais você lê, em princípio, mais bem dotado de recursos para escrever você está. Eu leio muito, li muito, eu li mais de 100 livros, sublinhei, fichei… A cada leitura eu me sentia mais apto a refletir sobre aspectos da literatura. Foi um processo autocriativo onde quanto mais eu lia, mais eu me sentia preparado para escrever. Escolhi os grandes temas da literatura, o personagem, como é que você escolhe, desenvolve, cria um personagem, a própria escritura, você termina o romance ou deixa o romance em aberto? Isso e outras coisas do tipo. Fui retirando dos grandes nomes maneiras de como eles tratavam essas temáticas e, assim, eu compus o “Conversa sobre Literatura”. 

O livro, em breve, estará disponível na plataforma Amazon. Ele está disponível em algumas livrarias. É possível obtê-lo também em contato com a editora Ibis Libris. 

* Jornalista