O anúncio surpresa de que França se prepara para reconhecer o Estado da Palestina, feito por Emmanuel Macron na noite de quinta-feira, causou uma pouco surpreendente avalanche de reacções dentro e fora de portas.
Na cena política interna, a decisão veio polarizar ainda mais um país já de si fracturado – com grande parte da esquerda a proferir um raro elogio ao Presidente francês, pedindo-lhe que tome acções concretas e rápidas “para pôr fim aos horrores cometidos pelo Governo de Netanyahu e à fome propositada”, nas palavras de Boris Vallaud, destacado militante socialista.
E com grande parte da direita a criticar Macron não só por uma decisão considerada simbólica e “inútil”, mas também porque as condições que o próprio Presidente francês tinha mencionado para o reconhecimento da Palestina como Estado – libertação de todos os reféns de Gaza e a desmilitarização do Hamas, por exemplo – não foram ainda cumpridas.
França tornar-se-á em Setembro o primeiro país do G7 a reconhecer o Estado da Palestina e o quarto país europeu, a seguir a Espanha, à Noruega e à Irlanda, a fazê-lo desde 7 de Outubro de 2023.
O Presidente dos Estados Unidos, que esta sexta-feira conversou por telefone com o primeiro-ministro israelita, despachou o assunto em poucas palavras, desvalorizando o anúncio de Macron. “O que ele diz importa pouco. É um tipo porreiro, gosto dele, mas esta declaração não tem qualquer peso”, declarou Donald Trump.
Mais contundente foi o seu secretário de Estado, Marco Rubio, que numa publicação no X disse que “os Estados Unidos rejeitam fortemente o plano de Emmanuel Macron”, acusando o francês de tomar “uma decisão imprudente” que “apenas serve a propaganda do Hamas e atrasa a paz”. Além disso, acrescentou, “é uma chapada na cara das vítimas do 7 de Outubro”.
Semelhante foi a reacção de Benjamin Netanyahu, para quem “uma tal acção recompensa o terrorismo” e pode legitimar “a criação de uma nova base avançada do Irão”. “Sejamos claros”, escreveu o governante israelita, também no X. “Os palestinianos não querem um Estado a par com Israel; querem um Estado em vez de Israel.”
De momento, a reacção das restantes capitais europeias é a de não seguir a posição francesa. A Alemanha, onde a protecção de Israel é um assunto de Estado, fez saber que “não tem no horizonte reconhecer o Estado palestiniano a curto prazo”. O ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Johann Wadephul, já dissera em Junho que fazê-lo neste momento seria dar “um mau sinal”.
Entretanto, o Reino Unido, França e Alemanha emitiram um comunicado conjunto em que afirmam que a “catástrofe humanitária em Gaza tem de terminar já”. Os três países apelam a Israel para que “levante imediatamente as restrições à entrada de ajuda humanitária”.