Portugal entrou nesta terça-feira numa onda de calor e, segundo as previsões do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), Agosto deverá continuar a ser um mês com temperaturas acima do normal para o período. Este mês, o país deverá testemunhar ainda mais noites tropicais e um agravamento da classificação de seca, que actualmente já afecta mais de dois terços do território nacional.

A primeira metade de Agosto será excepcionalmente quente, afirma ao Azul Ricardo Deus, responsável pela Divisão de Clima do IPMA. “Tendo em conta as nossas previsões, nos próximos dias a onda de calor irá estender-se a outras regiões do território, configurando os [seis] dias seguidos com temperaturas cinco graus Celsius acima do normal. Portanto, acho claramente que a partir desta terça-feira podemos afirmar que entrámos na onda de calor”, diz Ricardo Deus.

O IPMA conta com um conjunto de modelos numéricos que permitem fazer um prognóstico de até dez dias com “alguma garantia” dos valores estimados. “A partir destes dez dias, toda a lógica da previsão ganha um outro contexto e funciona um bocadinho quase como tendência. E aquilo que temos vindo consistentemente a verificar é que existe uma sintonia entre os sinais destes dois modelos”, explica Ricardo Deus. E os sinais em causa apontam para temperaturas acima do normal.

O modelo de curto prazo permite fazer previsões com maior segurança, enquanto o outro sugere tendências, mas não fornece valores precisos. “Olhando para estes dez dias e assumindo que a previsão tem a qualidade que me parece que tem, encontramos um indicador de que, em pelo menos metade do mês de Agosto, vamos estar com temperaturas muito acima do normal”, afirma o meteorologista ao telefone.


Esta vaga de calor ocorre na sequência de outros episódios de calor extremo em Junho e de uma primeira vaga de calor em Julho. “Tudo isto junto cria um contexto no qual todos temos a percepção de que a temperatura está muito elevada – e, de facto, está acima do normal. Aparentemente, caminhamos para que este mês esteja entre os meses de Agosto mais quentes registados até agora.”

As temperaturas mais altas do que a média verificam-se não só durante o dia, mas também à noite. Quando as temperaturas mínimas nocturnas se mantêm acima dos 20 graus, ocorrem as chamadas ‘noites tropicais‘, colocando os seres vivos sob stress térmico.

“A noite seria o período de recuperação para toda a vida animal – que inclui os seres humanos –, mas acaba por não ser porque continuamos com a temperatura elevada e, portanto, isto cria aqui um acréscimo no stress do nosso corpo”, refere Ricardo Deus.

Extremos absolutos

Considerando este caminho “escaldante” que Agosto está a trilhar, será que podemos bater recordes de temperatura este mês? Ricardo Deus admite que os valores que venham a registar-se sejam extremos, mas não necessariamente chegarão perto do recorde absoluto em Portugal. A temperatura mais alta alguma vez registada no país foi de 47,4 graus Celsius, assinalada a 1 de Agosto de 2003 na Amareleja, no Alentejo.


“Amareleja é um extremo absoluto excepcionalmente alto. Mas existem outros locais onde há estações meteorológicas e esses locais também têm os seus extremos. O que me parece é que, com esta configuração, com esta persistência de temperaturas muito elevadas, de ar quente e seco, poderemos estar a caminhar para poder alcançar recordes de extremos”, afirma.

Com a manutenção das temperaturas elevadas, espera-se também o agravamento da situação de seca no país em Agosto. Embora o relatório relativo ao mês de Julho ainda não tenha sido divulgado pelo IPMA, dados preliminares mostram que Portugal apresentava no final do mês passado cerca de 67% do território em condições de seca, sendo que 5% numa classe moderada e 62% fraca.

O índice meteorológico de seca (PDSI, na sigla em inglês) classifica as ocorrências em termos de intensidade: fraca, moderada, severa ou extrema. Neste momento, temos dois terços do país em situação de secura, ainda que a maior parte do território afectado registe uma seca de fraca intensidade. “Iremos potencialmente agravar as classes de seca em Agosto”, avisa o meteorologista.