Num enorme campo, logo a seguir à placa que indica os limites da aldeia de Aigra Nova, uma estufa assinala o local onde está situada a única maternidade de árvores do país. Ao lado, ao ar livre, uma vasta extensão de caixas alinhadas, mostra as ramas das árvores que, quando atingirem o ponto certo, vão aumentar a floresta nativa da região. No total, são mais de 12 mil plantas que aqui crescem, acompanhadas desde a semente até que são transplantadas para áreas de recuperação ecológica, muitas delas na Rede Natura 2000.
Criada pela associação Lousitânea – Liga de Amigos da Serra da Lousã, a Maternidade de Árvores de Aigra Nova é muito mais do que um local onde crescem árvores. Assume-se como guardiã da floresta futura, onde carvalhos, sobreiros, castanheiros e muitas outras espécies crescem, estando previstas que muitas outras possam aumentar o leque de árvores que ali nascem. As oliveiras serão das próximas árvores a entrar na maternidade.
Maternidade de Ávores de Aigra Nova
Pedro Cerqueira
Como projeto de reflorestação e de recuperação ecológica, a maternidade de árvores da Aigra Nova não é somente um espaço técnico, é também um núcleo de educação ambiental, onde escolas, famílias e visitantes podem conhecer de perto o ciclo de vida das árvores. Podem participar em programas de reflorestação e até apadrinhar uma árvore, acompanhando o seu crescimento até à plantação na serra. Mas faz parte de um projeto mais vasto, onde entra também o Rebanho Comunitário da Aigra Nova que, além de dar continuidade a uma tradição ancestral de pastoreio, tem o propósito renovado de cuidar do território. Partilhado pelos habitantes, o rebanho limpa naturalmente os matos à volta da aldeia, criando descontinuidades que funcionam como barreiras contra incêndios.
Além da função ecológica, o Rebanho Comunitário da Aigra Nova gera produtos locais como leite para oficinas de queijo e mantém vivo um património cultural de entreajuda e ligação à terra, onde a comunidade assume coletivamente a responsabilidade pelo cuidado dos animais. Atualmente, duas voluntárias, uma de origem francesa, vivem em permanência na aldeia com somente três ruas, onde cuidam dos animais e partilham conhecimentos adquiridos noutras paragens, ensinado a fazer bolachas, globos de neve, ou doces e compotas com o que a natureza coloca à disposição.
Produtos e tradições
Aigra Nova – Aldeias do Xisto
Pedro Cerqueira
Nos campos em redor do casario, há hortas, gado e atividades que surpreendem os visitantes. Criam-se produtos hortícolas para a subsistência diária, cabritos que além da limpeza florestal dão leite e a própria carne para alimentação, bem como se produz mel e se apanha a castanha, usada em doces, purés ou para vender pilada aos apreciadores.
Por encomenda, na loja da Lousitânea – Liga de amigos da Serra da Lousã, serve-se a Broa de Carne, o prato típico da aldeia, cozido em forno de lenha. No Ecomuseu Tradições do Xisto encontra as tradições e a cultura serrana, a par com a conservação da natureza, centrado nas Aldeias do Xisto de Góis (Aigra Nova, Aigra Velha, Comareira e Pena) e na Rede Natura 2000 da Serra da Lousã. É constituído pelo Núcleo Sede do Ecomuseu e Loja Aldeias do Xisto, pelo Núcleo do Forno e Alambique da Família Claro, Núcleo da Coirela das Agostinhas (hortas tradicionais) e pelo Núcleo de Interpretação Ambiental – Maternidade de Árvores.
Aigra Nova – Aldeias do Xisto
Pedro Cerqueira
Apesar de ter poucos habitantes, somente quatro, é uma aldeia rica em tradições, onde se destaca o Carnaval, denominado Corrida do Entrudo das Aldeias do Xisto de Gois, com os foliões mascarados com máscaras de cortiça, e, conta “Cátia Lucas, moradora na aldeia, “percorrerem as aldeias vizinhas onde lançamos Quadras Jocosas e Patifarias”. No regresso, faz-se uma grande festa com o jogo do Presunto e do Bacalhau, onde os mais viris sobem a um pau para apanhar estes alimentos.
No Natal, decorre o evento Aldeia de Natal, com a inauguração das luzes de Natal, com lanche de oferta à comunidade no dia 12 de dezembro, às 18h00. No dia 14 há um atelier de bordados de Natal, com a artesã local Patrícia Cruz, e nos dias 15 e 16 há Contos de Natal e pinturas faciais, para as crianças dos jardins de infância do concelho. No dia 20 há um atelier de Bolachas de Natal e do Chocolate quente, e a 21, um atelier de Globos de neve. No dia 24 acende-se o cepo da aldeia, no largo principal, e no dia 4 de janeiro, cantam-se as Janeiras.
Mergulhar na natureza
Aigra Nova – Aldeias do Xisto
Pedro Cerqueira
A Aldeia do Xisto de Aigra Nova situa-se numa pequena saliência, de contornos muito suaves, da encosta mais soalheira da serra da Lousã. Reza a história que a escolha deste local está ligada à existência de uma nascente, que permite práticas agrícolas e a utilização dos pastos nas maiores altitudes da serra onde se apascentam os gados. Do património natural destacam-se os penedos de Góis e o Parque Florestal da Oitava, um habitat de aves em vias de extinção e de mamíferos como veados e corços, que dificilmente se encontram noutras zonas do país, que podem ser avistados da estrada num comum passeio.
Em frente da aldeia corre a ribeira do Mouro, que passa pela localidade de Ponte de Sótão, onde encontra a ribeira da Pena, juntando-se depois com o Ceira e com o rio Mondego. O casario é todo em xisto, construído de modo a serem resistentes às intempéries e ao passar do tempo. Dispostas em aglomerados, incluem dois pisos, o piso assobrado, ou primeiro andar, e o rés-do-chão, geralmente térreo, que deveria albergar o gado.
Pode viver temporariamente na aldeia, na Casa da Aigra (Tel. 918839206), um alojamento local com dois quartos com uma cama de casal em cada um e ar condicionado no piso superior. Tem ainda a Casa da Comareira (Tel. 969847852) com três quartos e seis camas, e ainda a Casa dos Veados (Tel. 966723027), com um quarto. Para refeições, conte, mediante reserva antecipada, com a Lousitânea – Liga de amigos da Serra da Lousã (Tel. 235778644).
Aigra Nova – Aldeias do Xisto
Pedro Cerqueira
Aigra Nova é uma das sugestões do guia “Aldeias com História”, em parceria com a Turismo Centro de Portugal, oferecido pelo Expresso na edição de sexta-feira, dia 28 de novembro. A publicação apresenta 24 aldeias, das redes de Aldeias Históricas de Portugal, Aldeias do Xisto e Aldeias de Montanha.
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