O fim da guerra na Ucrânia é um desejo partilhado com muitas das nações europeias. Porém, enquanto os líderes norte-americanos enfatizam a “celeridade” da paz, os líderes europeus — incluindo o Presidente ucraniano — focam-se na sua “justiça”, ao mobilizar repetidamente o conceito de “paz justa e duradoura”. Esta dissonância entre os desejos para a Ucrânia dos dois lados do Atlântico é reconhecido no texto do documento, onde se pode ler que “a administração Trump se encontra em conflito com os responsáveis europeus que têm expectativas irrealistas em relação à guerra”.
A dificuldade em trabalhar em sintonia também é reconhecida pelos líderes europeus, que numa reunião na passada segunda-feira terão ido ainda mais longe e expressado desconfiança em relação aos parceiros norte-americanos. O sentimento incidiu em particular sobre os enviados especiais de Donald Trump, Steve Witkoff e Jared Kushner que, no dia a seguir a esse mesmo encontro dos europeus, se encontraram com Vladimir Putin na Rússia. O Presidente francês, Emmanuel Macron, terá mesmo expressado receio de uma “traição” dos norte-americanos à Ucrânia, segundo transcrições da reunião privada divulgadas pelo Der Spiegel. Contudo, publicamente, Macron negou as declarações e insistiu: “A união entre americanos e europeus no assunto ucraniano é essencial”.
No espaço de quase um ano desde que Donald Trump regressou à Casa Branca, o Presidente dos Estados Unidos tem mantido uma postura no mínimo errática no que toca à guerra na Ucrânia. Quando tomou posse, o chefe de Estado trazia da campanha a promessa de pôr fim ao conflito em poucos dias. A promessa rapidamente se verificou difícil de cumprir e, ao longo dos últimos meses, Trump tentou várias abordagens para fazer frente à guerra: ora pressionou Moscovo, ora Kiev; ora se aproximou de um, ora de outro.
Os desenvolvimentos mais recentes culminaram com a apresentação de um plano de 28 pontos, em meados de novembro, que foi depois revisto em negociações com os ucranianos, que recusaram as exigências que eram feitas, dada a sua proximidade com a posição russa. Enquanto Estados Unidos, Rússia e Ucrânia protagonizavam mais uma ronda de tensas (e pouco produtivas) negociações, também a Europa desempenhava o mesmo papel que tem mantido ao longo deste ano: o de negociador excluído da mesa que tenta provar a sua importância.
Fora da mesa das negociações, resta à Europa consolidar-se como o principal apoio da Ucrânia, em duas dimensões: política e económica. O apoio político passa principalmente pela defesa de Kiev, em particular de Volodymyr Zelensky, junto dos Estados Unidos, funcionando como contrapeso da influência russa junto da Casa Branca. Prova disso é a videoconferência desta segunda-feira, em que sete chefes de Estado e de Governo da Europa se juntaram ao secretário-geral da NATO, Mark Rutte, à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e ao presidente do Conselho Europeu, António Costa, para fazer um ponto de situação e ajudar o Presidente ucraniano durante a mais recente ronda de negociações.