O Exército tailandês lançou ataques aéreos na fronteira, depois da morte de um soldado por tiros supostamente vindos do lado cambojano, num quadro de reacendimento dos confrontos armados entre os dois países. Morreram quatro civis cambojanos e nove pessoas ficaram feridas, avançou o ministro da Administração Interna do Camboja, Neth Pheaktra, numa publicação no Facebook.
As Forças Armadas tailandesas, segundo confirmaram em comunicado, também relatam a existência de quatro militares feridos nos confrontos e esclarecem que se trata de “uma resposta às operações militares cambojanas”, enquanto Phnom Penh nega ter iniciado os disparos.
Banguecoque garante que atacou “apenas infra-estruturas militares, depósitos de armas, centros de comando e rotas de apoio ao combate” associadas a actividades consideradas como uma ameaça à segurança nacional tailandesa.
Por outro lado, relatórios militares dão conta de numerosos confrontos nas últimas 24 horas em vários pontos dos quase 820 quilómetros de fronteira, onde ambos os Governos começaram a retirar civis e a mobilizar pessoal e material de defesa.
Phnom Penh, por sua vez, voltou a acusar a Tailândia de ser responsável por várias provocações nos últimos dias e garantiu, nesta segunda-feira, que os soldados cambojanos não retaliaram aos ataques inimigos.
Desde que as fronteiras dos dois países foram traçadas, há mais de um século, a relação é hostil. Em 2008, o Camboja tentou registar como Património Mundial da UNESCO um templo na área territorial contestada o que agravou as tensões que, desde então, têm desencadeado confrontos. Em 2011, a decisão foi formalizada e levou a inúmeros ataques que causaram pelo menos 28 mortos e dezenas de milhares de pessoas deslocadas.
O conflito reacendeu-se neste ano, mais concretamente desde Fevereiro, quando cada um dos países começou a denunciar incursões do outro em zonas disputadas. No final de Maio, a morte de um soldado cambojano levou a uma série de episódios de violência e, em Julho, os ataques de ambas as partes fizeram mais de 30 mortos, tornando-se os mais mortíferos dos últimos 13 anos.
Em Julho, ao terceiro dia do conflito, Donald Trump interveio, falando com os primeiros-ministros de ambos os países e avançando que estes tinham concordado em encontrar-se para trabalhar num cessar-fogo — um processo que detalhou passo a passo em várias publicações nas redes sociais. Para forçar ao entendimento das partes, Trump ameaçou ambos os líderes políticos com restrições de trocas comerciais.
Na cimeira da ASEAN, na Malásia, a 26 de Outubro deste ano, o primeiro-ministro da Tailândia Anutin Charnvirakul, e Hun Manet, chefe do Governo do Camboja, assinaram um acordo de paz, na presença de Donald Trump. O chefe de Estado norte-americano disse, naquela altura, ter acabado com “oito guerras em oito meses”.
Contudo, o Governo Tailandês anunciou a suspensão do cessar-fogo duas semanas depois, principalmente devido ao facto de responsabilizar o Camboja pela explosão de uma mina terrestre na fronteira entre os dois países, que levou a que quatro soldados tailandeses ficassem feridos, incluindo um que terá perdido uma perna. Como resultado, Nattapon Nakpanich, ministro da Defesa da Tailândia, suspendeu a libertação de 18 prisioneiros cambojanos e a retirada dos carros blindados e de armamento pesado na fronteira.