Depois de uma viagem a Israel e Gaza para reunir informação sobre a distribuição de comida, Steve Witkoff, o amigo de Donald Trump que actua como seu enviado especial para o Médio Oriente, tem já viagem marcada para Moscovo, onde deverá chegar na quarta-feira, com o tema do acordo de cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia na agenda.
Não é certo ainda se Witkoff se irá encontrar com o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, mas o porta-voz do Kremlin não exclui o encontro. “Não descartamos a possibilidade de tal reunião”, disse Dmitry Peskov, aos jornalistas, esta segunda-feira, quando comentou as declarações do Presidente dos EUA de domingo, de que Witkoff estará na Rússia nos dias 6 e 7 de Agosto.
Trump assegurou que os russos querem voltar a reunir-se com o seu enviado (advogado e investidor do sector imobiliário), que já se encontrou com Putin algumas vezes desde o início deste ano e que, mesmo sem experiência diplomática, participa em negociações com Israel sobre a guerra contra o Hamas e esteve envolvido nas conversações com o Irão para um novo acordo nuclear.
Trump também reiterou aos jornalistas que os Estados Unidos poderão impor sanções à Rússia e aos seus parceiros comerciais que lhes comprem bens como petróleo e gás (como Brasil, China e índia, por exemplo) a partir de 9 de Agosto, se não for, entretanto, alcançado um acordo com os ucranianos.
Mas também não se mostrou particularmente confiante no impacto destas medidas se entrarem em vigor: “Haverá sanções, mas eles parecem ser muito bons a evitá-las”, disse Trump. “São uns personagens astutos e muito hábeis a evitar sanções, por isso vamos ver o que acontece”, comentou o Presidente dos EUA aos jornalistas.
Ao longo destes anos de guerra, a Rússia tem conseguido utilizar uma “frota fantasma” de navios que escapam ao controlo internacional para contornar as sanções ocidentais e continuar a exportar petróleo e combustíveis, de modo a financiar a sua guerra contra a Ucrânia.
O representante permanente dos Estados Unidos na ONU, Matt Whitaker, diz esperar que se “consiga um avanço” num eventual processo de paz entre Rússia e Ucrânia com a visita de Witkoff.
Em entrevista à NBC News, o diplomata norte-americano voltou a frisar que Trump quer que os dois países cheguem a um acordo e disse esperar que o encontro desta semana “dê alguns frutos”.
Mas a forma como a Rússia tem conduzido todo o dossiê das negociações com a Ucrânia e a aparente frieza com que reagiu ao ultimato dos EUA – com mais ataques mortíferos contra alvos civis ucranianos no mesmo dia da declaração de Trump – não deixa campo para grandes expectativas sobre o sucesso das conversas.
Putin continua a repetir que quer uma “paz duradoura e estável”, mas exige que as tropas ucranianas saiam das áreas ocupadas pelas tropas russas e que Kiev se abstenha de aderir à NATO.
A Rússia “não quer polémicas”
A visita de Witkoff a Moscovo acontece depois de um episódio algo tenso entre os dois países, motivado pelas críticas do vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia (e ex-Presidente russo), Dmitri Medvedev, ao ultimato norte-americano de “dez a 12 dias” para que Moscovo chegue a acordo com Kiev ou ficar sujeito as sanções.
Medvev publicou na rede social X que não cabe a Trump dizer à Rússia quando é que se deve sentar à mesa de negociações e que estas só terão fim quando todos os objectivos militares estiverem alcançados. Quando Trump lhe respondeu que tivesse cuidado com o que diz, Medvedev retorquiu que a Rússia tem capacidades nucleares que pode usar.
E Trump ripostou com o envio de dois submarinos nucleares para as “regiões apropriadas”, ou seja, algures para perto da Rússia, “para o caso de essas declarações tolas e inflamadas [de Medvedev] serem mais do que isso”, como explicou, numa publicação na sua plataforma Truth Social.
O porta-voz do Kremlin apressou-se a deitar água na fervura do tema nuclear, dizendo que a Rússia não quer ser “arrastada para polémicas”. Esta segunda-feira Peskov disse que “a Rússia leva muito a sério a questão da não-proliferação nuclear” e que defende que “todos devem ser extremamente cuidadosos quando se trata de retórica nuclear”.
“A Rússia mantém uma posição responsável. A posição do Presidente Putin é bem conhecida”, acrescentou Peskov.