Nos últimos anos, tem aumentado a demanda por cirurgias corretivas em pacientes que realizaram rinoplastias há bastante tempo, especialmente aqueles que passaram por procedimentos nos anos 2000 e tiveram o nariz excessivamente afinado. Esse movimento, conhecido como “rinoplastia de arrependimento” ou rinoplastia secundária, reflete uma mudança de paradigma estético e funcional. Hoje, a valorização da identidade facial, a maior consciência sobre a função respiratória e o fim do ideal do “nariz de celebridade” são os principais motivos que levam à busca por correções.

A rinoplastia, cirurgia que exige extrema precisão nos detalhes para garantir resultados naturais, vive uma transformação. Clínicas especializadas em cirurgia facial relatam o aumento de pacientes que procuram reparar intervenções antigas, seja por insatisfação estética, seja por problemas funcionais decorrentes de técnicas ultrapassadas ou inadequadas.

— É uma cirurgia que envolve a reversão, reparo ou reconstrução parcial de narizes previamente operados. De acordo com a American Society of Plastic Surgeons (ASPS), até 15% dos pacientes submetidos à rinoplastia retornam aos consultórios para uma nova intervenção. No Brasil, não há estatísticas oficiais, mas percebemos que há uma geração que operou o nariz nos anos 2000 buscando afinar ao máximo, muitas vezes comprometendo a estrutura e a função nasal. Hoje, essas pessoas estão voltando com queixas estéticas e respiratórias — esclarece o cirurgião plástico Paolo Rubez, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).

O Brasil é líder mundial em rinoplastias, segundo dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), e estima-se que cerca de 20% das cirurgias faciais realizadas no país sejam corretivas. Um dos principais motivos para o retorno dos pacientes é a obstrução nasal causada pela retirada exagerada de cartilagem.

— Isso compromete as válvulas nasais, responsáveis pela entrada de ar, levando a roncos, dificuldade para respirar e até distúrbios do sono. Em alguns casos, o procedimento corretivo exige uso de enxertos de cartilagem (retirada do próprio corpo, geralmente da costela ou da orelha), tornando a cirurgia mais complexa e delicada. Além de refazer o nariz, precisamos reestruturá-lo com base em critérios funcionais e respeitando o equilíbrio facial. É uma cirurgia muito mais desafiadora do que a primeira — diz o especialista.

Durante décadas, a mídia e as redes sociais reforçaram a ideia do nariz extremamente fino e pontudo, frequentemente inspirado em celebridades. — Mas essa busca por um modelo universal acabou criando distorções estéticas e funcionais. E, hoje, com a tendência em resultados naturais e respeitando a etnia do paciente, muitos pacientes tentam reverter esse resultado. Atualmente também temos visto complicações crescentes de cirurgias realizadas por profissionais não médicos — alerta o médico.

A importância da avaliação cuidadosa antes do procedimento é ressaltada pela cirurgiã plástica Heloise Manfrim, também membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica: — A rinoplastia é uma das poucas cirurgias que necessita de uma avaliação e de uma estratégia de conscientização do próprio paciente em relação ao procedimento.

O debate sobre essa realidade ganhou força recentemente, impulsionado por influenciadores e artistas que compartilharam relatos de arrependimento por cirurgias mal indicadas ou executadas.

— O movimento, inclusive, dialoga com a ascensão de uma estética mais natural, que valoriza a autenticidade e a diversidade étnica dos traços faciais. O conceito contemporâneo de rinoplastia prega resultado natural, que preserve os traços individuais do paciente e evite ‘mascarar’ sua identidade —pontua o cirurgião.

Entre as inovações utilizadas para atingir esses objetivos, destaca-se a rinoplastia ultrassônica. — Ela permite uma remodelação mais precisa das estruturas ósseas e cartilaginosas, com menor trauma e maior previsibilidade estética e funcional. A cirurgia hoje busca integração com o rosto, e não mais imposição de um padrão externo. A beleza está na harmonia e naturalidade — reforça o médico.

Embora o risco de insatisfação estética tenha diminuído, ainda persiste em pacientes que desejam um resultado muito artificial. — Cada vez mais os cirurgiões optam por naturalidade no resultado. Um resultado não como Barbie, mas natural no sentido de poucas pessoas perceberem que foi realizada uma rinoplastia — afirma a Dra. Heloise.

Para evitar frustrações, o Dr. Paolo recomenda sempre consultar um profissional experiente, capaz de orientar o paciente com expectativas realistas e indicar a possibilidade de reparação: — O mais importante é consultar um cirurgião plástico com experiência para identificar a possibilidade de reparar a rinoplastia, com expectativas realistas.