A Guarda Costeira dos Estados Unidos concluiu que a tragédia do submersível Titan, que a 18 de Junho de 2023 implodiu e provocou a morte a cinco pessoas, se deveu a uma série de falhas graves de segurança, negligência por parte da OceanGate — empresa responsável pela operação — e à ausência de supervisão eficaz.
Segundo o relatório oficial divulgado esta terça-feira, “os principais factores que contribuíram para a implosão foram o processo inadequado de projecto, certificação, manutenção e inspecção do Titan”, além de uma “cultura tóxica no local de trabalho”. A empresa, com sede no estado de Washington, operava fora dos protocolos estabelecidos para submersíveis em águas profundas e frequentemente ignorava sinais de alerta.
“O Titan nunca foi submetido a uma avaliação independente, como deveria ser prática comum”, afirmou a Guarda Costeira no documento de mais de 300 páginas. O relatório detalha que o Director Executivo da OceanGate, Stockton Rush, “demonstrou negligência” ao desconsiderar advertências técnicas, relatórios de falhas de design e a necessidade de supervisão externa. “Se Rush tivesse sobrevivido, o caso teria sido encaminhado ao Departamento de Justiça e ele poderia ter enfrentado acusações criminais”, afirmou o Conselho Marítimo de Investigação.
Jason Neubauer, que faz parte do programa de investigação da Guarda Costeira, sublinhou que “há necessidade de uma supervisão mais forte e opções claras para operadoras que estão a explorar novos conceitos fora da estrutura existente”. Para Neubauer, a investigação de dois anos forneceu “lições valiosas para evitar uma ocorrência futura”.
As vítimas da implosão incluíram, além de Rush, o empresário britânico Hamish Harding, o mergulhador francês Paul-Henri Nargeolet, o paquistanês Shahzada Dawood e o filho de 19 anos, Suleman Dawood. A família de Nargeolet processou a empresa, exigindo mais de 50 milhões de dólares, alegando que a tripulação sofreu “terror e angústia mental” antes da tragédia.
O relatório descreve ainda que “as crescentes pressões financeiras em 2023 levaram a OceanGate a armazenar o submersível Titan ao ar livre durante o inverno canadiano”, expondo o casco a variações extremas de temperatura que comprometeram a sua integridade.
Vários antigos funcionários da empresa confirmaram ainda o ambiente de intimidação que se vivia dentro de portas. Tony Nissen, engenheiro-chefe do submersível, admitiu sentir-se pressionado a preparar a embarcação e chegou inclusive a recusar pilotar anos antes.
A OceanGate encerrou oficialmente as suas operações em Julho de 2023. “Apresentamos as nossas mais profundas condolências às famílias daqueles que faleceram em 18 de Junho de 2023 e a todos os afectados pela tragédia”, disse o porta-voz da empresa, Christian Hammond.
As conclusões da investigação agora divulgada reforçam o apelo global por uma regulamentação mais rígida das expedições privadas a ambientes extremos. Como afirmou Neubauer, “o objectivo é que esta tragédia não volte a acontecer”.