O país tem sido o grande obstáculo ao plano europeu. O governo do primeiro-ministro Bart de Wever teme que o Euroclear possa perder uma ação em tribunal contra a Rússia e deixar o país sozinho a suportar as penalizações legais e financeiras

A Bélgica está a pedir à União Europeia uma reserva de dinheiro adicional para fazer face às ameaças do Kremlin relativas ao empréstimo de 210 mil milhões de euros à Ucrânia que recorre aos bens russos congelados. A informação foi avançada pelo Politico esta quarta-feira.

Esta é uma das alterações que a Bélgica quer fazer à proposta da Comissão Europeia, que pretende alavancar 185 mil milhões de euros em ativos estatais russos congelados detidos pelo depositário financeiro Euroclear, com sede em Bruxelas – os restantes 25 mil milhões de euros viriam de outros ativos russos congelados.

Segundo a publicação, o governo belga pediu à União Europeia para colocar de parte uma quantidade indeterminada de dinheiro para proteger o Euroclear de uma eventual retaliação da Rússia na justiça. A reserva de dinheiro adicional deverá ser financiada, diz a Bélgica, pelos lucros extraordinários que o Euroclear obtém em juros de uma conta de depósito no Banco Central Europeu, onde o dinheiro sancionado pelo Kremlin se encontra atualmente e cujos rendimentos ascenderam a 4 mil milhões de euros em 2024.

A Bélgica tem sido o grande obstáculo ao plano europeu do uso dos ativos russos no apoio financeiro à Ucrânia. O governo do primeiro-ministro Bart de Wever teme que o Euroclear possa perder uma ação em tribunal contra a Rússia e deixar o país sozinho a suportar as penalizações legais e financeiras.

“Não vamos colocar riscos que envolvam centenas de milhares de milhões [de euros] sobre os ombros dos belgas. Nem hoje, nem amanhã, nunca”, garantiu De Wever, no passado dia 3 de dezembro.

O governo de De Wever está também preocupado com a segurança física da Bélgica perante a guerra híbrida de Moscovo contra a Europa, cerca de um mês depois de vários drones terem sido avistados a sobrevoar o Aeroporto de Bruxelas, e ainda com a própria estabilidade do Euro; um raide ao Euroclear obrigaria os investidores a repensarem a colocação dos seus ativos em bancos europeus, considera o executivo belga.

A posição belga é também afetada pela sempre instável política interna do país, com as negociações para o orçamento de 2026 a arrastarem-se durante meses.

“Estou a negociar há semanas para encontrar 10 mil milhões de euros”, disse De Wever a caminho da cimeira da UE na semana passada. “Um cenário em que a Bélgica teria de devolver à Rússia mais de dez vezes esse montante seria impensável”, acrescentou.