Por isso, garante Alexandre Palma, não tem de haver uma “pertença” à Igreja, mas “tem de haver algum alinhamento” com os valores centrais. “Um exemplo é a área da educação“, acrescenta o bispo, sublinhando que a Fundação Jornada poderia apoiar, por exemplo, “um projeto liderado por jovens que ajude no percurso escolar de jovens, se tiver qualidade, consistência e objetivos”. Alexandre Palma destaca que “os estudos empíricos mostram que um euro investido na área da educação e na formação tem no longo prazo um efeito multiplicador para benefício da sociedade e da Igreja”.

Tanto Alexandre Palma como Marta Figueiredo dizem querer evitar dar exemplos demasiado concretos de projetos que possam vir a ser apoiados pela Fundação Jornada, de modo a não excluir qualquer tipo de ideia. A diretora executiva dá, ainda assim, um conjunto de exemplos mais alargados: “Se pensarmos num grupo de jovens que queira lançar um programa de voluntariado junto de uma população mais desfavorecida, é válido. Um tema muito central é tudo o que tenha a ver com a dependência digital, programas que ajudem os jovens a ter mais literacia digital, a navegar melhor pelas redes sociais, a combater as dependências. Todo o tema da saúde mental, mas também academias de formação e liderança, centros de apoio ao estudo e ao desenvolvimento de novas competências, projetos que promovam a participação cívica e ativa dos jovens na sociedade ou projetos que os jovens queiram dinamizar junto de públicos vulneráveis.”

Por outro lado, os projetos candidatos terão também de apresentar formas de avaliar o impacto do projeto. Tudo isto será tido em conta pelo júri que irá selecionar os casos — um júri diferente em cada ronda, composto também por pessoas externas à Fundação, de diferentes áreas de formação.

Nos cofres da Igreja Católica ficaram, depois da realização da JMJ com o Papa Francisco, cerca de 35 milhões de euros. Para Alexandre Palma, este resultado deve-se não só ao “número extraordinário de peregrinos” que acorreu ao evento, como também ao grande número de voluntários presentes, à importante participação da sociedade portuguesa (incluindo entidades públicas e privadas) e à “gestão muito rigorosa e muito transparente” da anterior liderança da Fundação, presidida pelo cardeal Américo Aguiar.

No pós-2023, temos aqui um enorme bem. Este fundo é um bem. Não é um incómodo. Intencionalmente, não uso a palavra ‘lucro’ porque acho que não exercemos uma atividade comercial“, afirma o bispo. Consciente de que no passado houve polémicas em torno do dinheiro gasto no evento (o caso do altar-palco foi o mais controverso) e de que existe sempre quem olhe de lado para a relação da Igreja Católica com o dinheiro, Alexandre Palma diz saber que a Fundação precisa “de dar sinais de confiança à sociedade civil e à Igreja”.

“Estamos aqui a apresentar um sonho. Sei que há pessoas que vão acreditar e outras que vão dizer ‘mostrem lá’. Acho isso completamente razoável”, afirma o bispo, sublinhando que a direção da Fundação Jornada pretende “rentabilizar o património da Fundação” através de uma “gestão prudente do fundo”.