Dez etapas, um provável final em sprint. Das 15 equipas, apenas uma com alguma relevância internacional – e esta premissa até pode ser exagerada. Foi isto que a organização da Volta a Portugal desenhou para a edição 2025 da prova que arranca nesta quarta-feira, na Maia, e acaba a 17 de Agosto, em Lisboa. Será uma prova despida do ciclismo de primeira água e parca em oportunidades para sprinters.

Comecemos pelo percurso. É certo que numa prova de uma semana, com poucas etapas, não há a mesma liberdade para agradar a trepadores e velocistas, mas há, em 2025, um especial carinho dado aos homens que gostam de subir.

Iúri Leitão é, a par de João Almeida, o ciclista mais relevante do país – mesmo que o primeiro seja mais feliz na vertente de pista. O campeão olímpico do Madison e vice-campeão do Omnium vai estar na Volta, mas não escondeu a desilusão com o percurso. “No trajecto deste ano, que tem tão pouca variedade de terreno, as minhas oportunidades serão poucas, portanto a minha participação será, provavelmente, mais discreta do que eu gostaria”, disse à Lusa. E detalhou: “Dado que só há uma hipótese teórica de chegada ao sprint, vou tentar apontar as forças para a chegada de Viseu, assim como estou à espera que façam os outros sprinters”.

Em teoria, o único final plano, em pelotão compacto, será na etapa 5, em Viseu. De resto, temos dois contra-relógios – um prólogo de 3,4 quilómetros na Maia, a abrir a prova, e 17 quilómetros em Lisboa, a fechar a corrida – e sete etapas com perfil montanhoso. Dessas sete, cinco são finais em alto e duas são etapas “armadilhadas”, com escaladas durante o dia.

Até o parco peso do “crono” – apenas 20 quilómetros, divididos por dois dias – sugere que a organização da Volta quis garantir que seria um verdadeiro trepador a vencer a prova.

O percurso tão duro e o calor de Agosto sugerem que haverá muito sofrimento e, como já aconteceu em alguns anos, uma corrida menos atacada e animada do que no passado.

Percurso anunciado “ontem”

As oportunidades reduzidas para velocistas tiraram interesse a algumas equipas de maior expressão no ciclismo? É difícil responder a isso com certeza. Mas é possível pensar, pelo menos, que anunciar o percurso oficial apenas a 17 de Julho, menos de um mês antes da prova, não deverá facilitar que equipas internacionais planeiem a sua temporada com a Volta a Portugal em mente.

Dito isto, quem vai ganhar? Apostar na equipa Anicolor será uma boa ideia. O actual campeão, Artem Nych, é sempre uma aposta segura, mas é possível que nem seja ele o principal favorito. Na mesma equipa está Alexis Guérin, ciclista francês que tem estado em grande forma nas estradas portuguesas. Aos 33 anos traz muita experiência e, sobretudo, capacidade de juntar predicados na montanha e no contra-relógio.


Quem poderia bater a Anicolor? Talvez Mauricio Moreira pudesse fazer qualquer coisa nesse sentido, mas a má forma levou a Efapel a abdicar do campeão de 2022.

Jesus David Peña, do Tavira, tem qualidade para fazer movimentações na montanha e é o típico colombiano, leve e trepador, com alguma rodagem de World Tour. É um excelente candidato a trocar as voltas à Anicolor, ainda que tenha ao lado uma equipa menos forte para ajudar. Perfil semelhante é trazido por Jonathan Caicedo, ciclista que já andou pelo World Tour e até já venceu uma etapa na Volta a Itália.

Lucas Lopes é um jovem português que já mostrou qualidade e que pode aproveitar esta Volta para se mostrar a uma equipa internacional. E tem condições para ser, pelo menos, o melhor português em prova.

Etapas:
Dia 6: Maia – Maia, 3,4 km (contra-relógio)
Dia 7: Viana do Castelo – Braga, 162,3 km
Dia 8: Felgueiras – Fafe, 167,9 km
Dia 9: Boticas – Bragança, 185,2 km
Dia 10: Bragança – Senhora da Graça, 182,9 km
Dia 11: Lamego – Viseu, 155,5 km
Dia 12: Dia de descanso
Dia 13: Águeda – Guarda, 175,2 km
Dia 14: Sabugal – Torre, 179,3 km
Dia 15: Ferreira do Zêzere – Santarém, 178,2 km
Dia 16: Alcobaça – Montejunto, 174,4 km
Dia 17: Lisboa – Lisboa, 16,7 km (contra-relógio).