Uma análise conduzida pela Instinct para o SAPO, com recurso a modelos de Inteligência Artificial, procurou mapear o posicionamento dos candidatos à Presidência da República, identificando padrões de discurso, perceções públicas e bases de apoio sociopolítico.

A investigação partiu de dados publicados espontaneamente pelos portugueses na internet: comentários, posts, artigos de opinião e discussões em fóruns e redes sociais.

O objetivo foi entender não apenas o que os candidatos dizem, mas como são percebidos pelo eleitorado. A IA organizou essas perceções em torno de cinco dimensões-chave: imagem pública, núcleo de eleitores, vulnerabilidades, confiança percebida e potencial de crescimento. O resultado é um retrato pragmático da disputa.

Este é o retrato de André Ventura, que após dois meses de recusa acabou por formalizar a candidatura às Presidenciais de 18 de janeiro de 2026 a 16 de setembro, considerando que “não podia ignorar os militantes e não lhes dar voz nestas eleições”, apesar de reconhecer que “o líder da oposição não tem como vocação primeira ser candidato a Presidente da República”. 

Os descontentes e os inseguros, habitualmente maioritários entre os seguidores do Chega, são o alvo preferencial do discurso de Ventura também nestas eleições a Belém, revela a análise feita pela Instinct para o SAPO, com a análise da IA ao seu posicionamento, identificando padrões de discurso, perceções públicas e bases de apoio sociopolítico. É visto como o candidato que “desafia o sistema” e assume-o, desde logo, nos cartazes polémicos que à primeira hora da candidatura ergueu pela cidade. O tema de destaque são as mensagens dirigidas a comunidades estrangeiras ou ciganas, rompendo com a tradição de sobriedade e moderação, a mesma estratégia que lhe garantiu, nas legislativas de março, 60 deputados no Parlamento.

Pelas redes sociais, caixas de comentários e outras plataformas online, o candidato de 42 anos que, sozinho, tem mais seguidores do que todos os outros presidenciáveis juntos é olhado como “aquele que fala sem papas na língua sobre os temas que preocupam os portugueses”. Curiosamente, a maior vulnerabilidade de André Ventura é enquadrada precisamente nesse mesmo argumento, visto o outro lado do espelho: gera uma perceção de “demagogo da divisão”.

Essa postura tem limitado de alguma forma o seu crescimento para além da base eleitoral associada ao Chega, com o candidato a conseguir um moderado nível de confiança pública. Definindo-se como “liberal a nível económico, nacionalista e conservador” nos costumes, o homem que criou e lidera o Chega desde 2019 teve uma afirmação meteórica, passando da inexistência a líder da oposição em meros sete anos. Agora, diz acreditar que “será muito mais fácil transformar o país” sentado na cadeira de Belém do que a partir de São Bento, e está convicto de que passará pelo menos à segunda volta nestas eleições. E as sondagens não o têm provado errado.

Ainda assim, feita a análise ao que dele se escreve online, o potencial de crescimento de André Ventura está a meio da tabela: é moderado, revela a análise da Instinct.

Raio-X Ventura

Raio-X Ventura