Um levantamento realizado pelo departamento de cardiologia da Rede D’Or — a partir de dados de mais de 29 mil pessoas atendidas em emergências dos 52 hospitais da rede espalhados pelo Brasil — mostrou que em São Paulo e no Pará o infarto chega para pessoas mais jovens do que no restante do país. A idade média dos paulistas que apresentam ataque cardíaco é de 59 anos, e a dos paraenses, de 46.
Para Olga Ferreira de Souza, diretora nacional da cardiologia da Rede D’Or, que coordenou a pesquisa, a principal hipótese é a forte conexão entre o estresse e eventos cardiovasculares.
— Hoje, o estresse é um fator de risco importante por todos os riscos que ele acarreta, de aumentar os hormônios, de elevar pressão cardíaca, arterial. Isso tudo combinado aumenta mais o risco de infarto. Provavelmente o estresse dos centros urbanos favorecem a essa idade precoce dos pacientes terem infarto — explica.
Já em estados do Nordeste, como Paraíba, Ceará, Pernambuco e Bahia, a idade média para a ocorrência de ataques cardíacos está acima dos 68 anos. Os dados serão apresentados no Congresso Internacional de Cardiologia da Rede D’Or, que acontecerá entre os dias 7 e 9 de agosto.
Outros riscos subjacentes
Outro dado que se destaca é que, dentre os atendidos em emergência da rede com dor torácica, 70% apresentavam hipertensão.
— A hipertensão é mais um fator de risco significativo. Essa doença se trata de um espessamento e um endurecimento das artérias. Ela ocorre na parede do endotélio vascular, que é a camada interna dos vasos sanguíneos — explica a especialista.
Por ser uma condição silenciosa, isto é, de difícil identificação dos primeiros sintomas, pessoas com maior propensão a desenvolvê-la precisam redobrar os cuidados.
— O fator de prevenção mais importante é se a pessoa tem histórico de hipertensão arterial na família. O segundo é a alimentação com excesso de sal, não só o sal de mesa, mas aquele sal presente nos alimentos industrializados, especialmente os ultraprocessados. Um outro fator é o sedentarismo, a falta de atividade física contribui para a alimentação inadequada — aponta.
Além disso, como aponta Souza, a hipertensão favorece a formação de placas de colesterol. E isso aumenta as chances do colesterol alto se tornar um problema. Nos números divulgados, o colesterol é associado a 41% dos casos da procura por unidades de emergência do hospital por dor torácica.
Outro ponto apresentado é que 20% dos pacientes que foram atendidos apresentavam histórico de tabagismo. O que a cardiologista avalia como algo surpreendente.
— É um dado que podemos ver por uma luz positiva. O tabagismo ter menor impacto em problemas cardiovasculares é algo muito recente. Eu acredito que todas as campanhas feitas e tudo que foi falado do risco atrelado ao consumo do tabaco causou um impacto nesse fator de risco. Isso mostra uma evolução, pois as pessoas notaram o malefício do cigarro — esclarece.
Por outro lado, Souza, que também é fellow em Cardiologia pela Sociedade Europeia de Cardiologia, alerta que os dados mostram que mulheres apresentam maior prevalência de mortalidade no tipo mais grave de infarto, que é o chamado Infarto Agudo do Miocárdio com supradesnível do segmento ST. O levantamento mostra que a mortalidade após sofrer esse tipo de ataque cardíaco foi de 11,8% para mulheres e de 4,7% para homens em 2025.
— Nas mulheres a forma de apresentação é um pouco diferente, os sintomas se apresentam de uma forma diferente. Os homens costumam sentir uma dor no peito que irradia para um dos braços e para o pescoço. Já para mulheres, pode ser uma dor nas costas, uma fraqueza, uma sensação de mal estar. E isso é um dos grandes motivos para o diagnóstico demorar mais para mulheres, e por isso, o infarto acaba sendo mais mortal — ressalta.
Nesse sentido, a especialista orienta que, mesmo que muitas pessoas possam confundir esses mesmos sintomas em mulheres com crise de ansiedade, um médico analise o caso.
— Nos casos de infarto a cada minuto perdido se reduz a expectativa de vida de 10 a 12 dias. Por isso, em qualquer sinal de que algo está errado procure uma unidade de emergência — reforça.