O ministro acrescenta ainda “defesas antiaéreas de baixo e de médio alcance” e outros equipamentos cujos detalhes não podem ser revelados “porque estas aquisições são reservadas”. Cada uma destas aquisições tem associada uma percentagem de retorno para a economia nacional, com vários projetos a atingir os 100% de participação portuguesa. “As indústrias nacionais têm de estar lá, não apenas a pedido”, afirma, lembrando que este ciclo de investimento “pode ser um motor de reindustrialização para o país”.

Contabilidade criativa? “Isso é conversa”

A execução do plano será acompanhada pela NATO, que define regras claras: 70% do investimento tem de ser feito em equipamentos, infraestruturas e bens de Defesa, enquanto apenas 30% pode incluir outras áreas de soberania, como a GNR. “Isso é conversa. O investimento terá efeito real nas capacidades das Forças Armadas”, responde o ministro às críticas de alegada “contabilidade criativa”. “Este esforço é um esforço que é verificado pela NATO. Há um valor neste crescimento de 20% que tem de ser aplicado em bens, infraestruturas e equipamentos. A NATO aceita uma proporção de 30% de outras áreas, mas 70% tem de ser Defesa pura e dura. As coisas são como são e quanto a isso não há muito que inventar.”

Além de refutar a ideia de artifícios orçamentais, o ministro reforça: “Não basta apenas comprar equipamentos para que digamos que em 2025 atingimos 2%.” E acrescenta que o objetivo exige “um profissionalismo absoluto” e “rigor” para ser concretizado.

Recorde-se que o governo anunciou que em 2024 Portugal tinha superado a percentagem do PIB gasto em defesa em relação aquilo que estava previsto. O ano fechou com 1,58% quando a previsão que constava no último relatório da NATO, estimava 1,46%, de acordo com o Ministério da Defesa. Estes 1,58% do PIB em 2024 significaram um total de despesa de 4.481 milhões €, dos quais 3.069 milhões são dos serviços sob tutela direta do Ministério da Defesa com as Forças Armadas.

Ou seja, 31% desta despesa que não é investimento direto nas Forças Armadas. É o caso, por exemplo, de 253 milhões que são para a GNR e forças do Ministério da Administração Interna.

Outro dado interessante sobre Portugal é que 58,6% da despesa é com pessoal, pagamentos de salários. Este valor é só superado pela Itália, com 59,4%. Desde 2014 a queda do número de efetivos militares caiu 21%, uma tendência que sucedeu também noutros 11 países da NATO, mas só a Bélgica ultrapassou Portugal, com 30% menos militares em 2024 do que em 2014.

Defesa como motor económico

Além do cumprimento imediato da meta dos 2%, o ministro sublinha que este esforço é apenas o início de uma estratégia de longo prazo: “Temos de aproveitar este ciclo de investimento não só para modernizar as Forças Armadas, mas também para dinamizar a indústria nacional, atrair fundos europeus e criar emprego altamente qualificado.”

Para o governante, “o objetivo dos 5% até 2035 não é apenas um número, é a oportunidade de colocar Portugal num patamar de soberania tecnológica e industrial compatível com as exigências do nosso tempo.”

Com a execução orçamental recorde de 2024 como base e a nova orgânica já em funcionamento, o ministro sublinha que Portugal está a dar um sinal claro aos seus parceiros: “Nós reforçamos as estruturas da Defesa para estarmos à altura dos momentos históricos que vivemos e damos também um sinal aos nossos aliados, quando o que se nos pede não é coisa pouca.”

Para o governante, o caminho até aos 5% do PIB definidos pela NATO para 2035 “não pode ser visto como uma imposição externa”. Pelo contrário: “Temos de estar à altura dos tempos – e não tenho dúvidas de que vamos estar.”

Reforma estrutural para uma Defesa “mais ágil”

Nuno Melo falou ao DN à margem da cerimónia de tomada de posse dos dois diretores-gerais, em regime de substituição, das novas Direção-Geral de Armamento e Património da Defesa Nacional (DGAPDN) e Direção-Geral de Recursos Humanos da Defesa Nacional (DGRHDN), respetivamente António José de Morais Batista e o major-general piloto aviador Rui Pedro Matos Tendeiro.