Em abril, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), sobrava ainda quatro por cento de terreno cultivável e acessível em Gaza. Entretanto, após continuados ataques e bloqueios de Israel a terras de cultivo, o valor desceu para menos de metade.
Antes do conflito, Gaza era um próspero centro agrícola onde agricultores e civis palestinianos cultivavam uma grande variedade de fruta, legumes, frutos secos e cereais para consumo local.
Num território onde mais de 560 mil pessoas (um quarto da população) era total ou parcialmente sustentada pela agricultura e pesca, o setor agrícola costumava representar cerca de dez por cento da economia.
No entanto, desde o início do cerco a Gaza por Israel como resposta ao ataque do Hamas a 7 de outubro de 2023, Telavive tem-se focado em destruir fontes de alimentação, como pomares, estufas, campos agrícolas e zonas piscatórias.
Segundo a FAO, até 8 de julho de 2025 Israel já tinha danificado 86 por cento de terreno agrícola na Faixa de Gaza, o equivalente a quase 13 mil hectares.
Apesar de quase nove por cento de campos agrícolas continuarem fisicamente acessíveis, apenas 1,5 por cento escapou, até agora, aos ataques israelitas, continuando cultiváveis.
Famílias apanham comida do lixo ou arriscam a vida para obter alimentos
São já centenas os palestinianos que morreram à fome só este ano devido ao bloqueio israelita à entrada de bens essenciais no território e à destruição de terrenos férteis. “Israel construiu a mais eficiente máquina de fome que se possa imaginar”, considerou o enviado da ONU para o Direito à Comida, Michael Fakhri. “É chocante ver pessoas a passar fome, mas ninguém deve ficar surpreendido. Todas estas informações estão a ser divulgadas desde o início de 2024”.
Esta quinta-feira, o gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários alertou que o consumo de alimentos em Gaza desceu para o seu nível mais baixo desde o início da guerra, com 81 por cento das famílias a relatarem um fraco consumo de alimentos. Em abril eram 33 por cento.
“Quase nove em cada dez famílias recorreram a mecanismos de sobrevivência extremamente severos para se alimentarem, tais como correr riscos de segurança significativos para obter alimentos e apanhar comida do lixo”, afirmou o gabinete em comunicado.
Entre junho e julho, o número de internamentos por desnutrição quase duplicou, passando de 6.344 para 11.877, de acordo com os últimos dados UNICEF.ONU pede acesso humanitário seguro
“Gaza está agora à beira de uma fome em grande escala. As pessoas estão a morrer de fome não porque não haja alimentos disponíveis, mas porque o acesso está bloqueado, os sistemas agroalimentares locais entraram em colapso e as famílias já não conseguem assegurar nem os meios de subsistência mais básicos”, alertou o diretor-geral da FAO, Qu Dongyu, citado pelo Guardian.
“Precisamos urgentemente de acesso humanitário seguro e sustentado e de apoio imediato para restaurar a produção alimentar local e os meios de subsistência. Esta é a única forma de evitar mais perdas de vidas. O direito à alimentação é um direito humano básico”, acrescentou.
Só no norte de Gaza, os ataques israelitas destruíram ou deixaram danificada 94 por cento da terra mais fértil, sendo que os habitantes não têm acesso aos seis por cento que permanecem cultiváveis.
Já em Rafah, junto à fronteira com o Egito, 79 por cento do terreno foi arrasado e o restante está com o acesso bloqueado pelo corredor militar israelita.
Para os especialistas da ONU e de agências humanitárias, estes dados demonstram inequivocamente que Israel está a orquestrar uma campanha de fome em massa em Gaza, violando a lei internacional.
c/ agências