A menopausa, fase natural do envelhecimento feminino, que geralmente ocorre entre os 45 e 55 anos, vai muito além da interrupção do ciclo menstrual. As mudanças hormonais que marcam esse período, sobretudo a queda acentuada nos níveis de estrogênio, provocam impactos significativos na saúde da pele, afetando sua textura, firmeza, hidratação e viço.

Segundo estimativas do IBGE, aproximadamente 30 milhões de mulheres no Brasil estão na faixa etária do climatério e da menopausa, o que corresponde a 7,9% da população feminina. No entanto, apenas cerca de 238 mil receberam diagnóstico por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). A revista científica “Climacteric” aponta que 82% das brasileiras nessa faixa etária apresentam sintomas que afetam diretamente sua qualidade de vida.

O que provoca o ressecamento da pele? 

Samara S. Kouzak, dermatologista, especialista em dermatologia clínica e estética avançada, e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, explica que o estrogênio desempenha papel fundamental na manutenção da estrutura e função da pele.

Com a queda hormonal, há uma perda acelerada de colágeno – cerca de um terço nos primeiros cinco anos após o início da menopausa – o que provoca flacidez, afinamento da pele e o surgimento de rugas. Nos anos seguintes, esse declínio continua a uma taxa de cerca de 1 a 2% ao ano, agravando gradualmente os sinais do envelhecimento cutâneo. 

Além disso, ocorrem alterações nas fibras elásticas da pele, resultando em perda de elasticidade e aumento das rugas. A barreira cutânea torna-se mais frágil, o que reduz a capacidade da pele de reter água, contribuindo para sintomas como ressecamento, coceira, sensibilidade e redução do turgor.

Outra manifestação bastante comum são os episódios de flushing – ondas de calor intenso e vermelhidão no rosto e no pescoço – provocados por dilatação súbita dos vasos da pele.

Quais são os principais cuidados?

Para amenizar esses efeitos, Samara destaca a importância de adotar uma rotina de cuidados adaptados para essa fase da vida. “Além de alimentação balanceada, boa hidratação, prática regular de atividades físicas e sono de qualidade, é essencial contar com orientação profissional para uma rotina dermatológica personalizada. O uso de hidratantes potentes, protetor solar, antioxidantes e produtos que promovam a renovação celular pode fazer toda a diferença na manutenção da saúde e da beleza da pele”, recomenda.

Em relação à terapia de reposição hormonal (TRH), a dermatologista observa que, embora ela não seja aprovada exclusivamente para fins dermatológicos, estudos indicam que ela pode contribuir para melhorar a densidade do colágeno na derme, especialmente quando iniciada precocemente.

“Há evidências de que a TRH com estrogênio pode restaurar os níveis de colágeno e desacelerar a progressão da flacidez nos anos seguintes. No entanto, a reposição hormonal deve ser cuidadosamente indicada, considerando os antecedentes pessoais e familiares, como histórico de trombose ou câncer, que contraindicam o uso”, alerta.

Para pacientes que não podem ou não desejam fazer reposição hormonal sistêmica, alternativas tópicas como o uso géis ou cremes com estrogênio em baixas doses ou derivados vegetais (fitoestrogênios) vêm sendo estudadas.

Ainda que promissoras, essas opções carecem de evidência científica robusta para indicações dermatológicas, quando o papel da dermatologia estética cresce em importância.

Tratamentos estéticos

Samara também destaca os avanços da dermatologia estética como importantes aliados na manutenção da qualidade da pele e preservação da autoestima durante a menopausa. “Procedimentos como a aplicação de toxina botulínica para suavizar rugas, preenchimentos com ácido hialurônico para restaurar sustentação e hidratação da pele, além de bioestimuladores de colágeno injetáveis, contribuem significativamente para devolver firmeza e elasticidade à pele, não só do rosto, mas também do pescoço, colo, braços e outras áreas do corpo”, explica.

Tecnologias como lasers fracionados, ultrassom microfocado e radiofrequência são especialmente eficazes no estímulo à produção de colágeno e na melhora da espessura e sustentação da pele, combatendo a flacidez e promovendo uma aparência mais jovem e saudável.

A dermatologista reforça que o acompanhamento dermatológico é fundamental para definir as melhores estratégias de cuidado em cada caso. “A pele da mulher na menopausa merece atenção redobrada. Com orientação adequada e um plano de tratamento individualizado, é possível atravessar essa fase com autoestima, conforto e bem-estar.”